sábado, 8 de fevereiro de 2025

Trilhos seculares - Ao Fojo de Alcântara

 


Há locais na Serra do Gerês que nos impõe um certo silêncio e veneração, o Fojo de Alcântara é um deles. Esta caminhada levou-nos desde Pincães até àquelas paragens agrestes onde o granito se revolta e se despe num grito de domínio selvagem da paisagem. Ali, a Serra do Gerês toma o relevo das grandes montanhas e deixa-se revelar na sua brutalidade agreste.

Nesta caminhada, organizada por RB Hiking & Trekking, começamos manhã cedo, saindo de Pincães em direcção à sua famosa cascata seguindo o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês (GR50). Após sair da aldeia, o caminho percorre a encosta da Pala Doce até nos levar à base da Cascata de Pincães já no Vale das Traves. Voltando atrás no caminho, seguimos então de novo pela encosta da Pala Doce, encaminhando de seguinda pelas vertentes sobranceiras ao Rio do Escalheiro até passar pelo Curral de Ruivós (Roibós?). Daqui, os seculares trilhos serranos são pouco usados, mas ajudam a vencer a pendente até às imediações do Curral de Palma. Pelo caminho, fomos beneficiados pelas recentes queimadas que se fizeram por aquelas corgas e vales, caso contrário, a progressão pelo matagal que vai crescendo seria difícil. A subida até Palma é feita por um belo vale que se situa entre a Corga do Gavião e a Corga Funda.





O Curral de Palma era uma das paragens da vezeira das vacas e dos bois de Pincães. No seu livro "Aldeia de Pincães" (Julho de 2009), A. Fernando Machado R. Guimarães refere (pág. 81) sobre as vezeiras de Pincães, "existiam cinco vezeiras. A das cabras, a das ovelhas e a dos cabritos a seguir. A dos bois e das vacas iniciava-se a 1 de Maio. Depois dos trabalhos no campo, subiam para a Serra de Cima ou da Raia e aí permaneciam até 29 de Setembro. Quando regressavam, os animais vinham bem nutridos e lustrosos." 

Após uma curta paragem no Curral de Palma, seguiu-se em demanda do Fojo de Alcântara. Saindo do Curral de Talma, toma-se um caminho a Norte que um pouco mais adiante se divide em dois: continuando a Norte, iremos mergulhar no profundo vale que nos levará a descer para o Rio da Pigarreira; derivando a Nascente, vamos subir uma vertente granítica e é aqui que a paisagem toma dimensões de assombro: os altos serranos que estavam nos «escondidos» começam a elevar-se num cenário majestoso! Se caminhamos em rocha nua, granito cinza que por vezes parece quebradiço sobre os nossos pés, os altos vão-se elevando como gigantes adormecidos. Por esta altura, já subimos muito na nossa jornada, mas a cada passo que nos eleva mais, a paisagem torna-se soberba, da dimensão do nosso assombro. 





Facilmente se reconhecem os pontos mais elevados e os nossos olhos passeiam pela Roca das Pias, Iteiro d'Ovos, Rocalva e Roca Negra, Borrageiro (antena), Albas e Portas Roibas, Quinas da Arrocela, Torrinheira, Cidadelha, Outeiro do Pássaro e Penedo Redondo, esbarrando-se finalmente em Borrageiros que se eleva como um titã perante a Corga das Mestras e a Corga Mão de Carvalho.

É aqui que vemos a verdadeira essência do Parque Nacional da Peneda-Gerês; uma paisagem bruta que moldou os seus habitantes e que por eles foi moldada, criando um espaço único em Portugal. O Parque Nacional é o resultado de uma simbiose milenar e é esta simbiose que deve ser preservada.





O Fojo de Alcântara é uma estrutura secular, mas em estado de ruína avançada e que já merecia um esforço de preservação. A sua parede Poente tem um comprimento de 118,36 metros e a sua parede Nascente tem um comprimento de 134,58 metros.

Após o já merecido descanso junto das paredes centenários do Fojo de Alcântara, seguimos então em direcção a Lagoa e de seguida iniciamos o caminho em direcção a Taboucinhas descendo por Lajes de Lagoa seguindo depois para Pincães passando sobre o Cachadoiro e, novamente, pela Pala Doce.























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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