sábado, 6 de janeiro de 2024

Trilhos seculares - À Nevosa

 


Caminhada à Nevosa num excepcional dia de montanha na Serra do Gerês por paisagens e cenários únicos em todo o Parque Nacional.

A caminhada iniciou-se ao longo da Corga da Abelheira, que é uma verdadeira porta de entrada para as profundezas selvagens da Serra do Gerês, com a sua subida a levar-nos a Entre Caminhos onde nos surge um panorama de uma imensidão e grandeza só descritível para quem por ali se detém em momentos de contemplação!



O cenário que se nos depara neste ecrã panorâmico compensa o esforço de subir os quase dois quilómetros que parecem intermináveis. A sensação é a de como se estivéssemos num desenho animado japonês onde a paisagem se eleva na linha do horizonte tão próximo. Os cumes dos Cornos de Candela são os primeiros a surgir e mesmo assim não nos preparam para o que veremos nos segundos a seguir. Perante nós, afunda-se o Vale do Compadre com as suas línguas glaciares nitidamente a marcarem a paisagem. Esta pintura leva-nos desde as alturas dos Carris a passar a Nevosa, Lamelas e os Cornos de Candela, caindo na vertente do Alto do Bezerral.

A subida inicia-se por debaixo da conduta que conduz a água para a Barragem de Paradela, passando a encosta de Teixeirinha e sempre procurando a presença das cabras-montesas a espreitarem na Sesta do Carneiro ou nas Portas da Abelheira. 


Depois da subida da Corga da Abelheira e da chegada a Entre Caminhos, o percurso leva-nos por uma descida para os Currais de Biduiças e daqui, ao longo da margem direita do Ribeiro da Biduiça, seguimos em direcção ao Curral de Rochas de Matança. Já anteriormente referi que os caminhos serranos mantêm-se por onde os animais (e alguns aventureiros) ainda passam; porém, outros caminhos vão desaparecendo e apenas a presença das valiosas mariolas (não de montes de pedras colocadas ao acaso) assinalam as passagens.

Deixando o alagado abrigo pastoril de Rochas de Matança para trás, seguimos encosta acima em direcção à Matança, ladeando-a a Nascente em direcção do Marco K. Biduiças afasta-se e o vale mostra-se à luz da manhã, mas em breve esconde-se na volta da colina e a mariola bifurcada assinada a passagem para as paragens de Matança.


Olhando já as vertentes próximas das Minas dos Carris, as montanhas cobrem-se de um manto branco. A linha que separa o limite da neve é bem visível. Caminha-se pelos tímidos caminhos que nos conduzem então para as Negras com os seus currais ainda cobertos com alguma neve. Impera o silêncio por entre um nada cheio de memórias do volfrâmio. Os Currais das Negras, co os seus abrigos pastoris em forma de fornos e palas, testemunharam durante muitos anos a exploração do ouro negro por aquelas paragens, sendo hoje local de abrigo para os animais que deambulam por aquelas paragens. 

Após uma curta paragem, seguimos para um cenário de verdadeiro Inverno. Perante nós, a Garganta das Negras cobria-se de branco. Por entre o silêncio, caminha-se ao compasso da torrente que percorre a corga. A caminhada faz-se pelos velhos carreiros do contrabando, da mineração, do pastoreio, do salto para uma vida melhor. Envoltos num cenário branco que se abre à nossa passagem, o Pico da Nevosa assoma-se por entre as nuvens, indicando o destino desejado.

O Pico da Nevosa, com os seus 1546 metros de altitude, é a montanha mais alta da Serra do Gerês "e do distrito de Vila Real, bem como a montanha mais alta de toda a região norte de Portugal."

Chegados à base do Pico da Nevosa, e devido às duras condições que ali se apresentavam na parte final da subida, foi decidido não tentar atingir o seu cume que permanece lá à espera de outra oportunidade que certamente virá.

Ficam algumas fotografias do dia...


































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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