quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Divagações sobre o topónimo "Borrageiro" e "Borrageiros"

 


A existência de dois elementos na Serra do Gerês com o topónimo "Borrageiro", tem originado algumas confusões de localização nos últimos anos levando até que um deles seja nos nossos dias designado como "Borrageiros", havendo assim a uma certa diferenciação entre ambos.

Ora, o topónimo surge com diferentes designações nos últimos anos: Borrageiro, Borrageiros, Borrageirinho, Borrageirinha, Borrageira, etc. É vasta a literatura onde se podem entrar estas diferenças.

Ao consultar os mapas militares e outros (alguns neles baseados) surgem também estas diferenças. Por exemplo, na Folha 31 da Carta Militar de Portugal cujos trabalhos de campo foram realizados em 1949, surgem os topónimos Borrageiro (referente ao alto em Vilar da Veiga, Terras de Bouro), Borrageiro 1º e Borrageiro 2º (referentes a dois altos em Cabril, Montalegre). Nesta carta, curiosamente, estes dois últimos topónimos não estão associados ao maciço granítico que muitas vezes associamos ao "Borrageiro" de Cabril e que os locais designam como "Borrageiros".

Quando consultamos a Folha 31 da Carta Militar de Portugal cujos trabalhos de campo foram realizados em 1996 surgem os topónimos Borrageiro (Cabril, Montalegre) e... Borrageiro (Vilar da Veiga, Terras de Bouro). Porém, junto deste topónimo surge outro que refere "Lamas de Borrageiras"! De notar, que o topónimo "Borrageiro" em Cabril não está associado, mais uma vez, ao maciço granítico que associamos muitas vezes ao "Borrageiro" de Cabril.

Se recuarmos no tempo e consultarmos as cartas topográficas de 1899, somente surge a referência ao topónimo "Borrageira" em Vilar da Veiga, Terras de Bouro, nada surgindo no que se refere a Borrageiros em Cabril, Montalegre. Isto poderá estar associado à escala dessas cartas topográficas que surgem na escala 1:50.000.

Já as cartas dos Serviços Florestais que datarão dos anos 50 do século XX, referem a "Meda do Borrageiro", a "Borrageirinha" e o "Borrageiro 2º" - todos referentes a Cabril - e "Borrageiro" quando se refere ao alto em Vilar da Veiga (indicando ainda a "Fonte da Borrageirinha") não muito longe do Arco do Borrageiro.


No seu livro "Caldas do Gerez - Guia Thermal" (1891), Ricardo Jorge refere-se tanto ao "Borrageiro" (texto do capítulo 'A villegiatura e a serra' - "O Borrageiro (1433 m) é considerado como o pincaro de maior altitude do Gerez; só Carris já no extremo das nascentes do Homem o sobrepuja.") como à "Borrageira" (mapa anexo ao livro).

Em "Serra do Gerez" (1907), Tude Sousa refere-se tanto a "Borrageiro" - mapa - como a "Borrageira" (texto e legenda de fotografia ao indicar 'Portico monolithico da Borrageira', cap. "A Serra-Excursionismo-Clima"). Já no seu livro "Serra do Gerez - Notas biográficas, arqueológicas e históricas" (1927), Tude de Sousa refere-se a "Borrageira" (Vilar da Veiga).

Na separata "O Gerez - estancia de cura, de repouso e turismo" (1929) é referida a "Borrageira": "Os picos do Cabril atingem 1.200 metros; a chã das Abrótegas, 1.400; e o cume da Borrageira - o mais elevado de todos - ultrapassa quilómetro e meio de altitude."

Editado em 1934 pela Liga de Defesa do Gerez e escrito por Sousa Costa, "No Gerez - a Natureza e o Homem" refere o topónimo "Borrageira" (pág. 23), "Sôbre Vilar da Veiga, a olhar o vale, a espiar as montanhas fronteiras, fica, a nascente o da «Pedra Bela» e da «Calcedónia». Depois, para o norte, crescendo sempre, subindo sempre, salientam-se o das «Mesas», o do «Cabril», da «Varziela», do Pé de Cabra», atingindo o da «Borrageira», sobranceiro à «Portela do Homem», a altitude de mil e setecentos metros.

Na edição n.º 4 (Julho de 1935) da revista Latina, o jornalista Camacho Pereira refere-se a "Borrageira" no texto "A Serra!": "Toda a subida até à Borrageira é monótona, horizonte estreito de lagêdos mas ao atingir o cúme, que deslumbramento!"

No livro "Gerez (Quadros e canções)" (1939) de Matias Lima é referido o topónimo "Borrageira" de novo quando se refere ao alto em Vilar da Veiga.

Celestino Maia, no seu livro "O Gerês e as suas termas" (1947) refere-se à "Borrageira" (pág. 40 e pág. 45) quando fala do alto em Vilar da Veiga.

Curiosamente, o pedido de concessão da Mina de Borrageiros que data de 18 de Setembro de 1916, refere o "sítio denominado dos Borrageiros" e "alto dos Borrageiros".

São várias e inúmeras as diferentes referências a ambos os topónimos ("Borrageiro" e "Borrageira") na literatura existente sobre a Serra do Gerês. 

Assim, como irei tentar diferenciar estes pontos? Ao referir-me ao alto em Vilar da Veiga, indico "Borrageiro" ou "Borrageira". Ao referir-me ao maciço granítico em Cabril, "Meda de Borrageiros"; à área em torno da Meda de Borrageiros, refiro "Borrageiros"; à pequena mina lá existente: "Mina de Borrageiros".

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

Bargao_Henriques disse...

Excelente resumo histórico da evolução destes topónimos!
Desconhecia a sua complexidade e variações históricas.
Pessoalmente sou defensor da utilização dos topónimos originais, antigos, quando houver alguma certeza sobre a sua justeza e quando a evolução do local não justifique sem dúvidas a sua evolução.
Alterar nomes antigos e cheios de história e tradição apenas para usar outros mais fáceis ou apelativos, como se vê acontecer em alguns locais do PNPG, é um erro crasso e que, infelizmente, por vezes poderá perdurar...