Já por várias vezes percorri este percurso, mas desta vez decidi fazê-lo no sentido que está aconselhado na placa de início de percurso, isto é, descer às Caldas do Gerês e a partir daqui enveredar encosta acima até à Pedra Bela. Sempre havia descido por esta encosta, chegando à Carona e descendo para a vila, e sempre tive a intenção de fazer o percurso a subir pois, se no sentido inverso é já um teste à capacidade aeróbica, o sentido aconselhado põe à prova todo o corpo e a nossa resiliência.
Segundo a informação do sítio do Município de Terras de Bouro, "...o Trilho dos Currais proporciona um contacto direto com o espírito e tradições comunitárias locais, a partir da organização silvo-pastoril na forma de vezeira. Esta prática comunitária, peculiar da Serra do Gerês, decorre de maio a setembro, sendo o gado bovino da comunidade encaminhado pelos caminhos carreteiros até à serra alta, onde se situam os currais. Os vezeiros – proprietários do gado – acompanham durante dias ou semanas o gado consoante o número de cabeças que possuem, transportando os utensílios para a alimentação e estadia nas cabanas dos currais.
A manutenção destas estruturas comunitárias é assegurada anualmente. Todos os anos, previamente à subida do gado para a serra, no dia dos cubais, os proprietários limpam os caminhos carreteiros, arranjam as cabanas e as fontes."
Do todos os abrigos pastoris, o abrigo existente no Curral da Espinheira encontra-se alagado, isto é, destruído com a sua cúpula colapsada.
Na sua totalidade o percurso está bem assinalado, havendo um especial cuidado na descida a partir do Curral da Lomba do Vidoeiro.
Para prolongar um pouco mais a duração da jornada, decidi abandonar o traçado do PR3 no Curral da Lomda do Vidoeiro e seguir em direcção ao Laspedo, passando pelo Penedo Castelejo e Poço Verde. O Laspedo dá-nos uma panorâmica singular sobre o Vale do Rio Gerês na sua metade inferior quando se despenha na albufeira da Barragem da Caniçada desde as Caldas do Gerês. O vale, abre-se aos nossos pés assentes num caos granítico com fraguedos esculpidos durante séculos e séculos pelos elementos que tornaram aquele lugar num ponto único na Serra do Gerês. Sobranceiro à Corga da Figueira, abre-se perante nós a imensidão dos vales profundos e a vertigem das alturas mergulhadas num silêncio onde os falsetes do nosso espírito traçam poucos limites para os horizontes que dali vislumbramos.
Deixando as formas rudes e caóticas do Laspedo para trás, segui em direcção ao Cabeço da Boca do Sucro, ladeando-o pela esquerda e entrando num maravilhoso passadiço natural suspenso sobre a Corga da Figueira. O estreito caminho vai ladear o Junco e abre-nos as portas para o imenso Pé de Salgueiro que surge na vigília ao Vale de Teixeira. Se o Pé de Cabril até ali encimava a paisagem, agora o Pé de Salgueiro toma a opulência das grandes vertentes graníticas e transmuta-se no guardião dos segredos do vale onde agora entro.
Passando o Vale da Boca do Sucro e descendo à margem direita da Ribeira da Teixeira (ou Rio do Camalhão/Cambalhão) - que irá tomar vários nomes até se decidir por 'Arado' - atravesso o curdo de água já depois de deixar de vislumbrar o Curral de Camalhão e sigo para o Curral de Teixeira onde me esperava um mergulho «refrescante». Após um já merecido descanso, tomei o caminho de regresso ao Curral da Lomba de Vidoeiro e segui o traçado do Trilho dos Currais até ao ponto de partida.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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