quarta-feira, 9 de junho de 2021

Ao alto da Serra Amarela

 


Contraforte da Serra do Gerês, a Serra Amarela impressiona pela sua rudeza e pelas suas encostas que podem ser cruéis com o montanhista ou visitante mais desprevenido. Por outro lado, tem uma beleza ímpar e esconde os seus mistérios, podendo por vezes escutar-se o lamento de Vilarinho da Furna.

Esta caminhada foi iniciada um pouco tarde, tendo a sorte de na maior parte do trajecto - ou pelo menos até por voltas das 13:00 - ser acompanhado e brindado com uma brisa que, quando cessava, fazia adivinhar toda a força inclemente de uma bola de fogo que me perseguia a cada passo. Na Serra Amarela é fundamental: ou conhecer os pontos de água ou transportar uma boa quantidade de água, principalmente nos dias de Julho e Agosto, quando as nascentes e as fontes escasseiam.

Iniciei o percurso seguindo traçado da GR 34 Grande Rota da Serra Amarela junto da Barragem de Vilarinho das Furnas em direcção às Casarotas. A costa que iniciamos não é fácil e põe à prova a capacidade cardíaca logo nos primeiros 2 km do percurso. O Peito de Gemesura não é para ser desafiado de duvidamos da montanha, pois ela irá, mais cedo ou mais tarde, cobrar o desafio.

Subindo em curvas ou por vezes num demoníaco festo, o caminho vai-nos fazer ganhar altitude à medida que a paisagem se afunda atrás de nós e os horizontes se alargam para as serranias do Gerês. Por outro lado, a vertentes atrevidas e alcantiladas das profundas corgas vão-nos levando para um cenário de grandes montanhas. À medida que vamos subindo, a Corga de Gemesura encrispa-se, a serra ganha corpo e a albufeira torna-se num grande lago que desejamos mergulhar a cada pingo de suor.

A primeira grande subida vai terminar no Couto da Aguieira que nos permite um cenário em contra-luz para a Serra do Gerês. À nossa esquerda, elevam-se os altos da Amarela e afundam-se em medonhas corgas que abrigavam Vilarinho da Furna, lá no fundo! Aqui, o caminho vai-nos dar tréguas e desce para a Chã de Baixo (Chão de Baixo), antes de iniciar a subida pela Lomba do Alto para Chã de Cima (Chão de Cima) e empinar-se de novo para a Chã de Mimpereira (Chão de Mimpereira).

Em Chã de Mimpereira encontramos as enigmáticas Casarotas, velhas construções que algumas teorias apontam como sento antigos postos de vigia da quase invisível (daquele ponto) Geira Romana ou os restos de uma velha branda, memória de transumâncias de outros tempos. Até este ponto segui o traçado da GR34 que aqui deixo para me dirigir na direcção do Fojo do Lobo de Vilarinho da Furna, testemunho da eterna luta entre Homem e Lobo, e depois prosseguir para a Chã do Muro ladeando o Alto do Velho Tojo.

Esta parte do percurso é fácil e, mesmo não havendo marcações de GR ou PR, torna-se instintiva a prossecução do caminho assinalado com mariolas. De assinalar que até este ponto na caminhada não havia encontrado qualquer ponto de água e que a nascente existente na área do fojo do lobo estava já imprópria para consumo.

Na Chã do Muro volto a encontrar as marcações da GR34 que subindo para o Couto do Muro vai passar pelo topo da Encosta dos Colados de Araújo, acima do Colado de Araújo e até ao Alto da Casa da Feira e Louriça, o ponto mais elevado da Serra Amarela. Plantado com várias antenas de comunicações e com vários edifícios de apoio, a sombra que estes proporcionam é já muito agradável ao Sol que aquece a paisagem.

Neste ponto, e olhando a Norte, apruma-se a imensa Serra do Soajo até perder de vista e notam-se os recortes graníticos da Serra da Peneda. Ainda sendo um pouco cedo, decidi prosseguir a caminhada até ao Curral de Ramisquedo, onde iria parar para descansar e retemperar forças.

O percurso vai prosseguir pela Chã da Fonte e daqui dirige-se pela Encosta de Ramisquedo, com a vegetação já um pouco alta, mas nunca a dificultar a progressão, e baixa para a Chã de Ramisquedo onde se encontra o Curral de Ramisquedo. A sombra dos carvalhos juntamente com a brisa que corria e lambia a pele, foi o local perfeito e o alívio necessário para um Sol que era já inclemente às 13:00. Foi na Chã de Ramisquedo que finalmente pude abastecer de água, pois o ribeiro na Chã da Fonte estava já pejado de dejectos dos animais que por ali pastavam e procuravam o alívio do calor.

A GR34 vai prosseguindo para o Fragão (ponto de água) e depois para a Chã de Porto Covo, seguindo entre a Nascente dos Penedos do Carvalhal Branco (Corga do Estrêlo) e a Chã de Toutas, e flectindo no topo das Colmeias do Galante, vai prosseguir pelo Peito do Chão da Fonte e baixar para as Pardelhas e Porto do Carvalhal, já «nas traseiras» de Vilarinho da Furna. Junto da aldeia afundada tomamos o estradão florestal que nos leva de volta ao nosso ponto de partida.

Foi um percurso de pouco mais de 16 km com um acumulado positivo de 1.123 m.

Ficam algumas fotografias do dia...




































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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