segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Trilhos seculares - "Só se lembra dos caminhos velhos, quem tem saudades da terra"


A minha ideia era a de chegar às Minas dos Carris indo pela Corga da Abelheira e depois pela Lamalonga. No entanto, a ameaça de ter horizontes custos demais devido ao nevoeiro e às nuvens baixas, fez-me decidir por um percurso mais curto tanto a nível de tempo como de distância a percorrer. Sabia que a neve estava lá para os altos, mas a espera irá compensar!

Assim, escolhi os terrenos do Mourinho para a minha primeira caminhada de 2016. Esta é uma zona já bem conhecida, mas que ainda guarda alguns segredos e muitas vezes estes segredos vão-se revelando com o mudar da paisagem. Por aquelas bandas ainda se escondem alguns locais míticos, tais como o Curral Velho e o Curral de Bemposta. Se a localização deste último poderá ser mais ou menos fácil de descortinar, o Curral Velho permanece escondido pelas encostas da Varziela (Bargiela) ou pelos matos cerrados da Albergaria. Chegará o dia!

Este é um bom percurso para uma manhã. Permite-nos passar por zonas que nos fazem lembrar o Gerês desnudo de vegetação, por zonas de vegetação rasteira e por pequenos bosques. Por outro lado, levam-nos a ver a albufeira de Vilarinho da Furna entre a Portela do Confurco e a Corga do Mourinho; o lado nascente do Vale de Leonte descendo para a Albergaria; os píncaros serranos do Borrageiro, Pé de Salgueiro, Pé de Medela e Cantarelo, além do Pé de Cabril; e vislumbrar a Serra Amarela em todo o seu esplendor.

O percurso inicia-se junto da Casa Florestal da Portela de Leonte, seguindo-se depois pelo estradão que se inicia junto do monumento de Artur Loureiro. Percorrendo o caminho, logo pouco depois, temos uma bela vista sobre o Curral de S. João do Campo (ou Curral de Leonte de Cima) enquadrado ao fundo pelo Pé de Medela. Prosseguindo pelo estradão, vamos encontrar mais adiante (lado esquerdo) umas mariolas que nos levam a passar por uma antiga calçada portuguesa (memórias dos povos de Vilarinho da Furna) e chegar à Portela do Confurco. Aqui, uma placa indica-nos duas opções: à esquerda, seguimos para o Pé de Cabril; à direita, seguimos para Varziela. Vamos optar por esta segunda opção, mas antes é sempre agradável subir até ao topo deste colo e contemplar a paisagem que se nos depara adiante. (Uma outra opção seria também descer a corga que está diante de nós, a Quelha Direita, que nos levaria até à Bouça da Mó). Esta era uma zona onde em tempos se faziam batidas às corças, costume felizmente abandonado pelas gentes locais... pelo menos pela maioria!!!



Tomamos então o carreiro em direcção à Varziela. Nesta altura o nevoeiro sobre pela Quelha Direita e apesar de se conseguir vislumbrar as águas da albufeira lá ao fundo, o espigão do Pé de Cabril está encoberto, bem como o Cancelo onde se chegará mais adiante depois de passar as Portelas da Quelha Direita. O carreiro está bem marcado com mariolas graças aos trabalhos em tempos levados a cabo pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês na abertura de alguns caminhos serranos. Depois de passarmos o Cancelo, vamos atingir uma chã e daqui vamos começar a descer para a Corga do Mourinho. Porém, antes de chegarmos a esta corga, encontramos à nossa esquerda o velho Curral do Mourinho com o seu forno bem conservado. A visita a este local vale a pena o pequeno desvio.

Regressando ao percurso, vamos chegar mais adiante a uma verdadeira varanda granítica sobre a albufeira de Vilarinho da Furna onde podemos apreciar a fantástica paisagem que se nos depara aos nossos pés. Deste ponto, sai um carreiro que nos levaria ao Prado Marelo, mas iremos prosseguir em direcção ao Curral de Varziela passando pelo topo da Corga do Mourinho ao qual em tempos se chegava por um outro carreiro agora escondido pela vegetação e que se iniciava junto de um desvio ao estradão florestal no qual começamos o percurso.

O carreiro vai-nos agora levar por lajes graníticas, pequenos bosques e a atravessar pequenos regatos, até começarmos a descer para o Curral de Varziela com o seu antigo forno já alagado. Mais uma vez vamo-nos deparar com duas opções, podendo seguir em direcção à Costa de Varziela e depis descer para a Mata de Albergaria, ou então seguir à nossa direita, indo em direcção à Ponte do Rio Maceira e depois Portela de Leonte. Decidi seguir por esta segunda opção, mas já no final, e perto da estrada, segui pelo que resta de um antigo percurso que me levou a encontrar mais adiante o que resta do primitivo caminho florestal que seguia para a Portela do Homem antes da abertura da actual estrada nos anos 40 do século XX. Esta descida permite-nos uma ampla visão do Vale de Leonte à medida que cai para a Mata de Albergaria. O som das quedas de água é constante e aos poucos vai aumentando o rugido do Rio Maceira no fundo vale. Nesta altura do ano, e com os dias chuvosos, surgem mágicas quedas de água que irão desaparecer em dias mais amenos (quem vai ao Gerês ver cascatas no Verão, deveria visitá-lo por estes dias!). No limite da serra lá estão o Cantarelo, o Pé de Medela e os Carris de Maceira cujas encostas escondem o Alto da Corneda.

Em relação aos segredos: penso ter descoberto onde se encontra o Curral de Bemposta, mas esta aventura fica para outra altura, pois "só se lembra dos caminhos velhos, quem tem saudades da terra"!

Algumas fotografias da jornada...





















































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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