quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Villegiatura e a Serra (XII)

Em 1891 era editado o livro "Caldas do Gerez - Guia Thermal" da autoria de Ricardo Jorge. Esta obra aborda vários temas relacionados com o termalismo geresiano, as suas águas termo-medicinais, a sua acção hidro-termal, a clínia hidrotermal, etc. Um dos capítulos mais interessantes está relacionado com a denominada "villegiatura", isto é a "temporada que se passa fora da terra, a banhos, no campo ou viajando, para descansar dos trabalhos habituais."


Assim, Ricardo Jorge fala-nos de paisagens conhecidas e das sensações que elas proporcionam...

O texto transcrito abaixo é mantido na sua forma original e com o português que era escrito em finais do Século XIX.

A Villegiatura e a Serra, por Ricardo Jorge

"(...)

Das Caldas á Ponte-Feia pela Geira. Contorce-se a estrada florestal pela falda d'oeste, rodeando o monte da Pereira até ao planalto da Chã de Lamas. De caminho relances de vistas magníficas sobre o valle.

Da Chã quem se desviar para a direita sobe ao Cabeço da Pereira, - o melhor panorama das Caldas, que d'aqui se afigura uma villa. Para a esquerda uma vereda que conduz a um curral de gado e a uma matta frondosa de carvalhos e escalheiros, sobrepujada pelo pincaro da Calcedonia; rsetos de construções romanas, reliquias de ceramica e uma gruta talhada entre dois fragões gigantescos. Quem se atrever a galgal-a, chega ao pinaculo; panorama da vertente sul do Cavado, da serra da Cabreira, dos cumes do Borrageiro, Rocalva, e a poente as aldeias de Covide e Carvalheira.

A partir da Chã, a via declina rapido até á planura cultivada de S. João do Campo; á entrada um crucifixo, sob um alpendre, em cima d'uma peanha feita d'um marco romano.

O caminho florestal entronca com a Geira que vem de Covide, e passa a distancia de S. João do Campo e Villarinho das Furnas. Para visitar as duas aldeias muito pittorescas sobretudo a ultima, é preciso fazer o desvio pelos atalhos que lá conduzem, atravessando as pontes d'arco lançadas sobre os rios que banham os dois povoados.

A Geira ondeia pelo alto, passando proximo das ruinas d'uma Fabrica de vidros, destruida por odio aos francezes que a levantaram, na occasião da guerra peninsular. Ainda hoje possuem amadores exemplares dos seus productos; e é fácil por lá encontrar escorias vitreas. Defronte de Villarinho depara-se um dos mais bastos e variados macissos florestaes, o da Bargiella.

A Geira conduz á Albergaria, atravessando os rios do Forno e de Leonte , e margina o Homem até á Portella; das tres pontes restam apenas os pégões.

Estas duas excursões inolvidáveis podem fazer-se no mesmo dia, indo por Leonte e voltando pela Chã de Lamas.

(...)"

Fotografia: © Cedida por Paulo Figueiredo

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