quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Proposta para um 'PR - Trilho das Minas dos Carris'

Carris, anos 50

Após ter consultado o mapa indicado relativamente aos pontos de interesse no interior do Parque Nacional da Peneda-Gerês, e tal como já foi referido num comentário a uma entrada anterior, o complexo mineiro das Minas dos Carris não constam na lista desses mesmos pontos de interesse. Por um lado esta situação não me espanta pois já por várias vezes escutei os comentários de funcionários do parque nacional relativamente àquele local. Por outro lado, espanta-me de o parque nacional deixar de fora um excelente exemplar de arqueologia industrial dentro do seu território. É assim quase que uma prova de que as Minas dos Carris são território maldito e zona proibida, como que se alguém quisesse a toda a força deixar esquecer a memória daquele local.

Para uma pessoa atenta a resposta à seguinte questão é muito fácil: qual é o local dentro da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês ao qual não é possível aceder por automóvel que recebe mais visitas por ano mesmo estando até agora com o acesso interdito pelo caminho mais percorrido? Parece-me que a resposta é simples!

Mesmo assim, insiste-se em deixar a história das Minas dos Carris fora dos possíveis roteiros e trilhos que poderão no futuro ser aconselhados! Porque podem ter a certeza de que aquele trilho irá agora receber mais visitas do que nunca, mas as pessoas irão continuar a perguntar que local é aquele? Como surgiu? O que se fazia lá? O que eram aqueles edifícios? Como se trabalhava? Como tudo acabou? São estas as perguntas que muitas pessoas me fazem, mas para o Parque Nacional da Peneda-Gerês estas perguntas não existem pois não se pode perguntar sobre algo que não existe... pelo menos para o nosso único parque nacional.

As Minas dos Carris fazem parte da história mais recente da Serra do Gerês e como tal não se pode apagar ou reescrever a história. O Parque Nacional da Peneda-Gerês já cometeu inúmeros erros ao deixar que o complexo mineiro se degradasse da forma como hoje o encontramos, descaracterizando por completo a paisagem de montanha com edifícios em ruínas e fontes de poluição que continuam a ser ignoradas.

Acredito que para um entidade cujos fundos sejam extremamente limitados (...) sejam de baixa prioridade a recuperação daquele local, nem é isso que se propõe. Porém, agora que o fluxo de visitantes possa aumentar de forma exponencial é urgente algo se fazer.

A pergunta impõe-se: 'Porque não criar um trilho de pequena rota (PR) sinalizado pelo Vale do Alto Homem e Minas dos Carris?' É esta a pergunta que irei fazer no dia 18 de Novembro quando o POPNPG for apresentado nas Caldas do Gerês. Os benefícios da criação deste trilho são muitos: evita-se que os visitantes possam andar por zonas sensíveis; evita-se o perigo do poço e entrada das minas; toma-se conhecimento da história do local; toma-se conhecimento da paisagem única de alta montanha; etc.

A meu ver, e nesta fase, será talvez a falta de vontade que impede a criação deste trilho que iniciado junto da ponte sobre o Rio Homem levaria o visitante ao longo do antigo estradão de acesso às minas, permitiria uma visita 'guiada' pelas ruínas e o faria regressar pelo mesmo estradão.

Não se pode deixar esquecer a história da Serra do Gerês, as suas peculiaridades, os seus mistérios e nesta história as Minas dos Carris (e talvez outras zonas mineiras do Gerês) deverão ter um papel importante.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

10 comentários:

MEDRONHO disse...

é estranho esse teu pedido, já que até à bem pouco tempo foste contra as "enchentes" no PNPG...Ainda bem que mudaste.
Eu até ia mais longe, além do PR até às minas, também a construção de uma refúgio de montanha.

p.s.: vamos abrir o PNPG a novas gentes. O que é bonito de se ver, tem que ser pra todos, e grátis.

ex: olhemos para os parques naturais de Espanha...

Rui C. Barbosa disse...

Viva Medronho,

Fui e sou contra as enchentes no PNPG. Ver grupos de 30 ou 40 pessoas a caminhar pela serra mete-me um pouco de confusão principalmente quando sabemos que esses grupos poderão andar por lá um pouco clandestinos. Posso-te referir um caso de a certa altura ter encontrado um grupo com 50 pessoas a caminho de Pitões das Júnias que se fazia escutar quando estavam na Garganta das Negras e eu a subir para a Nevosa.

Por outro lado, e com esta 'abertura' do PNPG, o possível PR servirá, como referi, para colocar a zona das Minas dos Carris no referencial histórico que merece e por outro controlar o próprio acesso ao local de forma a evitar acidentes. Eu sou de opinião de que o PNPG deveria sempre saber quem, quando, onde e como é que as pessoas andam nas serras, quanto mais não seja por uma questão de segurança das mesmas.

A ideia do refúgio é já antiga e já se falou muito nisso, agora para uma entidade que nem dinheiro tem para mandar as próprias viaturas ao mecânico, parece-me que esse refúgio não seja uma prioridade.

Sem dúvida que o PNPG tem de ser aberto. Como disse o director não faz muito sentido termos zonas de conservação fechadas nas quais ninguém possa ver o que lá se passas. Por outro lado, isto é sempre uma faca de dois gumes pois um PN deve ter essas zonas nas quais a Natureza se possa desenvolver sem intervenção humana. Existem muitos parques nacionais onde isto se passas. O grande problema do PNPG é a existência de núcleos de ocupação humana no interior da sua área e a esses núcleos foram feitas promessas que nunca foram cumpridas, daí a eterna aversão ao parque nacional.

Parece-me que este POPNPG só vem colocar no papel o que de facto já se passava no terreno onde de forma geral o parque nacional não tinha a capacidade de controlar todo o seu território. 'Despenalizando' certas actividades, estas deixam de ser um problema e assim deixa de ser necessária uma fiscalização, podendo os recursos ser canalizados para outras áreas. Lembro-me a quando do primeiro POPNPG surgir a problemática do campismo selvagem. O PNPG sabia onde este ocorria com maior frequência na Serra do Gerês (Teixeira, por exemplo) e na altura surgiu a ideia de se criar zonas de campismo autorizado nas áreas onde se sabia que o pessoal costumava acampar. Isto fazia com que o campismo naquelas zonas deixasse de ser ilegal e desaparecia assim este problema, porque simplesmente o PN não tinha pessoal suficiente para fiscalizar a situação.

MEDRONHO disse...

Concordo ctg...

Quanto ao refúgio: com a "abertura" do PNPG aos "nórdicos" (não se fala em espanhois nem franceses....estranho!) e eles costumados a terem refúgios como apoio, mais dia menos dia lá teremos um (e espero que seja na zona dos Carris - única razão pq é mais alto e já tem acesso(s)). Se vai ser com $$ do ICN ou de privados (aposto mais nestes, mas aí já não será um "simples" refúgio. será mais um ao estilo do Refúgio hotel Aliva (picos da europa).

Aguardemos.

p.s.: quanto ao ICN saber por onde vamos...tem o seu quê

p.s.: o PNPG tal e qual o conhecemos foi moldado pela acção do Homem (pastores)- e gostamos (mt) dele assim.

Rui C. Barbosa disse...

Infelizmente essa acção do homem talvez tenha trazido mais aspectos negativos do que positivos. Lembro os escritos de Ricardo Jorge de 1891 na sua obra "Caldas do Gerez - Guia Thermal": "Em 1888, o ministro das obras públicas d'então o conselheiro Emygdio Navarro assumia para o Estado a posse da serra, abandonada até então ao vandalismo ignaro dos povos gerezianos, e installava nas Caldas um posto florestal que tem procedido com lauvavel zêlo á conservação e replantação das mattas, apezar das investidas barbaras da populaça."

Carlos Manta Oliveira disse...

100% com a ideia de um PR "oficial" (na práctica o PR já existe, não tem é marcações oficiais, mas nem precisa.
E a ideia de um refúgio, como o dos Celtas do Minho é excelente.

Rui C. Barbosa disse...

Não, não existe. De acordo com o POPNPG ainda em vigor o acesso às Minas dos carris pelo Vale do Alto Homem viola a ZPT, como tal não existe.

E certamente que são necessárias as marcações; eu quando percorro um trilho gosto de saber por onde estou a passar e para onde estou a olhar. A maior parte das pessoas que visitam as Minas dos carris não fazem a ideia por onde estão a passar nem muito menos para onde estão a olhar.

DuK disse...

Estamos a passar do 8 ao 80 (ou vice versa), da ditadura à anarquia... nem sei bem o que vai ser pior.
Agrada-me a ideia de poder caminhar livremente mas a ideia de ter mais do que 5/8/10 pessoas em grupo deixa antever um enorme impacto conforme o Rui exemplifica atras.

João Pereira disse...

Olá,

Realmente a mim também me faz confusão a existência de 'enchentes' desse tamanho (quase urbanas) num sítio como o PNPG, onde se deve priveligiar a quietude e a apreciação do mundo natural, não propriamente as vozes das pessoas e da sua agitação a ecoar nos vales....
Mas de qualquer maneira seria muito positivo que se criasse o tal PR. As pessoas, tendo mais consciência daquilo que estão a ver, percebem mais o porquê de o conservarem e têm geralmente mais cuidados. Além de finalmente ser dada a importância que lhe é devida, às Minas dos Carris,sempre existirá menos degradação e mais atenção dada às minas e à sua conservação. Seria fácil também controlar o número de pessoas nos grupos que partem da Portela do Homem.

É verdade que a ideia do refúgio de montanha é muito boa, mas enquanto o ICNB tiver o mesmo apoio financeiro que tem tido, não me parece que isso vá alguma vez acontecer.

Cumprimentos do www.ninhodeobservacoes.blogspot.com

ZeCarlosM disse...

Subscrevo o pavor de ver enchentes a deambular pelo PNPG.
Mas creio que todos conhecem os Picos de Europa...ou Gredos, onde existem trilhos bem definidos e abrigos. Desta forma concentram-se os meios de vigia nestes locais.

Quanto aos abrigos podem e devem ser uma realidade... (quem se lembra da casa do Académico?). Podem tambem eles fazer parte de trilhos mais longos, com a presença de guardas... tal como Cabana Verónica e o falecido Mariano! Os Carris seriam efectivamente um excelente local, conciliando a memória industrial com o apoio de montanha....agora Aliva.. não seria um bom modelo mesmo no coração do Parque!

Sempre a caminho!

É um facto que os montanheiros e pesudo montanheiros circulam a seu belo prazer no PNPG... Vamos assumir e criar regras de utilização que protegam a nossa SERRA!

Fpereira disse...

Gostei particularmente deste post por tocar num ponto que venho percebendo ser da maior importância: a lavagem de memória como instrumento de proteccionismo fajuto. Tanto neste caso das Minas como no caso dos locais de escalada.
Como praticante de escalada sinto-me particularmente afectado, porquanto à força do proibicionismo trapalhão e desproporcionado se pretendem apagar da memória as escaladas, mais ou menos ousadas, mas todas elas de valor cultural e histórico que as administrações do PNPG vêm tentando apagar e ignorar, impedindo a sua repetição com pavor de que se sigam "hordas de visitantes selvagens". Como o tempo provou, as escalada nestas paragens tem os seus próprios filtros naturais e pouca atractividade a hordas. (as tais hordas que por outro lado, contrabalançam "financeiramente" o "prejuízo ambiental").
Não percamos a memória por mais que nos tentem impor vendas e nos acenem com rebuçados.