segunda-feira, 29 de julho de 2024

Aspectos da vida social nas Minas dos Carris em 1951

 


A Sociedade das Minas do Gerez, Lda. foi a terceira empresa a laborar nas Minas dos Carris depois da Domingos da Silva, Lda. e da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.

Constituída a 8 de Julho de 1950, a Sociedade das Minas do Gerez é inicialmente constituída por capitais totalmente portugueses tendo quatro sócios, nomeadamente, José Antunes Inácio (de Lisboa), José Rodrigues de Sousa (de Lisboa), José Pinto Carvalheira (Ourondo, Covilhã) e Francisco Delgado França, também conhecido por ‘Chico França’. Iniciando a sua actividade a 1 de Julho de 1950 e com sede na vila do Gerês, esta sociedade é criada com o objectivo de levar a cabo e desenvolver a exploração mineira nas concessões já existentes na Serra do Gerês e que se encontravam de facto abandonadas desde o final da Segunda Guerra Mundial. O seu capital social era de 800.000$00 repartido por quatro quotas iguais no valor de 200.000$00 cada. Em constituição, a gestão da sociedade foi atribuída aos quatro sócios, mas nas relações com o Estado a sociedade era representada por José Inácio. A escritura da constituição da sociedade é apresentada a 23 de Setembro e a sua constituição é publicada no Diário do Governo de 15 de Julho de 1950.

Mais tarde a sociedade teria a participação da empresa inglesa ‘Mason And Barry, Ltd.‘ com a qual José Rodrigues de Sousa trabalhara nas Minas de Trancoso. José Rodrigues de Sousa já tinha trabalhado na Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. através da Empresa Mineira Lisbonense, durante os anos 40.

Através da troca de correio electrónico com Carlos Sousa, foi possível ter conhecimento dos pensamentos de José Rodrigues de Sousa relativamente aos trabalhos que esta sociedade realizou naquelas concessões mineiras. A Sociedade das Minas do Gerez terá sido a primeira a organizar a concessão como uma mina no verdadeiro sentido da palavra por duas razões: o filão de volfrâmio passou a ser mais profundo deixando de ser uma mina a céu aberto, o que exigia uma organização e técnica muito mais sofisticada; e José Rodrigues de Sousa queria ter uma mina tecnicamente evoluída e uma aldeia mineira socialmente bem organizada. Curiosamente este último aspecto foi referido a Carlos Sousa por José Inácio, como sendo uma crítica ao mesmo.

Segundo Carlos Sousa, “…a mina de volfrâmio dos anos 40 era constituída por uma lavaria / separadora alimentada por centenas de «apanhistas» que vendiam à mina o volfrâmio que recolhiam das explorações a céu aberto.” Nesta altura não existiam preocupações sociais, uma leve organização e maquinaria básica com intuito de ganhar o máximo lucro possível. Ainda segundo Carlos Sousa, “Por outro lado, as Minas dos Carris dos anos 50 já tinham uma vida organizada e do ponto de vista técnico a maquinaria era muito boa.” Esta maquinaria terá sido toda retirada e roubada por um dos últimos sócios da mina nos anos 70. Segundo Virgílio de Brito Murta, a partir de 1954 “aumentou-se a altura do paredão da barragem, aumentou-se a Secção Técnica, aumentou-se a serralharia, instalou-se a secção de escolha manual na lavaria, instalou-se a secção de flutuação e cobriu-se o trajecto da mina à lavaria construindo-se ao mesmo tempo a oficina de afiação de brocas e reparação de martelos bem como o escritório do Encarregado, junto à boca da mina. O resto já existia.”

Assim, o complexo mineiro dos Carris constituía uma (ou mais uma) pequena aldeia na Serra do Gerês com as suas vicissitudes do dia-à-dia nas relações pessoais e sociais.















Baseado num texto extraído de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)


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