quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O património perdido da Peneda-Gerês (o abrigo suspenso no Vale do Cando)

 


Há alguns anos, dentro da longevidade deste blogue, fiz uma série de publicações com o título genérico "O património perdido da Peneda-Gerês" onde abordava o abandono das Casa Florestais dentro ou próximo dos limites do território do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Neste conjunto de publicações identifiquei e localizei cerca de 50 casa florestais, das quais 45 - ou perto disso - estavam em completo abandono ou ruína. Na altura, os parâmetros dessa série de publicações eram muito limitados, pois o património perdido é vastamente superior ao edificado nas casas florestais.

Quando se tenta falar num Parque Nacional selvagem, também se coloca uma série de parâmetros muito restritos que limitam muito a presença do Homem nestas serranias. É certo que haverão zonas onde a marca da passagem do Homem é muito limitada, como, por exemplo, nas profundezas da Mata do Cabril e no Ramiscal. Porém, mesmo nestes locais, uma busca atenta irá encontrar construções que atestam a presença, mais ou menos prolongada, do Homem naqueles locais.

Ao cruzar os carreiros esquecidos por entre as serranias, muitas vezes não reparamos num amontoado de rochas que «por ali sempre esteve» e que teimosamente nos escapa à curiosidade. Outras vezes, são as ruínas esquecidas de vivências por entre os bosques; ruínas que em tempos serviram de casa ou abrigo às povoações que durante séculos (séculos!) lutaram por (sobre)viver no território que muitos querem transformar num laboratório fechado numa redoma sem ter em conta que o Homem é um elemento da engrenagem que, a bem ou a mal, a foi moldando e oleando.

Recentemente, ao cruzar as encostas do Vale do Cando e apreciando a imensidão dos espaços entre a Roca Negra e a Rocalva - mergulhando na profundidade do vazio que se abria perante mim - deparei-me com a forma peculiar de um desses amontados de rochas. A sua disposição era característica de um abrigo pastoril alagado pelo passar dos anos, porém a vegetação tinha a preguiça de o cobrir. A sua localização não deixa de ser estranha, pois não se encontra numa zona plana de pastagem que lhe daria uma utilidade evidente.

Como esta possível ruína, existem dezenas, centenas de locais entre o Planalto de Castro Laboreiro e a Mourela, por entre as serranias da Peneda, os montes arredondados do Soajo, os estranhos granitos da Amarela e a grandeza do Gerês. Este é o património perdido da Peneda-Gerês, um trabalho por fazer num Parque Nacional que só estuda, e interessa, pelo que está à vista...






Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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