Um dos meus grandes interesses em aprofundar a História da Serra do Gerês é a busca e o conhecimento da sua toponímia.
Por vezes alterada ao longo dos anos, os nomes dos lugares e das zonas da Serra do Gerês ajudam-nos a perceber a sua História. Por diversos factores, vários topónimos vão-se perdendo e outros ficam quase esquecidos. Porém, de quando em vez, surge à luz do dia uma designação, um topónimo, que esteve esquecido, mas cuja localização poderá ajudar a completar este maravilhoso ‘puzzle’ que é a geresiana serra.
Um destes topónimos é 'Cabeço de Cinzeiros' ou 'Cabeça de Cinzeiros'. A sua localização estará algures pela Costa do Morujal perto da Chã de Carvalho ou do Vidoal. Admito, no entanto, que esta possa ser a deturpação de alguma designação mais conhecida.
Será que alguém consegue definir a localização deste topónimo?
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
10 comentários:
Caro Rui,
Não é que seja um profissional nesta matéria, mas gostava de dar o meu contributo para a questão. Peço desculpa se de pouco valer de ajuda.
Analisando a vista de satélite do Google earth e cartas militares junto da zona do Prado do vidoal e da chã do carvalho, facilmente se percebe que as elevações não visíveis quando estamos nos locais, não formam propriamente uma "fraga" ou "cabeço", sendo apenas a "continuação" da elevação da montanha. Excluo então a hipótese de se localizar entre a chã de carvalho e o Prado do vidoal, dada a natureza do terreno. Segundo o dicionário priberam, um cabeço é: um cume arredondado na cumeada; outeiro isolado. Tomando isto em conta percebe-se que não pode ser uma deturpação de outeiro moço, já que este é pouco arredondado. Não sei de onde provêm o nome cinzeiro, mas talvez tenha a ver com uma zona de granito que sobressai no meio de arvoredo ou mato rasteiro? (é apenas uma hipótese). Coloco portanto a hipótese de ser o cume das seguintes coordenadas, localizado "atráz" da roca d'arte: 41,7685415, -8,1282225, ou outro localizado nas proximidades. Coloquei também a hipótese de se localizar entre a cabana de cubato e Prado do vidoal, mas acabei por desistir da ideia, dado que não me parece que haja alguma elevação significativa que possa ser considerada um cabeço. O mais provável é que o topónimo seja uma deturpação de alguma elevação das proximidades, pois não vejo nenhuma elevação sem nome na região. Talvez até seja o topo da roca d'arte, que é arredondado.
Fica aqui o meu pequeno contributo Rui.
Rui surgiu me uma dúvida. A costa a que se refere é a costa do murjal ou costa do morujal? A de morujal é para o lado de maceira e murjal a que sobe para leonte.
Que maravilha, Francisco. Sim será uma hipótese: Roca d'Arte - Cabeço de Lavadouros - Cabeço de Cinzeiros, sendo este o ponto mais elevado dos três referidos.
Seguindo o Tombo da antiga Freguesia de S. João do Campo ao se referir aos limites: "...Portela de Leonte e dali à Chã do Carvalho da Leonte e dali à cabeça de cinzeiros (...) da cabeça de Cinzeiros à Lama do Pão e daí a Porto de Vacas (...)"
Em relação ao Morujal versus Murjal, eu não confiava muito na carta militar. O topónimo pode ser 'Mourojal' e refere-se à encosta sobranceira a Leonte no lado Nascente (quem sobe para o Vidoal).
Interessante! Esses limites não serão os atuais então?
Pegando na sua anterior publicação sobre o campo do Gerês, fui observar os pontos mais elevados da atual delimitação da freguesia, e realmente esta não passa pela roca d'arte-cabeço de lavadouros, mas sim por outeiro moço, e Portela da Freza. Daí para a frente só se for perto da chã da fonte, que tem algumas fragas candidatas também. A lama do pão, será lomba do pau, ou é mesmo assim?
Pois, tem razão é melhor não confiar em tal
Seguindo o Tombo da antiga freguesia de São João do Campo, a "cabeça de cinzeiros" ficaria então entre o vidoal e Lomba do Pau
Caro Rui Barbosa,
Uma informação que pode ser útil ao debate sobre toponímia antiga do Gerês (etc.). Isto, claro, se ainda não conhecerem.
O relato feito pelo visitador régio Mendo Afonso de Resende quando inspecionou as terras da raia, em 1537-1538, constitui um verdadeiro "festim" nessa matéria. Já o havia referido antes, mas verdadeiramente não conseguia partilhar toda a riqueza desse material, pois fazia-o a partir dos respectivos livros (ed. em papel de 2003).
Verifiquei entretanto que já foi tudo colocado "online" pela Universidade Portucalense:
Demarcações de fronteira de Castro de Marim a Montalvão. Vol. I
http://hdl.handle.net/11328/975
Demarcações de fronteira: de Vila Velha de Rodão a Castelo Rodrigo. Vol. II
http://hdl.handle.net/11328/976
Demarcações de fronteira: lugares de Trás-os-Montes e Entre-Douro-e-Minho. Vol. III
http://hdl.handle.net/11328/977C
A parte de maior interesse surge no vol. III, pp. 127-162.
Os originais da Torre do Tombo também estão acessíveis na Net (são em letra do início do séc. XVI).
Saudações,
Pedro Cid
A Lama do Pão será a Lomba de Pau.
Excelente, obrigado Pedro Cid!
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