Esta foi uma pequena caminhada pelos seculares trilhos da Serra do Gerês em busca de um pequeno curral «desconhecido» e esquecido, escondido pelo tempo por entre a paisagem rugosa e densa de vegetação tão característica da nossa serra mais formosa.
Na verdade, já há uns bons anos que havia passado perto destas paredes cobertas pelo musgo dos dias, mas nunca tinha sido capaz de lhe descobrir o nome. Agora que o tratarei pelo seu devido nome, fiz-lhe uma visita de cortesia para lhe dizer que já não ficará esquecido e que faz agora parte deste mosaico toponímico Geresiano.
Como se deve fazer nestes dias de uma pré-canícula que já queimam a pela e empapam as roupas, o despertar foi temperano para vislumbrar as serras cobertas de nevoeiro. A caminhada começaria junto da Casa Florestal da Junceda envolta por uma névoa que, se em parte escondia o Sol, fazia prever alguns episódios de calor húmido. Ali, onde agora se inicia o Trilho das Silhas dos Ursos, enveredei pelos caminhos silenciosos da serra e em pouco estava no Vale do Meio e a calcorrear a Manga da Tojeira. À sombra do Cabeço da Tojeira, a paisagem era toda ela uma palete de tons de cinza que escondia o familiar cenário antes da chegada a Gamil. Seguindo a indicação da placa que se encontra afixada numa rocha, rumei então em direcção ao Pé de Cabril, sem no entanto ser este o meu objectivo. O carreiro leva a passar por entre os muros da Fenteira do Prado e subir ligeiramente para o Prado com o seu solitário abrigo pastoril e quadro de árvores mortas. A paisagem continuava silenciosa e os farrapos de nevoeiro eram açoitados ao de leve pela brisa que por vezes refrescava já a pele humedecida pelo suor.
Deixei para trás o Prado e em pouco tempo, com passo ligeiro, avistava o familiar perfil dos espigões do farol da serra, o colosso granítico do Pé de Cabril, imponente e altivo como um titã vigilante das alturas.
Para me recordar da passagem para o meu objectivo, segui então por um percurso que já não fazia há vários anos descendo inicialmente a Corga do Escaleiro (Escalheiro?), mas logo a seguir enveredando à esquerda. O caminho percorre a encosta e vai descendo em direcção à Portela de Leonte. Por entre vegetação mais ou menos densa e pequenas chãs graníticas, foi entrando numa paisagem mais florestal por entre pequenos blocos graníticos que vão pontuando o quadro que se vai percorrendo.
E de repente, por entre a vegetação, lá surgiram as velhas pedras alcatifadas de musgo que delimitam o velho Curral das Cabanas Giestas que alberga uma pequena pala como minúsculo abrigo pastoril. O espaço aberto no interior dos seus muros foi sendo progressivamente ao longo dos anos ocupado pela vegetação que o foi encobrindo e que o fez ser olvidado pela memória dos homens, ganhando agora o seu devido lugar no mosaico do registo toponímico da Serra do Gerês.
Parei ali por momentos tentando tirar partido do silêncio e do seu espaço, mas o cenário que se nos depara impede na verdade de termos a noção de como seria aquele lugar quando a sua utilização seria mais ou menos permanente por entre as épocas das vezeiras e da presença dos artesãos que foram moldando a montanha ao longos dos séculos.
Deixando o velho curral para trás, chegava então à estrada nacional e à Portela de Leonte, iniciando então o regresso passando junto ao monumento ao pintor Arthur Loureiro. Iniciando no estradão que segue por detrás da Casa Florestal de Leonte e depois por um carreiro, chegava à Portela de Confurco e depois passava pela base dos espigões do Pé de Cabril, descendo depois para o Prado e seguindo para Gamil, Manga da Tojeira, Vale do Meio e Chã de Junceda.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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