O dia era especial e merecia uma caminhada especial como são todas as caminhadas às Minas dos Carris. Dia quente de Primavera teve o seu ponto mais alto, literalmente, no Pico da Nevosa onde já não ia há uns bons anos... acho eu!
A exploração das Minas dos Carris pode ser dividida em várias fases distintas. Não tendo em conta as explorações artesanais que podem ter ocorrido antes do estabelecimento da primeira concessão legal, a primeira fase terá início já durante a Segunda Guerra Mundial e a exploração é baseada nos trabalhos executados entre 1941 e 1943, sendo feita de forma muito rudimentar em aluvião ou com pequenas perfurações. A segunda fase decorre em 1943 e 1944/1945 levada a cabo por uma empresa portuguesa denominada Sociedade das Minas dos Castelos, Lda. que extrai volfrâmio para ajudar na máquina de guerra nazi, já através do alargamento da exploração e da sua iniciação em profundidade. Alguns dos edifícios que ainda hoje são possíveis de visitar no complexo mineiro, são contemporâneos desta fase de exploração. Poucos meses após o final dos trabalhos de exploração nas concessões mineiras dos Carris, finda a Segunda Guerra Mundial. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. passa a ser dirigida por uma comissão liquidatária nomeada pelo estado português até que em princípios dos anos 50 as concessões são compradas e concessionadas à Sociedade das Minas do Gerez, Lda. É esta sociedade que vai levar a cabo uma nova fase de exploração mineira ao mesmo tempo que vai dotar o complexo de estruturas mais modernas e avançadas por forma a rentabilizar a extracção mineira. Os trabalhos serão levados a cabo até 1957 / 1958, altura em que a mina é «abandonada» até ao início dos anos 70.
A década de 70 do século XX marca assim a fase final de exploração mineira que se vai prolongar até 1974 / 1975. Uma última tentativa de reactivar as Minas dos Carris nos princípios dos anos 80 não tem sucesso, muito em parte devido à implementação do Parque Nacional da Peneda-Gerês e das emergentes preocupações ambientais.
Com o final da exploração todo o complexo foi abandonado. As pilhagens e os actos de vandalismo trataram de desnudar as paredes e tectos das casas que, juntamente com a intempérie do duro Inverno da serra geresiana, foram degradando as construções. Mais eficaz que os elementos naturais, a acção do Homem foi destruindo os edifícios das Minas dos Carris, levando as telhas para melhorar as suas casas, retirando o cobre das ligações eléctricas, as louças, os azulejos e tudo o que se podia aproveitar. Os actos de vandalismo também foram ocorrendo por puro prazer destrutivo, dando a machadada final em muitos edifícios. Aos poucos e poucos o complexo mineiro vai desaparecendo da memória paisagística e dos Homens.
«Perdidas» nos imensos espaços serranos do Gerês, as ruínas das Minas dos Carris representam hoje um belo exemplo do que não se deve fazer em relação à preservação de um valioso património mineiro que somente uma execrável ganância ambiental conservacionista, incompreensivelmente mal planeada ao longo de décadas pode explicar. Tal como a Dra. Maria Otília Pereira Lage referiu no contexto do primeiro plano de ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, “a sua localização no interior de uma área protegida com um estatuto muito restritivo de visitantes, faz com que as evidências da actividade mineira que ainda existam, possam e devam ser preservadas, particularmente no que respeita aos testemunhos imóveis.”
A preservação já por tantas vezes apregoada por académicos seria da responsabilidade do Parque Nacional da Peneda-Gerês, entidade com a suprema responsabilidade na preservação e conservação do património natural e humano. Porém, desde o encerramento das minas absolutamente nada foi feito nesse sentido e aquele local sempre foi visto com ignorantes «maus olhos» por parte de muitos dos técnicos daquela instituição, constituindo assim um dos muitos não-paradigmas da preservação arqueológica nacional. Nos nossos dias, as ruínas das Minas dos Carris são a tela do vandalismo e o cenário da destruição devido a diversos factores. Aquele é simplesmente um espaço esquecido, deitado ao abandono e muito próximo do limite do irrecuperável.
Ficam as fotografias deste dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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