terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Na demanda do forno de Albergaria


Mais uma vez os textos de Hermenegildo Capello e Leonardo Torres despertaram a minha curiosidade pela descoberta de algo que me havia passado despercebido durante tantos anos à sombra de um carvalho na Mata de Albergaria.

Em Setembro de 1882, Hermenegildo Capello e Leonardo Torres - sócios ordinários da então Sociedade de Geographia, fizeram uma visita à Serra do Gerês que mais tarde seria descrita na revista desta sociedade.

Durante a sua permanência no Gerês, os dois homens participaram numa caçada realizada a 20 e 21 de Setembro, tendo dormido a noite na serra e fazendo a seguinte descrição...

"Na Serra do Gerez ha uns abrigos que chamam fornos, provavelmente por causa das portas que só se pode entrar engatinhando, e dentro d'essa cubata podem dormir nove ou dez homens, deitados em palha e muito unidos.

A pulga e muitas vezes o ganau enxameam aquelles domicilios, que servem de casa aos guardas do gado que á noite o reunem junto d'estes fornos em uns pequenos planos mais abrigados que chamam vezeiros. Vimos dois d'estes cacifres ou casebres, um mesmo na Portella de Leonte e outro em Albergaria; n'este ultimo estava um velho guardador de extensa barba branca, e pelo tempo, local e aspecto fazia sem grande difficuldades a felicidade de um sebastianista ferrenho.

Estavamos condemnados a estacionar e pernoitar no forno de Albergaria, porque a chuva continuava e continuou durante a tarde e durante a noite, quando um dos guias lembrou que era mais limpo o abrigo do Penedo da Palla, no sítio do Ranhado, que nos ficava a uns duzentos passos de distancia; podem lá dormir dez homens e cinco debaixo do penedo que fica logo ao pé, e os sete seguiram logo para o dito forno. Foram dez para o forno, e por esse motivo no abrigo da Palla apenas dormimos sete, perfeitamente abrigados e aquecidos pela constante fogueira que durou toda a noite, sendo alimentada com lenha de carvalhos, que ali se encontram derrocados e não aproveitados."

Ora, de facto já sabia da existência dos Currais de Albergaria pertencente às gentes de Vilarinho da Furna, mas durante as minhas passagens pelo exterior do curral nunca havia reparado na existência de um forno pastoril. De facto, sempre procurara uma forma ovalada (um igloo de pedra) semelhante aos velhos fornos pastoris usualmente existentes nos currais Geresianos.

Com uma dica do Sr. Pires e do Paulo Figueiredo, lá fui eu na demanda do velho forno pastoril da Albergaria e desta vez não procurava um forno ovalado, mas sim uma estrutura quadrangular tal como o velho abrigo que existe no Curral de Vilar da Veiga (ou de Leonte de Cima) na Portela de Leonte (e curiosamente tal como referem Capello e Torres nos seus escritos ao referirem que haviam observados dois «fornos» na Portela de Leonte e na Albergaria!).

De facto, o velho abrigo lá está à sombra de um velho carvalho no mais pequeno dos Currais de Albergaria. 

A demanda pelo forno de Albergaria iniciou-se a partir da Portela do Homem e descendo depois para o Curral de S. Miguel com uma passagem pela velha Ermida de S. Miguel. Depois, e tomando as pedras do caminho das legiões Romanas, passei pela (nova) Ponte de S. Miguel e ao lado da passagem a vau no Ribeiro do Monção antes de chegar ao conjunto de marcos miliários da Milha XXXIII. Seguiu-se uma breve visita à Ponte Feia e depois à Albergaria, passando pelos Currais de Albergaria antes de subir à estrada que me levou de volta à Portela do Homem.































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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