O complexo mineiro dos Carris I, II, III, IV e V.
A terceira área do complexo mineiro dos Carris era a área industrial na qual se localizavam armazéns e depósitos, lavarias, edifícios dos geradores, edifícios de processamento de minério e acessos às minas. Tem-se acesso a esta área descendo uma pequena rampa a partir da segunda área e que termina junto de um edifício que servia de armazém de material pesado anexo à serralharia e forja. Muito próximo, e em frente a este edifício, encontrava-se um outro edifício no qual estava localizada a separadora. Em frente estava localizada a central eléctrica que albergava vários geradores. Na área são visíveis locais onde o solo parece ter abatido. No entanto, e segundo Virgílio de Brito Murta, “devido à dureza e coesão do granito, nesta mina nunca houve abatimentos de rocha, devendo tratar-se de entulhamento propositado, de antigos trabalhos a céu aberto (sanjas ou trincheiras), que darão essa impressão.” São também visíveis dois poços entulhados, sendo o primeiro um poço de ventilação e o segundo um poço de extracção dos primórdios da exploração mineira. Perto, encontra-se a entrada para uma pequena mina, constituída por uma só galeria e com uma extensão muito curta.
Aqui é a zona de extracção mais antiga onde ainda se pode ver as ruínas da chamada ‘lavaria velha’ (posteriormente separadora) e a antiga escombreira, hoje quase totalmente coberta de vegetação. Na proximidade destes edifícios, e tendo início junto a uma pequena escombreira na qual são visíveis sinais de poluição por ácido sulfúrico (o cheiro é característico!), inicia-se um sistema de pequenas condutas de pedra que serviram para conduzir a água para o vale que se abre mais abaixo. Ao longo da conduta são visíveis, em certos locais, pequenas ranhuras nas pedras que provavelmente serviriam para o encaixe de comportas de madeira bloqueando a passagem de água. Na extremidade destas condutas existia uma pequena construção em madeira, na qual terminava o cabo de telefone que em tempos percorreu todo o Vale do Alto Homem até Carris e que foi retirado na década de 90. Actualmente, restam poucos vestígios que assinalam a presença desse meio de comunicação. Devido à chuva e à neve, entrava muita água nas galerias subterrâneas, pelo que se construiu uma cortina em alvenaria na crista superior das sanjas, que retinha as águas vindas das encostas superiores. A espaços regulares foram deixadas aberturas onde foram colocados canais de madeira (calhas ou caleiras) que transferiam essas águas por cima das sanjas, para o lado inferior, evitando assim que entrassem nos trabalhos subterrâneos. A Sul do antigo poço-mestre ainda existem trechos dessas cortinas que hoje são perfeitamente visíveis.
Ainda na zona antiga encontramos o antigo poço mestre que terá uma profundidade de cerca de 150 metros e que percorre a quase totalidade dos pisos na concessão do Salto do Lobo. Junto a este poço restam os vestígios de outros edifícios que corresponderiam aos compressores e à casa do guincho que fazia o içamento dos baldes.
Vista panorâmica da zona industrial do complexo das Minas dos Carris: A – serralharia e forja; B – compressores; C – poço de ventilação (antigo poço n.º 1); D – classificação, separação magnética dos concentrados vindos da flutuação e cofre dos concentrados finais; E – lavaria velha adaptada e usada como moagem, classificação e flutuação dos pré-concentrados vindos da lavaria nova; F – central eléctrica; G – forno; H – casa do guincho antigo; I – oficina de martelos, escritório da mina e galeria de entrada para a mina.
A entrada principal da mina situava-se algumas dezenas de metros acima da abertura inicial do vale onde se localiza esta área do complexo. O acesso era feito pela entrada de um edifício que era controlada a partir de uma pequena sala localizada à sua esquerda, a oficina de martelos e o escritório. A galeria principal da mina dividia-se em três galerias secundárias. A galeria que seguia pela direita curvava mais à frente para a esquerda, indo de encontro à galeria central que terminava no poço do elevador (poço-mestre). A galeria central conduzia ao elevador na mina e a galeria esquerda dividia-se em outras duas galerias: uma que continuava na direcção da anterior e uma que seguia para o lado esquerdo. Esta encontrava-se há anos bloqueada por um muro de betão, com uma altura de aproximadamente 2 metros, e que retinha uma enorme massa de água. A galeria que seguia na direcção da galeria secundária acabava por curvar para a direita, indo de encontro à galeria central no poço do elevador. Este poço estava resguardado por uma estrutura metálica que permitia o acesso ao elevador. Eram visíveis os cabos de tracção do elevador que se encontrava mergulhado nas águas que inundavam por completo os níveis e galerias inferiores da mina. Parte desta estrutura, entretanto colapsada, era coberta por madeira e um alçapão amovível permitia o acesso aos níveis inferiores. De facto, o poço-mestre ligava o Piso 2 ao Piso 7 e daqui partia uma galeria que seguindo para Este, terminava na área da concessão da Garganta das Negras I. Aparentemente, esta comprida galeria serviu como um esgoto de emergência, porém a sua concepção foi mal elaborada havendo um desnível de cerca de 5 metros que mais tarde seria compensado para funcionar correctamente como esgoto. Curiosamente, de todas as entradas para o mundo subterrâneo das Minas dos Carris, esta boca mina é a menos conhecida e é a única que se encontra devidamente encerrada e acautelada com um gradeamento de ferro.
Após extraído ainda em bruto, o minério era transportado em pequenos vagões através do interior de uma estrutura pré-fabricada, da qual hoje somente existe a base em cimento e na qual assentavam as paredes, que conduzia para o edifício da lavaria no qual potentes britadeiras faziam a sua separação. A lavaria é ainda hoje um edifício imponente na paisagem acima da Lamalonga. Sem dúvida o edifício de maior volumetria de todo o complexo, a sua construção tirou partido da inclinação do terreno que ali desce abruptamente para o vale.
Uma das construções mais isoladas nesta área encontrava-se escondida pelo Penedo da Saudade. Este pequeno edifício, o paiol, era o único que era rodeado por arame farpado em toda a zona do complexo mineiro e servia para armazenar o material explosivo (dinamite, rastilhos, detonadores, etc.) utilizado nas minas. Até há poucos anos era o único edifício com o telhado minimamente intacto existente em Carris. Foi destruído pelo mau tempo, que acabou por derrubar as suas paredes e projectar as telhas a metros de distância.
Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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