quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Trilhos seculares - Ermida, Viseu e Giesteira


Com a chegada da neve gostaria de ter visitado os Bicos Altos e aí registar as paisagens nórdicas de um Gerês pintado de branco. Porém, a insistente e aborrecida chuva dos últimos dias, levou-nos a fantasia dos altos picos eternamente cobertos de neve e deixou-nos a bela paisagem dos Bicos Altos a esperar por melhores dias.

Solução para a primeira caminhada de 2014? Percorrer um trajecto curto e passar pelo Curral de Viseu na vizinhança da Ermida. Aqui chegamos cedo e o sossego da noite ainda se apoderava da aldeia que ia acordando ao ritmo do campo nos meses de Inverno. Aqui e ali, o cheiro da lenha queimada levava-me a imaginar um serão bem passado ao calor da lareira que agora certamente havia definhado, reduzida a um monte de cinzas quentes e de um mísero tronco fumegante.

Ao contrário do que esperava não fazia frio e o ar convidava a tirar uma peça de roupa mais quente, pois adivinhava-se suadeira nos primeiros passos do caminho que se fazia a subir. Durante alguns metros percorremos o traçado do PR-14 'Trilho do Sobreiral da Ermida' enveredando por velhos estradões revoltos pelas águas das enxurradas que alimentadas pelas chuvas foram cavando sulcos que se tornaram em verdadeiras trincheiras em várias zonas. A paisagem em si era familiar e o Rio Arado fazia-se já ouvir cada vez com maior intensidade à medida que se ia aproximando do fundo do vale. A travessia fez-se na velha ponte de pedra e cimento que cruza o rio logo após uma lagoa alimentada por uma ruidosa cascata. da última vez que o tinha visto, o rio era um ser mais calmo e pacato que ia lambendo as rochas na sua passeata minorante em direcção ao Cávado. Hoje, estava mais revolto como que pondo-se em bicos de pés cheio de força pelo Inverno.


Passada que era a ponte entramos quase num cenário dos mundos de Tolkien. As escadas e o caminho como que escavadas, cravadas e «suspensas» nas paredes rochosas e encimadas por gigantes de granito, faziam lembrar a longa escadaria para o negro mundo de Mordor onde os dias são sempre escuros e uma presença nos atormenta os passos. Felizmente, naqueles instantes, tal não era o caso mas pelo sim, pelo não convinha ter em atenção onde se punha os pés e onde se apoiavam as mãos, não fosse uma passagem para o mundo interior se abrir a nossos pés... A subida terminaria no bordo do Curral de Viseu. Sendo sincero, ainda não fiquei convencido da exacta localização desta zona de pastagem. Uns metros para cima, uns metros mais para baixo... as gentes da Ermida irão tirar as dúvidas um destes dias.

Deixando o curral para trás, segui em direcção à Tribela passando por pequenas corgas onde a música dos riachos e pequenos cursos de água se fazia sentir constante. Marcada pelo rigor dos dias que vão passando, a zona apresenta muitas árvores despidas da sua folhagem, o que dá ao cenário o ambiente de um bosque em suspenso pelos dias mais quentes que hão-de chegar. Enveredando pelo estradão florestal, rumei à triste casa florestal da Malhadoura, um outro edifício testemunha do desleixo a que estas casas foram deitadas pela tutela. No fundo, mais um património que este país rico em governantes pobres de espírito, se dá ao luxo de perder.

Para lá da Malhadoura a paisagem apresenta-se massacrada pela passagem de estradões e de máquinas que lhe roubaram o coberto arbóreo. É uma paisagem triste e pobre, onde os blocos graníticos assumem a sua importância na descrição da tela que vamos vendo passar. Daqui, rumei ao Curral de Giesteira e descendo o caminho passando ao lado da Cascata do Arado, voltei a tomar o PR-14 para chegar à Ermida.

Algumas imagens do dia...





















Fotografias © Rui C. Barbosa

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