O mês de Abril passara e já há muito que era chegada a hora de regressar a este local mágico. As botas ansiavam por uma caminhada longa e longa foi a caminhada que tiveram. Bom, longa... não muito mais longa do que seria de esperar... mais difícil talvez e cheia de desníveis que fizeram o cansaço chegar e o descanso ser mais do que merecido.
Da Portela do Homem ruma-se à fileira de marcos de fronteira que delimita as terras lusitânicas. Desde que se entra naquele carreiro secular, é sempre a subir até à Cruz de Pinheiro. A Serra do Gerês vai surgindo como uma prenda que se abre na noite de Natal e a paisagem vai-se enrrogando tal como um papel de fantasia amarfanhado pelas mãos ansiosas. Os horizontes alargam-se e expandem-se a cada passo dado. A paisagem vai ganhando nomes... a Mata de Albergaria serve de tapete primaveril para a Varziela e de adorno para o Pé de Cabril, altaneiro na paisagem. «Fazendo-lhe frente», o Pé de Medela assume o seu lugar enquanto que o olhar não é inundado pelo mar de luz que alaga o Vale do Homem.
A parede que se eleva desde a Abilheirinha proporciona o primeiro de muitos assombros que embelezam o vale. Em sequência, a Ravina do Cantarelo, a Corga do Palão e a Corga dos Vidros são algo que por si só vale a pena contemplar num dia quente como aquele. De facto, não fosse a brisa fresca que por vezes acalmava o ar, seriamos levados a pensar estarmos em pleno mês de Agosto onde o ar quente nos seca as entranhas. Passada a Cruz de Pinheiro, e tentando definir as mariolas na paisagem granítica nua dos píncaros serranos, os declives vão-se atenuando aqui e ali já com a vista a abranger os largos horizontes galegos.
Com o caminhar ligeiro depressa se chega à Bela Ruiva e daqui contempla-se a Água da Pala lá no fundo do vale. Neste ponto consegue-se abranger uma larga extensão do caminho que leva às Minas dos Carris e minúsculos no fundo do vale segue algumas pessoas cujas vozes se fazem escutar lá no alto.
Após a Bela Ruiva o trajecto flecte para entrar em terras galegas, mas prefiro seguir uma outra direcção que me leva pelo bordo do vale depois de passar a Água do Concelho até à Água da Lage do Sino. Daqui, desci para o Teixo e cheguei à entrada da Corga dos Salgueiros da Amoreira. Neste ponto teria de decidir por onde seguir: ou tomava o caminho através das Águas Chocas em direcção a Carris, ou seguia pela corga passando pela Amoreira e depois Salto do Lobo. Há já muitos anos que não passava pela Corga dos Salgueiros da Amoreira e então decidi tomar esta direcção seguindo o velho trilho que ainda vai resistindo por entre a vegetação. O caminho leva-nos pelo vale no sopé da Lage do Sino e passando abaixo do Curral das Albas, depois bifurca-se através de velhas mariolas que vão percorrendo os declives dos montes ali à volta. Passado algum tempo chegava ao Curral da Amoreira e seguia pela base dos Carros em direcção ao Salto do Lobo, passando pelo Curral Sem Nome.
O Salto do Lobo é quase como que uma máquina do tempo guardando velhas memórias e ruínas dos primórdios da exploração mineira. Os velhos fornos de abrigo e as explorações a céu aberto são feridas que marcam a paisagem daquele lugar. Um pequeno carreiro leva-nos até ao topo da Corga de Lamalonga onde se encontra a lavaria nova e permite-nos ver ao longe a escombreira da Lamalonga.
Após um merecido descanso por entre as ruínas e um curto deambular por entre as mesmas, regresso à Portela do Homem.
Enquanto estive nas Minas dos Carris encontravam-se por lá algumas, não muitas pessoas. Algumas «silenciosas», outras nem por isso e que deveriam saber que na montanha um murmúrio é um grito...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
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