Vale apenas histórias destas em dias de calor...
Nos nossos dias a actividade mineira atinge aspectos que nos
impressionam. Todos nós já teremos visto num momento ou outro, as imagens dos
mineiros a abandonar a boca da mina. Os seus rostos cerrados e cansados ou o
sorriso branco que se destaca no rosto negro da poeira mortal que cobre as suas
faces e contamina os pulmões. Nos nossos dias as condições de trabalho são
ainda arriscadas e os acidentes vão acontecendo com mais ou menos frequência.
Imagine-se então há dezenas de anos atrás onde a procura cega do volfrâmio e a
consideração pela qualidade de vida do operário mineiro era inversamente
proporcional à riqueza que os grandes senhores do volfrâmio iam acumulando.
A vida nas minas era dura, mortal e deixava marcas para a
vida. Todas estas características eram aumentadas pelas duras condições de vida
que na Serra do Gerês adquiriam particularidades extremas. As condições
meteorológicas na Serra do Gerês por vezes fizeram sublinhar a dureza do
trabalho naquela zona. As temperaturas desciam vários graus abaixo dez erro
como recorda Virgílio Murta, “Lembro-me do frio na Mina dos Carris, embora,
pela roupa que usávamos e como pode ver por algumas fotos com neve, pareça que
não era assim tanto. Aí pelas sete e meia da manhã, nesta época do ano, quando
tomava o pequeno-almoço com o nosso «meteorologista», tenente Silva Pereira,
ele sempre me informava que a temperatura estava entre menos 6ºC e menos 8ºC, e
que o termómetro de máxima e mínima existente no nosso «observatório» marcava,
às vezes, menos 17ºC, durante a noite, claro... Isto quando o vento e a neve
lhe permitiam acesso ao local, para verificar. Eu não sei se o tenente
informava os Serviços Meteorológicos Oficiais e se haverá ainda dados
arquivados.”
Episódio singular das dificuldades originadas pelo mau
tempo, ocorreu em Fevereiro de 1955. Naquela altura, e durante mais de uma
semana, nevou intensamente e de forma contínua na Serra do Gerês de tal maneira
que em alguns pontos a neve chegou a atingir cerca de quatro metros de
espessura, tornando impossível o trânsito de veículos e mesmo de peões. A mais
de 1400 metros
de altitude, os mineiros e o pessoal técnico e administrativo num total de
cerca de duzentas pessoas que na altura trabalhavam nas Minas dos Carris,
ficaram isolados nas sua instalações, tornando-se problemática a situação que
de dia para dia o estado do tempo foi criando. Pelo telefone, uma vez que os
fios resistiram ao peso da neve, foi sendo mantido contacto, até que as
notícias se tornaram alarmantes: o pessoal, em especial os mineiros (que eram
cento e vinte) estavam sem pão nem legumes, com escassa roupa e cada vez mais à
mercê dos lobos, que segundo o jornal ‘O Século’ que uivavam famintos, noite e
dia, por aquelas redondezas.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
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