terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Caminhar...

A última vez que estive no Gerês foi a 26 de Dezembro... parece ter sido há uma eternidade! Uma eternidade que se abre... De facto, o tempo não tem estado de feição. Esperamos que o dia seguinte seja sempre melhor do que o anterior, mas os senhores da meteorologia insistem em nos oferecer mapas lindos com nuvens que pingam ou então, quando dizem que o Sol vai brilhar por entre as nuvens, enganam-se na incerteza da ciência. Coisas que acontecem, dirão...

E é assim, que se passam os dias... lentos como o derramar da areia no espaço da ampulheta, formando uma pirâmide que em breve se destrói porque o seu mundo fica literalmente de pernas para o ar. Tudo recomeça...

Nas tardes cinzentas vou pensando no que fazer. Organiza-se papéis, escrevinham-se ideias, soltam-se vontades logo aprisionadas de seguida porque... continua a chuver. Vão-se trocando diálogos, ideias ou outros pensamentos numa volúpia fractal com os quais se vão queimando os minutos.

E penso nos Carris. Penso na vontade de lar voltar, não por ser mais um número na estatística que organizei... mas por me fazer falta. É isso mesmo, Carris faz-me falta! Carris faz-me tanta falta como o ar que respiro e como a água que me alivía a sede. Faz-me falta lá chegar cansado e a amaldiçoar o caminho que terei de fazer de volta... "...hoje volto pelas Sombras!" A saudade de percorrer as ruínas, escutar a sua música nos dias ventosos, ter a sensação de que algo ou alguém irá surgir ao dobrar a esquina, ao espreitar por uma janela ou por debaixo de uma sombra. E em silêncio tento escutar os sons do trabalho lá no fundo, do murmurinho do desmonte, o ribombar de mais um tiro nas entranhas da terra... Porém, do fundo poço só sairá o vapor do ar mais quente do que cá fora, nas entranhas do Inverno... Pensa-se no passado para aquecer o presente e ter esperança no futuro que é já daqui a pouco... amanhã, talvez...

Sei que a montanha, os Carris continuam lá. O apelo é mais forte a cada dia que passa, aos poucos tornando-se num grito... sim, '...cada som como um grito!' como dizia Torga.

E pronto, vão-se passando dos dias... a pensar em caminhar...

Fotografia © Rui C. Barbosa

1 comentário:

White Angel disse...

Rui, como eu entendo esse apelo, esses gritos!!!! :)
Muito bonito. Parabens!!!

Saudações montanheiras.