Chegado ao Ecalheiro, onde em tempos existia um pitoresco canto bucólico que degradado acabou por ser desmantelado, enveredei então pelo meu já conhecido trilho. O objectivo era simplesmente ver até onde me levava. sabia de antemão que não é este o caminho para o Pé de Cabril e sabendo que a encosta se torna cada vez mais íngreme há medida que vamos acançando no vale, sobrava a curiosidade de saber onde terminava. De facto, a resposta surgiu rapidamente. A certa altura encontrei-me num verdadeiro cenário de guerra num campo de batalha contra as mimosas por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Uma tentativa de enveredar a festo e depressa decidi voltar para trás.
A curiosidade sanada, era altura de me dedicar ao terceiro objectivo do dia (o primeiro fora visitar o Penedo da Freira, neste dia de 'Uma Lenda e Dois Trilhos'). Este objectivo era o de visitar o Prado Amarelo e saber se era possível a passagem para o Curral Velho.
Regressado à Portela de Leonte segui então pelo estradão que vou chamar de 'Estradão Arthur Loureiro', pois inicia-se junto ao monumento em memória deste ilustre amante do Gerês. Ainda antes de chegar ao início do trilho para o Pé de Cabril (ou 'Trilho Ferrata'), encontrei um novo caminho e sabendo que este me levaria ao meu objectivo, por ele segui. Vencendo as curvas de nível, depressa chegava junto da grande mariola que já há umas semanas me havia chamado a atenção. Mariolas deste tamanho na serra só têm um significado: uma junção de caminhos. E ali estava, seguindo pelo lado Oeste do (Alto do) Cancelo, o secular trilho seguiria em direcção ao Prado Amarelo. Pelo caminho a sublime visão do imponente Pé de Cabril e o magnânime cenário da Serra Amarela e da albufeira espelhada da Vilarinho da Furna.
Ao tentar desvendar um segredo, logo outros se levantam. E foi assim que ali decidi lá voltar brevemente para desvendar o destino de «novas» mariolas que se perdiam encosta abaixo. Chegado ao Prado Amarelo a curiosidade de ver para lá do bordo granítico que me definia o pequeno horizonte. Assombrado pelo silêncio que ali reinava, naquele Prado Amarelo, tirei a mochila das costas e pousei o bastão. A paisagem do vale que se deparava sobre mim e a magestade da montanha não encontra em palavras valor tão grande para as descrever e nem em imagens cores dignas de a representar. Ali, estava uma paisagem de sentimentos indescritíveis.
Alguns minutos naquele profundo silêncio e perante a grandeza do que estava perante mim, com o calor do Sol em final de Outono a aquecer a pele do rosto, foi algo que valeu por todo o dia.
Por momentos escutei a passagem rápida das rapinas que cruzavam, ensurdecedoras, o céu. Era tempo de prosseguir a jornada e continuando a caminhar para Norte, passei muito perto do velho trilho onde havia estado há umas semanas atrás ainda no primeiro dia de neve. Subindo e descendo pequenos vales, passando por colos estreitos e percorrendo florestas de velhos carvalhos, chegava enfim ao Curral de Velho, encontrando assim a passagem que desejava. Daqui, desci em direcção à Ponte de Maceira por uma paisagem muito diferente da que havia encontrado da última vez com os meus companheiros de jornada, enterrados na neve e maravilhados com cenários da Terra Média.
Fotografias: © Rui C. Barbosa
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