sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Um rio de palavras soltas...

Carris (Corga das Negras), 22 de Abril de 2007

...e por um momento, parar no tempo... contornar a brisa que sinto no cabelo...
...saltar o raio de luz... fugir do mundo...
...ficar nas entranhas da terra, lá no fundo escuro... junto da torrente fria que lava a pedra...
...ou subir ao ponto mais alto da Nevosa e sentir o frio que enregela a pele...

...matar a saudade... que entranha a alma, lembrar o sorriso de outros tempos...
...ficar escondido na sombra, escutar as memórias que passam... o som dos seus passos na erva que cresce por entre a neve, procura a luz... Estranhos rostos, familiares encontros... a imensidão dos espaços...

...mirar o infinito, as nuvens que insistem em correr, soltas... enfim, livres...
...saltar a torrente, procurar a solidão por entre as encostas íngremes e agrestes...
...sentir o silêncio do recanto, ao longe o múrmurio das almas que percorrem os Carris... eternas...

...sentir o silêncio e a calmaria eterna do lento passar das eras...
...sentir a montanha, o calor do Sol reflectido num sorriso prometido...

...recolher do chão as lágrimas caídas, o toque no rosto, o beijo que se sente ao de leve...
Abrir os olhos, olhar as serras... montanhas traçadas no horizonte para lá do Homem...
A neve que cai, o vento que sopra... forte, intenso, magestoso...

...a saudade que aperta, a passagem para a mina... o salto, a escuridão, os outros que te aguardam...
...a amargura dos tempos idos, dos dias que não chegam, daqueles que custam a passar...
...a dor do tempo que nos corrói, a areia que desliza... o vale que cresce... a tempestade no horizonte, o relâmpago que cai, o som que se propaga...

...a saudade que aperta num rio de palavras soltas.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

4 comentários:

Anónimo disse...

Quando um rio (de palavras) corre assim!... demonstra bem a sua força.
Este e um dos mais bonitos Rios de Palavras que vi correr pelo Gerês.
Parabéns.
Um abraço

Anónimo disse...

É realmente único!

Anónimo disse...

O rio corre devagar, para um lugar que desconheces...o fascinio da agua gelada, do toque frio no rosto, torna-te vivo...contrasta com o teu sangue quente, com a temperatura do teu corpo...esse rio faz-te sonhar...crescer, pensar...esse rio interior será sempre o teu rio...

Anónimo disse...

"A saudade que aperta num rio de palavras soltas"...achei lindo, transmite uma expectativa por algo que já foi e que se deseja que volte a ser..leva-me a pensar que se o rio corre com essa força, conseguirá ultrapassar qualquer obstáculo acabando por encontrar uma foz onde irá desaguar tranquilamente...o rio se entrega, a foz o recebe e as águas se unem...
Manuela