domingo, 3 de agosto de 2008

Montanha, os acidentes e o Portugal que temos...

Carris, 25 de Abril de 2008

Tive a oportunidade hoje de ler uma notícia no jornal PÚBLICO (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1337512&idCanal=62) acerca de um acidente que vitimou um grupo de alpinistas no K2. Mais uma vez veio-me à memória o episódio que ocorreu no Gerês em Fevereiro passado e a necessidade de se criar um abrigo de montanha nas Minas dos Carris. Por outro lado, não deixo de ficar incrédulo com o tipo de comentários que surgem quando ocorre algum acidente deste tipo.

É impressionante ver que existem pessoas que não compreendam que outra pessoas (certamente os que estão mal) que tenham e tirem um grande prazer em caminhar pela montanha, em ultrapassar desafios... Estes inúteis da sociedade, grupo no qual alegremente me incluo, deveriam ser todos colocados em salas de reabilitação adornada com televisores a vomitar telenovelas, horas infindáveis de emissões da TVI com touradas e desportos muito mais enriquecedores como são o futebol (isto não é uma crítica ao futebol, mas sim à forma como o futebol é visto por essas iluminuras dos sofás).

É confrangedor. No mínimo nós, os imbecis que vamos para a montanha, os que gostam de desafios, os que brincam com o dinheiro do estado ansioso em mostrar os novos helicópteros, no fundo os parasitas que pululam pelas cidades deste triste Portugal, deveríamos aprender a fazer coisas úteis para a sociedade. Agora, perder uma tarde de Domingo a ver televisão é que não... ou então passear pelos centros comerciais ou abancar numa praia mal cheirosa a abarrotar de gente e a tostar aos ultravioletas... isso sim, é de gajo português... agora, montanha? Parasitas...

Tendo isto pergunto... será mesmo sensato fazer um abrigo nos Carris? Será sensato gastarmos o nosso tempo e dinheiro a construir abrigos de montanha com acessos razoáveis para que estes iluminados possam lá chegar e destruir o trabalho e a Natureza que tanto queremos preservar? Não será melhor fazer lá um campo de futebol com uma estrada de alcatrão e um parque de estacionamento para que estes imbecis possam ver as estrelas a jogar em altitude?

...e a pensar que possivelmente vou limpar o lixo deixado por estes palermas!

Fotografia: © Rui C. Barbosa

8 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro, eu compreendo que se tenha prazer em passear pela montanha, eu próprio gosto imenso, mas ultrapassar desafios??? dizer que consegui chegar ali ou onde outros não foram.. isso não passa de egocentrismo e querer ser mais que os outros. Eu felizmente não estou mal.. antes pelo contrario, e provavelmente porque ao contrario dos que andem o mostrar ser ou ter mais do que têm ou são eu prefiro não mostrar , pois afinal não é isso que me da prazer ou orgulho. concordo consigo nas referencias que faz as tardes em frente a televisão e centros comerciais.. mas andar a fazer alpinismo , em termos morais andar a tarde a subir uma montanha não é diferente dos que as referencias anteriores, só muda a vista.. no fim é tão útil quanto as outras actividades, por isso não seja obtuso para andar a criticar os que fazem coisas que são tão úteis quanto fazer montanhismo... ou seja , não tem utilidade nenhuma, mas a sua reacção não passa da típica imparcialidade humana de dar mais valor as coisas que gosta em relação ao resto.

Rui C. Barbosa disse...

Mário. Obviamente que respeito a sua opinião, agora reduzir o alpinismo, montanhismo ou os demais desportos de montanha a uma feira de vaidades como quer fazer é no mínimo redutor e não se saber do que se está a falar.

Será que o Mário é capaz de indicar alguém que faça uma dessas actividades com o objectivo de se bajular perante o mundo? Claro que não é!

Posso-lhe indicar muitos objectivos do montanhismo e alpinismo, por ventura objectivos que são chatos, estudos científicos que são feitos. Por outro lado, é a essência da exploração humana.

Kennedy quando em 1961 falou no seu discurso que lançou os Estados Unidos para a Lua utilizou uma frase de Mallory - "Porquê escalar a montanha mais alta, simplesmente porque ela está ali" (para ser escalada). Se for esta a única razão, é razão mais do que suficiente. Agora, não pode é de apelidar de inutilidade o que milhões de pessoas em todo o mundo fazem. Se não consegue compreender isto Mário, não sei como lhe explicar.

Aponta a inutilidade de fazer o montanhismo ou dos desportos de montanha da mesma forma que poderiamos apontar a inutilidade de passar uma tarde de papo para o ar numa praia. Porém, isto nem tem comparação possível. Há quem escolha ir para a montanha caminhar, chegar a lugares onde o carro não chega e depois regressar a casa com um fim de semana repleto de paisagens na memória e a sensação de atingir locais que de outra forma não conseguiria lá chegar. Há quem escolha ir sedentar para as praias...

Suponho que os que morreram não tinham como supremo objectivo em se gabarem nos seus países do que acabavam de fazer. Ao menos fizeram algo e possivelmente até ganhariam as suas recompensas por fazerem o que fizeram. Poderia até ser essa a sua profissão, viviam a fazer o que gostavam e não teriam a vida miserável que muitos têm em fazer o que não gostam e a gastar a insignificante existência numa vida ridícula a que muitos de nós somos «obrigados», para depios criticar os que fazem algo que lhes dá um prazer que muitos de vós não entendem e que por isso criticam...

Sou imparcial no meu julgamento? Se calhar até o posso ser, é natural que assim seja. Porém, também o são todos ao julgar mal aqueles que gostam de subir montanhas e de chegar onde jamais pensarão em ir...

Anónimo disse...

Caro,
Na minha visão das coisas há os "invejados" e os "invejosos".
Para mim, o Rui é um "invejado" e o Mário é um "invejoso".
Se assim não fosse o Mário não perderia tanto tempo a discutir como os outros gastam ou deixam de gastar o tempo e o dinheiro.

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o ultimo comentário, eu que me incluo no lote dos "invejosos" mas que me excluo completamente do lote dos que criticam os "invejados" pois é através destes que podemos viver os desafios e descobrir os prazeres e maravilhas de que realmente este nosso mundo é feito e que por uma ou outra razão somos nós próprios privados de os experimentar. Por isso bem haja Rui, por tudo o que faz e pelo prazer que me dá ao ler as suas crónicas, e pode estar certo que as suas vivências são por mim e por muitos invejadas...

White Angel disse...

OI Rui,

Não vim aqui para dar a minha opinião como ja sabes eu so faço o que me dà muito prazer... e caminhar na serra da mais do que muito prazer... E por falar em serra, acabei de chegar de Fafião e descobri que vive là uma senhora que se chama "Maria Olinda" e foi cozinheira nas Minas dos Carris. E natural da Lapela mas casou e foi viver para Fafião. Se Falares com a D. Zeza do Retiro do Gerês, ela saberà te dizer quem é... Espero que seja util...

Entretanto descobri mas setas azuis (mas estas je desgastadas pelo tempo)num penedo por baixo da Roca do Touro, entre Pincães e Fafião...

Abraço Montanheiro

Preto disse...

Também há aqueles, e conheço alguns, que apenas vão para a montanha, para a serra, porque... porque... bem, àqueles que fazem a apologia do sofá não consigo explicar. Mas experimentem fazer 2, 3, 4 horas de caminhada e, chegados ao sofá de pedra e tojo, contemplar a vista de tudo o que não é do homem, da paz, do silêncio, do regresso às origens, de nos sentirmos em casa sem sequer ter uma porta para abrir ou uma cerâmica branca para dar a 'mijinha'... há coisas que não se explicam, sentem-se.
A quem prefere o pó da praia ao domingo não consigo explicar o pó das botas que apetece guardar no final do dia...
Aos que ainda assim não compreendem... é deixá-los falar...

Grande abraço Rui, e continuo disponível para a limpeza aos Carris.

Alexandre Nuno disse...

Há razões que a razão desconhece.Eu suspeito sou, porque corro para o monte sempre que posso, mas tal como tudo na vida, há sempre o risco de irmos longe demais , pondo em causa razões maiores. Tendo família e filhos, como minha primeira responsabilidade, não creio que fosse sensato da minha parte atacar o K2. Mas que subscrevo a sanidade mental e energia que a montanha nos concede, neste caso, o Gerês, ai isso quem lá anda sabe que sim.Acho que andar de carro na estrada é muiiiito mais perigoso do que caminhar nesta montanha, aliás, de perigoso só vejo, o não poder ir mais vezes. Que cada um encontre a sua natureza e a abraçe com toda a força, pois por mais que corra, nada mais do que isso trará a verdadeira felicidade. Abaixo a crueldade das touradas e o tempo de antena que se dá ao futebol, novelas e tv em geral.Abraços a todos os comentaristas.

Jorge Nogueira disse...

Olá,

Estive a lêr o Artigo, muito Bom, não foge ao que o Rui, nos habitou desde o inicio.
Quanto a alguns comentários, não posso deixar de sorrir, e não vou acrescentar nada porque não vou perder o meu tempo a tentar elucidar quem não vê o óbvio...