segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Paisagens da Peneda-Gerês (MDXCIX) - Lago Marinho

 


A paisagem invernal do Lago Marinho, Serra do Gerês, memória da época glaciar.

O Lago Marinho é local único no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Carlos M. Ribeiro (que erradamente a refere como 'Lagoa do Marinho'), indica que está "(...) situada no sector sudeste da Serra do Gerês, dentro da bacia de drenagem do ribeiro do Couce (afluente do rio Cabril), a Lagoa do Marinho é uma área endorreica - o escoamento das águas faz-se através de uma depressão interior, sem saída para o mar. 

Parte da sua área envolvente está ocupada por uma moreia terminal em forma de arco. Para os menos conhecedores da matéria, as moreias são um amontoado de sedimentos com diversas dimensões, que foram transportados e acumulados pelo glaciar à frente e aos lados da língua glaciar, até quando e onde este se fundiu. Quando observadas ao pormenor, permitem a reconstituição do movimento glaciar, e são um indicador fundamental dos limites de máxima extensão da glaciação. Significa isto que, o limite de um dos glaciares que ocupou a Serra do Gerês, foi a Lagoa do Marinho. 

Com uma orientação nne-ssw, esta é ocupada por uma turfeira com cerca de 100 metros de comprimento por 50 metros de largura. A título de curiosidade, as turfeiras são habitats naturais de elevado valor biológico que ocorrem em biótopos permanentemente encharcados. São consideradas um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, e a acumulação do CO2 é vista como uma das alternativas para atenuar o aquecimento global - na sua maioria são atapetadas por musgos (género Sphagnum), onde coexistem também bolas de algodão (Eriophorum Angustifoliumas), Urzes (Calluna Vulgaris), Tojos (Ulex Minor) e plantas insectívoras como a Orvalhinha (Drosera Rotundifolia). 

Topograficamente, esta lagoa posiciona-se dentro de uma área de relevo aplanado sobre um substracto granítico a cerca de 1200 metros de altitude. (...)."

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (29 de Dezembro de 2025 a 5 de Janeiro de 2026)

 


Janeiro irá chegar com tempo frio e possibilidade de queda de neve a cotas baixas. Mas sosseguem, que isto pode dar em nada...



domingo, 28 de dezembro de 2025

Paisagens da Peneda-Gerês (MDXCVIII) - A sombra efémera e o final do ano

 


Dos elementos principais da fotografia, a sombra do carvalho e o Camalhão (alto das Rúbias), a estes são atribuídos o simbolismo do momento nesta última caminhada de 2025 ao Vale de Teixeira, Serra do Gerês. O céu azul sem núvens reflecte a perfeição de algo de novo que se eleva no horizonte, um vislumbre do novo ano que nesta altura se aproxima. A sombra efémera do carvalho representa os últimos dias do velho ano que finda, passando o testemunho das memórias que o transbordam.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 27 de dezembro de 2025

Serra do Gerês - Por paisagens de Inverno ao Lago Marinho e Mina de Borrageiros

 


Iniciada na aldeia de Xertelo, a jornada em direcção ao Lago Marinho fez-se seguindo o traçado do Trilho dos Poços Verdes do Sobroso (PR9 MTR) que passa junto do curioso moinho de cubo vertical à entrada da (nova) levada que nos levaria até à estrada florestal nas imediações do vale do Ribeiro do Penedo.

Desde o início que se perspectivava um excelente dia de montanha! Uma semana após o grande nevão, a Serra do Gerês ainda se engalanava de branco e os seus picos brilhavam à luz do Sol que despontava. O dia estava frio e por vezes o vento soprava um pouco mais forte, fazendo arrastar as nuvens pelas encostas escarpadas ou escondendo os píncaros mais elevados.





Chegando ao Ribeiro do Penedo, seguimos tomamos a estrada de montanha aberta nos anos 50 pela Companhia Portuguesa de Electricidade para a construção das represas que, mediante um conjunto de túneis, conduzem a água do diversos ribeiros para a Barragem de Paradela. A estrada percorre a encosta da Bela do Lobeiro, descendo à Ponte das Lajes dos Infernos, seguindo depois pela Corga das Quebradas. No lado direito da estrada, surje então um conjunto de mariolas que nos fará subir o Peito do Galo até ao Lago Marinho.

Ao longo da subida o cenário é soberbo! À medida que a Corga de Sobroso se afunda na paisagem, os altos serranos encrespam-se, tomando o seu lugar no dicionário das exaltações que vamos procurando a cada paragem para recuperar do esforço. A parte inicial da subida mostra-nos outra perspectiva das escarpas das Lajes dos Infernos onde parecemos vislumbrar misteriosas cavernas quase inacessíveis. Os efeitos de luz e sombras, tornam aquele cenário misterioso e digno de contemplação. Lá ao fundo, a Corga de Sobroso curva-se e esconde-se para lá da Terra Brava, percorrida pelas torrentes do nervoso ribeiro engrossado pelo lento degelo, criando e escavando poços numa acção de milénios ao longo do seu leito. Os Chamiçais surgem como o eterno vigia de toda a paisagem numa contorção de rugas, covas e corgas que são típicas da Serra do Gerês. Subindo ao longo da crista, o nosso horizonte vai-se afundar na magnífica e profunda Corga de Pena Calva rodeada pela Ladeira de Chamiçais e pela Ladeira de Pena Calva. Estamos mergulhados nas magníficas paisagens graníticas da Serra do Gerês onde os diversos aspectos da Natureza se conjugam numa harmoniosa orquestra de emoções. Os seus picos cobertos de neve, relembram-se de outras épocas onde as invernias eram mais duras e duradouras.





Actualmente todos vivemos num mundo dominado pelas máquinas. Quase não restam no nosso deteriorado planeta espaços livres, onde possamos esquecer a nossa sociedade industrial e testar, sem sermos incomodados, as nossas faculdades e energias primitivas. Em todos nós esconde-se uma saudade do estado primogénito, com o qual podíamos calibrar-nos com a Natureza e enfrentá-la, descobrindo-nos a nós mesmos. Aqui está basicamente a razão de não haver para mim uma meta mais fascinante que esta: um homem e uma montanha.

Reinhold Messner





A dura subida que encetamos vai terminar no Lago Marinho, local único no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Sobre o Lago Marinho, Carlos M. Ribeiro (que erradamente a refere como 'Lagoa do Marinho'), indica que está "(...) situada no sector sudeste da Serra do Gerês, dentro da bacia de drenagem do ribeiro do Couce (afluente do rio Cabril), a Lagoa do Marinho é uma área endorreica - o escoamento das águas faz-se através de uma depressão interior, sem saída para o mar. 

Parte da sua área envolvente está ocupada por uma moreia terminal em forma de arco. Para os menos conhecedores da matéria, as moreias são um amontoado de sedimentos com diversas dimensões, que foram transportados e acumulados pelo glaciar à frente e aos lados da língua glaciar, até quando e onde este se fundiu. Quando observadas ao pormenor, permitem a reconstituição do movimento glaciar, e são um indicador fundamental dos limites de máxima extensão da glaciação. Significa isto que, o limite de um dos glaciares que ocupou a Serra do Gerês, foi a Lagoa do Marinho. 

Com uma orientação nne-ssw, esta é ocupada por uma turfeira com cerca de 100 metros de comprimento por 50 metros de largura. A título de curiosidade, as turfeiras são habitats naturais de elevado valor biológico que ocorrem em biótopos permanentemente encharcados. São consideradas um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, e a acumulação do CO2 é vista como uma das alternativas para atenuar o aquecimento global - na sua maioria são atapetadas por musgos (género Sphagnum), onde coexistem também bolas de algodão (Eriophorum Angustifoliumas), Urzes (Calluna Vulgaris), Tojos (Ulex Minor) e plantas insectívoras como a Orvalhinha (Drosera Rotundifolia). 

Topograficamente, esta lagoa posiciona-se dentro de uma área de relevo aplanado sobre um substracto granítico a cerca de 1200 metros de altitude. (...)."






Após uma breve visita ao Lago Marinho, e de um vislumbre dos Currais de Lagoa, seguimos na direcção do Abrigo de Lagoa onde se fez um pequeno descanso antes de enveredarmos pela parte seguinte da jornada: a Mina de Borrageiros. 

Saindo em direcção a Norte, o caminho leva-nos por paisagens de velhos glaciares, passando por chãs e nas imediações de velhos currais. De repente, por entre a vegetação, surge-nos o vislumbre de uma velha ruína: a Casa do Padre Júlio. Hoje conhecida como a 'Casa do Padre', em Couço, Cabril, as ruínas que ali vemos são muito antigas e a sua história perde-se já na penumbra da memória, mas alberga a história de um padre que por ali andou fugido.





Segundo nos refere Ulisses Pereira, de Cabril, "nos princípios do século XX, havia um padre na freguesia de Cabril que se chamava Júlio e que era da freguesia próxima de Ruivães. Em tempos, o Padre Júlio tinha sido capelão da monarquia e como em Portugal a República tinha sido recentemente proclamada, o padre viu-se acoitado pelos repúblicanos. Como o padre Júlio era um fervoroso adepto da monarquia, passou então a ser perseguido e a determinada altura os guardas invadiram a igreja para o prender.

Felizmente, a população escondeu o infeliz padre e lhe colocou uma croça, levando-o serra a cima dissmulado por entre as escarpas e penedias, até à casa rústica que já existia então no Couço, pois nessa altura ainda não existia o Abrigo de Lagoa, somente o forno. A partir dessa altura a casa passou a ser designada pela Casa do Padre, e apesar de pertencer a freguesia de Cabril, a casa foi utilizada até meados do século XX pelas gentes da freguesia, nomeadamente pelos caçadores quando faziam as caçadas (batidas) aos lobos e aos corços.

Há já muitos anos abandonada, nos nossos dias a casa é uma ruína da memória de dias passados no isolamento da serra nos tempos onde as distâncias se mediam em saudade. Estas são pequenas histórias que a oralidade vai passando de pais para filhos, de avôs para netos, e que nos ajudam a preencher o belo quadro que é a História da Serra do Gerês. Lendas e mitos que foram surgindo nas longas noites de invernia, contadas ao calor do borralho enquanto que o vento uivava lá fora e a neve ia preenchendo os cantos dos portados".





Deixando as ruínas para trás, surge-nos então a pequena corga que desemboca no Curral do Couço e que no seu topo abriga as ruínas da mineração em Borrageriros.

Local de profundo silêncio, a área guarda as memórias da mineração no princípio do século XX. O manifesto mineiro para a mina de ‘Borrageiros’ foi entregue na Câmara Municipal de Montalegre a 18 de Setembro de 1916 por José Frederico Lourenço da Cunha, de 32 anos e residente em Caminha, que descobriu naquele local por inspecção de superfície uma mina de volfrâmio e outros metais. O ponto de partida para a demarcação da concessão mineira 949 ficou definido a 300 metros a partir do alto dos Borrageiros medidos no rumo nascente, seguindo até ao Penedo Redondo, daqui até ao Ribeiro do Couce e o curso do mesmo ribeiro até à sua nascente, confrontando pelo nascente com o marco geodésico de Chamições (Chamiçais), do poente com Carris, do Norte com Matança e do Sul com Cidadelha (Cidadelhe). Por endosso, a mina seria cedida a Paul Brandt, cidadão suíço de 37 anos residente no Porto, e a António Lourenço da Cunha, de 43 anos residente em Caminha e gerente da Empresa Hidro Eléctrica do Coura, Lda. Em Outubro os vários filões são estudados pelo Professor F. Fleury, do Instituto Superior Técnico, o qual procede à recolha de amostras que submete para análise pelo Professor Charles Laspierre. Em Novembro, Paul Brandt e António Lourenço da Cunha, requerem o reconhecimento oficial do jazigo. O Engenheiro Chefe de Repartição de Minas, Manuel Roldan y Pego, emite os éditos de concessão a 17 de Novembro, sendo publicados no Diário do Governo a 22 de Novembro de 1916.

Sem meios de acesso para viaturas, os trabalhos na mina sempre foram rudimentares e inicialmente executados à superfície. O minério obtido no Verão de 1917 era transportado por muares para a casa do juiz de paz de Cabril, José Maria Afonso Pereira, onde ficava depositado. No local da mina não existiam habitações confortáveis e capazes de resistir aos rigores invernais da Serra do Gerês. Após os primeiros trabalhos no Verão de 1917 onde terão sido obtidos cerca de três toneladas de minério, os dois detentores do registo mineiro solicitam a 26 de Dezembro que lhes fosse permitida a transferência do minério para Frades do Pinhedo.

A Mina de Borrageiros tem assim uma história mais antiga do que as Minas dos Carris, porém, infelizmente, parte dela perdida para sempre.





Após a passagem pela Mina de B0rrageiros, seguimos pelo velho Curral dos Sargaços, chegando então à estrada de montanha que nos levaria de volta a Xertelo passando pelos Currais de Virtelo e Corga das Quebradas, seguindo então o traçado de volta do Trilho dos Poços Verdes do Sobroso e terminando esta caminhada promovida por RB Hiking & Trekking.

Ficam algumas fotografias do dia...


























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)