terça-feira, 7 de novembro de 2023

353... Minas dos Carris

 


As paisagens de Outono ao longo do Vale do Homem levaram-me a percorrer a distância até às Minas dos Carris num dia de chuva e cada vez mais frio à medida que ia ganhando altura.

No dia anterior, e enquanto calçava as botas na Portela do Homem, uma grande chuvada foi o suficiente para me fazer voltar atrás e rumar de novo ao Campo do Gerês. A perspectiva de caminhar num rio paralelo ao Rio Homem, foi o suficiente para deixar a caminhada para o dia seguinte, mesmo sabendo que a previsão de neve nesse dia era a mais provável.

Pois, desta vez, lá rumei vale acima e desde cedo as paisagens de Outono - que lá não estavam na última caminhada - embelezaram o vale, fazendo companhia aos azevinhos que anunciaram a época já em finais de Setembro.

Uma vez ou outra, a chuva fazia-se notar, mas nada que se comparasse ao dia anterior. De facto, por momentos, a sensação de calor da caminhada ia tomando o seu lugar, mas nada que uma paragem não viesse a resolver.

À medida que ia olhando para o topo do vale, para aqueles pontos estratégicos que nos indicam se a neve estará lá ou não, ia-se tornando evidente que, o que havia caído no dia anterior, já teria desaparecido.

Aqui e ali, ia tentando um vislumbre de uma cabra-montês mais atrevida; acabariam por aparecer no sítio do costume, no alto daquele castelo de vigia a todo o vale. Tirando isso, sinal algum apareceu de viva alma... a não ser o Paulo Figueiredo que surgiu qual D. Sebastião por entre a bruma já quase na chegada à Corga da Carvoeirinha. Foi por aqui por onde segui para chegar ao complexo mineiro. Passando o Salto do Lobo, chegava ao topo da Corga da Lamalonga e daqui à Fonte do David, pois estava necessitado de água para hidratar e para o café!

As ruínas estavam envoltas em nevoeiro, dando-lhes aquele aspecto que vi pela primeira vez já no longínquo Setembro de 1989. Por momentos, a neve apareceu só para me dar o gosto de a ver cair... foi "Sol de pouca dura..." Procurando refúgio do vento gelado no único local coberto, descansava enfim e retemperava forças com um café bem quente.

Fiquei por ali uns minutos, sentado no silêncio daquele espaço a ver o cenário mudar de um tom cinza, para um vislumbre nítido. Enquanto o vento uivava nas frinchas daquele abrigo improvisado e as gotas de água iam caindo do tecto, procurava mais uma vez um sentido para todas estas caminhadas, só para chegar à conclusão que não há necessidade de haver qualquer sentido. Caminha-se àquele lugar não apenas porque «está lá», mas também porque procuramos a tranquilidade, o isolamento e o sossego de um mundo cada vez mais distópico.

Antes do regresso, não podia deixar de passar pelo lugar do posto meteorológico debruçado sobre as Negras e calcorrear os carreiros inundados até à Represa dos Carris. Passando depois pelos primeiros edifícios, lá notei o resto de neve que havia ficado da «loucura» do dia anterior.

Iniciava a descida repetida tantas vezes pelo mesmo caminho e mais uma vez o amaldiçoei, fazendo juras de nunca mais o descer... serão certamente em vão.

Nota curiosa para a visão que tive do vigilante do vale e que já havia testemunhado há uns meses. Exactamente no mesmo sítio, como que a dizer "eu sei quem tu és, sê bem-vindo!", um macho que cabra-montês guardava o vale na sua posição de atalaia altaneira.

Ficam algumas fotografias do dia...








































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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