quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O Parque Nacional não é a vossa latrina nem o vosso caixote do lixo


Muitas das situações que se têm observado no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e mais precisamente nas zonas turísticas da Serra do Gerês, têm a ver com a forma como as pessoas se relacionam em sociedade. Imperando o individualismo e a sobrevalorização do 'eu' em detrimento do 'nós', a presença massiva de visitantes leva a que a nossa única área protegida (ainda) com estatuto de Parque Nacional seja transformada numa latrina ou num gigantesco caixote do lixo.

Não é necessário sequer deixar as Caldas do Gerês para que se tenha uma ideia da forma como a maior parte dos visitantes desta área protegida se comporta. Se no entanto nos aventurarmos em zonas perto de lagoas ou zonas de merenda, não nos podemos abstrair do ridículo hábito que prevalece de deitarmos o que já não nos é útil para o chão ou mesmo continuar a atafulhar um caixote do lixo já cheio com mais detritos. Talvez não seja má ideia acabar-se com os caixotes do lixo e cada um ser de facto responsável e responsabilizado pelo lixo que cria.

Não entendo também como muitos visitantes ávidos de uma foto para o facebook ou para o instagram ainda consegue mergulhar ou mesmo entrar numa lagoa onde a água já não corre, já mudou de cor e começa a ter um cheiro fétido! São os momentos dos famosos que por vezes por cá vêm e que incutem ainda mais estupidez em decisões já de si mal tomadas. Curiosamente, e para além de se maravilharem com as cores pálidas e as paisagens secas e tristes de um Verão tórrido, ainda não vi ou li de algum famoso uma mensagem de apelo à preservação do Parque Nacional da Peneda-Gerês! Devo estar distraído certamente!!!
O Rui Humberto decidiu com bravura fazer uma pequena caminhada entre o Arado e o Poço Azul (que parece que de azul já nada tem, tal a forma a água está já inquinada de urina que fermenta ao calor numa corrente que quase já não existe), e enviou-me as fotografias que aqui podem ser vistas.

Além do lixo, continua o campismo selvagem (por vezes patrocinadas por empresas de turismo fora do território), os churrascos em tempo de Situação de Alerta, as colunas de música a debitar ruído, o estacionamento abusivo, os comportamentos de risco em cascatas e lagoas, o desrespeito pela propriedade privada e o desrespeito por quem todo o ano vive no território.

Pode haver muita coisa má na gestão do PNPG por parte do ICNF, mas o ICNF não tem as costas assim tão largas!

Devemos nos questionar que turismo queremos: se um turismo de qualidade num território de qualidade, se um turismo de massas no Verão para depois nos queixarmos da sazonalidade...




 

 

Fotografias © Rui C. Humberto (Todos os direitos reservados)

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