segunda-feira, 15 de maio de 2017

Histórias do povo de Cabril - O pão, sua importância, seu culto e religiosodade


Na freguesia de Cabril nunca houve conhecimento de fornos comunitários e quase todas as casas tinham o seu forno, com o seu tamanho a variar dependendo da grandeza da casa e do agregado familiar. Havia casas que era necessário um carro de bois de lenha só para o aquecer.

As pessoas das várias aldeias da freguesia, também praticavam um sistema que lhe chamavam as "tornas" que não era mais que uma forma de garantir sempre pão fresco, pois quando coziam o pão também coziam para os vizinhos, e os vizinhos faziam igual, e esse sistema de "tornas" era uma garantia de ter sempre pão fresco em casa, pois coziam sempre em dias diferenciados. 

O pão era e é sagrado. Se caia pão ao chão, involuntariamente, devia beijar-se 3 vezes. Não se devia por a mesa sem nela colocar antes o pão. O pão da ceia de Natal não endurecia e tinha a virtude para as dores de cabeça. O pão que era benzido no carolo de S. Sebastião não apodrecia.



Quando a massa era colocada na maceira para levedar, dizia-se sempre esta oração, fazendo uma cruz na massa, com a mão direita:

S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede, 
S. João te faça pão, 
Pela graça de Deus e da Virgem Maria,
Padre-nosso, Ave Maria

Ou então, dependendo das aldeias:

S. Mamede te levede 
S. Vicente te acrescente 
S. Agostinho te faça gostosinho 

Terminada a tarefa de meter o pão no forno, o forneiro dizia, fazendo 3 cruzes com a pá, na boca do forno:

Deus te acrescente, 
O Diabo te arrebente,
pela graça de Deus e da Virgem Maria. P-n. A-m
Rezem por alma de quem o cá deixou.

Nos dias de hoje, em todas as aldeias da freguesia de Cabril não são mais de meia dúzia de pessoas que ainda continuam a cozer o pão desta forma ancestral. 



Texto e fotografias © Ulisses Pereira (Todos os direitos reservados)

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