terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O pós-Guerra nas Minas dos Carris


O conflito mundial termina na Europa com a capitulação da Alemanha Nazi a 7 de Maio de 1945. O Japão iria capitular a 2 de Setembro após o holocausto nuclear de Hiroshima e Nagasaki. O previsível fim do conflito mundial levou a que as empresas com ligações à Alemanha abandonassem de forma gradual as concessões mineiras em território português. Este abandono foi-se dando no decorrer do segundo semestre de 1944 e em princípios de 1945. O abandono em muitos casos foi repentino e muito apressadamente “…que até as suas coisas pessoais deixaram para trás.” Hans Carl Walter Thobe, que para além da sua gestão na Sociedade das Minas dos Castelos participou em equipas de direcção das várias empresas da Minero-Sílvicola, continuaria a residir em Portugal. Mais tarde iria, juntamente com Karl Heinrich Jacob, representar os interesses alemães em 1960 e 1961, em actos notariais que oficializariam a liquidação de sociedades mineiras.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo de Salazar cria uma Comissão Governamental que tem como objectivo a inventariação dos bens alemães abandonados nas instalações mineiras e a 18 de Fevereiro de 1946 o Ministro da Economia nomeia uma Comissão Administrativa para as sociedades que eram então classificadas como germânicas e dirigidas pelo grupo Minero-Sílvicola. Esta Comissão era composta por Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão, Leonard Dismore, Herman Kasper e Bernard Blanger, estando sediada nas antigas instalações da Minero-Sílvicola no Porto. Ao mesmo tempo era nomeada uma Comissão Liquidatária, também liderada por Carlos Mourão, que teria como função vender os bens alemães existentes nas concessões mineiras. Entretanto a estadia do Eng. Francisco da Silva Pinto como Director Técnico da concessão mineira do Salto do Lobo (e das restantes concessões) termina em finais de 1945 e a 2 de Janeiro de 1946 é proposto como novo Director Técnico o Eng. Civil Pedro Simões. Pedro Simões pouco tempo ocupa este cargo pois a 2 de Abril é proposto pela Comissão Administrativa como Director Técnico, o Eng. Civil e de Minas Augusto Barata da Rocha.

No total são 16 concessões mineiras. Muitas destas concessões, que acabaram por não ser exploradas tendo sido somente palco de sondagens, podem ser o reflexo do número de pedidos de concessões resultantes dos primeiros anos de conflito entre Domingos da Silva e o grupo de José Maria Gonçalves de Freitas. 

A Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos informa o Eng. Francisco da Silva Pinto a 12 de Julho de que a Sociedade Mineira dos Castelos havia apresentado um novo Director Técnico cuja sua situação é declarada legalizada a 18 de Julho. A 31 de Agosto é dado o parecer favorável para a nomeação do Eng. Augusto Barata da Rocha como Director Técnico, referindo-se nesse mesmo parecer que a nomeação do Eng. Pedro Simões não havia sido dado seguimento. Um novo parecer favorável tem data de 11 de Novembro e o despacho de aprovação é datado de 9 de Dezembro, sendo publicado no Diário de Governo de 30 de Janeiro de 1947.

Entretanto, a 11 de Abril de 1946 é solicitada a concessão definitiva da mina de volfrâmio do Salto do Lobo e a 16 de Abril é nomeado um novo membro para a comissão liquidatária, com o Dr. Henrique de Sousa Gomes a juntar-se a Carlos Mourão (Presidente) e a Hermann R. Kasper (vogal) que haviam sido nomeados a 17 de Março. A 11 de Junho é levado a cabo um novo reconhecimento e demarcação definitiva da concessão mineira do Salto do Lobo que mantém a sua forma inicial. Por esta altura estamos perante um campo mineiro com várias instalações que constam de uma camarata com dez divisões para o pessoal da mina, um pavilhão com escritório e cantina também para o pessoal mineiro, um refeitório, balneários, enfermaria, nove armazéns, uma cantina para a direcção da mina, uma casa com sete divisões para famílias e uma casa de compressores.

De referir que a extracção, tratamento e comercialização dos minérios de volfrâmio, estão suspensos no território nacional entre Junho de 1944 e Dezembro de 1945 / Janeiro de 1946, por decisão do Governo de Oliveira Salazar, com a “…efectiva retoma dos trabalhos no subsolo e de exportações continuadas…” a ocorrer somente em Dezembro de 1946.

Entretanto, o parecer favorável da Secção de Minas do Conselho Superior Minas e Serviços Geológicos para a concessão definitiva do Salto do Lobo é dado a 30 de Janeiro de 1947 com o alvará n.º 3817 referente à concessão 2234 “Salto do Lobo”. O alvará definitivo é atribuído por tempo ilimitado, e lavrado nos Paços do Governo da República a 3 de Março, é publicado no Diário do Governo de 15 de Março de 1947. Sendo o Salto do Lobo a principal concessão mineira na área, também decorriam trabalhos relacionados com outras concessões. A 10 de Novembro de 1946 uma brigada da Circunscrição Mineira do Norte (composta por Renato Vieira Pousada, Adelino dos Santos Lemos e por Eurico Lopes da Silva) visitava o campo mineiro para proceder à demarcação da mina da Corga das Negras n.º 1.

A 9 de Maio de 1947 são publicados os éditos de concessão das minas de Cidadelhe, Lamalonga n.º 1, Lamalonga n.º 2, Lamalonga n.º 3 e Pinhedo, todos atribuídos à Sociedade Mineira dos Castelos.

O édito de concessão da Lamalonga I é publicado no Diário do Governo de 12 de Junho de 19471. O édito de concessão da Lamalonga I (não o que é publicado no Diário do Governo) tem como primeira data o dia 6 de Setembro de 1943, sendo rasurada para 9 de Maio de 1947. O alvará de concessão provisória (alvará n.º 4074) para a mina da Corga das Negras I é atribuído a 9 de Janeiro de 1948, sendo atribuído por um período de 3 anos. Este alvará será publicado no Diário do Governo de 11 de Fevereiro. O alvará é enviado para a sociedade mineira a 24 de Fevereiro, sendo recebidos a 27 de Fevereiro. Juntamente com o alvará da Corga das Negras I são também enviados os alvarás das concessões da Lomba do Viso, Gralheiros, Escouva, Alto das Tentieiras, Alto do Rosso e Cabeça do Homem n.º 1.

Finda a Segunda Guerra Mundial e com o «abandono» das concessões em 1944/1945 devido ao já previsível fecho do conflito bélico, as Minas dos Carris entram numa fase de suspensão dos seus trabalhos. No entanto, com a nova ordem mundial que se estabelece no planeta, existe uma Cortina de Ferro que se ergue agora na Europa e que vai fazer tender os dois pratos de uma mesma balança ora para o Bloco Comunista liderado pela União Soviética, ora para o Bloco Capitalista liderado pelos Estados Unidos. É nesta intricada conjuntura mundial que acaba por ser criada nas cinzas do maior conflito mundial, que as concessões mineiras nos Carris irão assistir ao seu grande desenvolvimento e ao seu apogeu como um campo mineiro quando novos conflitos regionais fazem ressurgir a necessidade do volfrâmio.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa (Dezembro de 2013)

Fotografia © Artur Batista / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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