Teve lugar entre 7 e 9 de Agosto de 2015, o IIº Fiadeiro de Contos de Pitões das Júnias.
Infelizmente, só tive a oportunidade de estar presente no segundo dia. De qualquer das formas, foi uma experiência gratificante e enriquecedora. Se os dias de Verão dão um toque sublime aos contos ao ar livre, não seria de deitar fora a possibilidade de se criar uma iniciativa que recreasse estes momentos ao calor de uma lareira acesa numa noite de invernia.
A aldeia encontrava-se bem composta com os seus habitantes, o regresso de alguns de por esta altura visitam as suas raízes trazidos pela saudade e os forasteiros que responderam ao chamamento dos tempos idos e das histórias que ali seriam contadas.
O dia 8 de trouxe-nos Carlos Marques, António Fontinha e a música dos Pé de Cabra, a fechar o dia. Ao escutar aquelas histórias, o tempo pára (ou passa mais depressa), pois nem damos por ele passar. Deixamo-nos envolver pela fantasia da menina gulosa ou do sapo esperto, ou então dos três irmãos que partiram em busca de uma vida melhor, mas tendo sempre no pensamento o local onde nasceram a a família pronta a os acolher.
Pitões das Júnias ganha assim por alguns dias um novo sorriso!
Duas palavras finais... a primeira vai para os organizadores deste evento. Tomara muitas das nossas aldeias terem jovens que amam a sua terra (ou será mesmo paixão?) Estes jovens que não deixam a aldeia morrer ou apenas transformar-se num amontoado de casas de turismo, são a alma que mantêm vivas as boas tradições. A eles, todo o meu agradecimento por esta iniciativa e que se mantenha por muitos anos.
Porém, não há bela sem senão... estas iniciativas dão vida a aldeias como Pitões das Júnias que durante muitos dias se encontram isoladas na solidão da montanha. Este evento deveria merecer um pouco mais de respeito por parte de alguns dos seus habitantes que simplesmente ignoram o evento e não se importam de perturbar o seu decorrer. Seria algo que deveriam reflectir...
Da página oficial do Fiadeiro de Contos:
Encontro de Contadores de Histórias em Pitões da Júnias
Considerada um bom instrumento de integração social, a cultura tem um importante papel no desenvolvimento local, representando uma peça fulcral na educação, na fixação das pessoas nas suas localidades e no aumento da sua auto-estima.
A sua presença num determinado território, cria um estímulo para a forma de encarar o dia a dia, ao dar mais representatividade à vida da comunidade local, promovendo e fortalecendo os laços entre as pessoas e sendo ainda um meio de atrair visitantes, contribuindo assim para o enriquecimento socioeconómico da região em que se insere.
É neste contexto que surge a criação do Fiadeiro de Contos.
Tradicionalmente, as histórias (na forma de fábulas, mitos ou baseadas em acontecimentos reais), eram passadas de geração em geração. Num tempo em que não se ouvia rádio, nem havia televisão, contar e ouvir histórias era um dos passatempos principais.
Serões familiares onde também se reuniam amigos e vizinhos, eram o palco privilegiado para os mais velhos contarem histórias que os próprios já tinham ouvido dos seus pais e avós, transmitindo desta forma a herança da identidade de uma comunidade e região.
Em Portugal, apenas a partir dos anos noventa se testemunha o surgimento de contadores profissionais, tendo vindo quase todos, curiosamente, da prática teatral. António Fontinha, ex-actor, foi o primeiro contador que ganhou reputação enquanto tal, seguido de outros como Ângelo Torres, também actor, Horácio Santos, José Craveiro, entre tantos outros.
Beja torna-se no final desta década, num importante pólo da narração oral do país, graças ao esforço de Cristina Taquelim e da Biblioteca Municipal que em conjunto realizam o Festival Palavras Andarilhas (primeira edição em 1999), onde se reúnem professores e educadores, contadores profissionais e contadores oriundos da tradição oral.
Estando intimamente ligada ao incentivo à leitura, ao entretenimento cultural e à difusão do folclore regional, a figura do contador deve ser recuperada.
Numa altura em que os media dominam a comunicação global, recuperar a tradição oral, parte determinante do património imaterial e da formação da identidade de cada região, torna-se essencial.
Com o Fiadeiro de Contos, trata-se pois de promover a convivência entre os habitantes num encontro de três dias, com contadores de histórias de vários pontos do país e um contador galego. Apesar de não haver um hábito organizado neste sentido, os habitantes da aldeia mantêm informalmente a transmissão de uma tradição oral entre pais e avós. Durante estes três dias instala-se assim uma dinâmica na aldeia entre os vários contadores que participam no evento e o público que virá assistir.
Queremos, com este encontro, preservar e fomentar um hábito que se tem perdido ao longo dos anos: contar histórias como uma forma de fortalecer os laços entre as pessoas, através do encontro e da partilha, reavivando a memória colectiva e preservando o património imaterial. Mas para além de promover o convívio, quer-se também apostar na criação como um pretexto para a abertura da aldeia aos visitantes, incrementando a economia local através da procura de alojamento e alimentação.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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