terça-feira, 21 de julho de 2015

Trilhos seculares - Entre Leonte e a Messe: um passeio pela solidão da serra do Gerês


Desejava um regresso calmo à Serra do Gerês, mas com uma caminhada de encher as medidas. Assim, para este dia havia previsto visitar alguns dos currais mais extremos situados na solidão granítica da serra e envoltos por aquele silêncio que nos permite escutar a alma.

O dia nasceu com nevoeiro e fresco, a contrastar com os dias quentes e secos de um Verão intenso. A caminho do Gerês as nuvens cobriam o Vale do Cávado como um mar calmo. Os píncaros serranos elevavam-se à distância com algumas nuvens.

Depois da passagem pela vila e de uma curta paragem, rumou-se à Portela de Leonte. O vento fresco fazia balançar as árvores e o dia parecia bom para a jornada que se iria delineando à medida que as botas fossem vencendo os declives. Iria por à prova a máquina após quase um mês de paragem.

Como disse, o objectivo era passar por Premoinho, Mestras e Absedo. As opções de início de caminhada a partir de Leonte são várias, mas decidi seguir por Maceira que me iria proporcionar uma chegada mais rápida aos Prados da Messe sem subir a usual encosta até ao Mourô e Vidoal.

O bom das caminhadas solitárias é que podemos e estamos em alerta para escutar todos os pequenos sons, desde o quase imperceptível correr dos pequenos ribeiros, até ao arrastar dos lagartos-de-água, passando pelo longínquo chamamento do pastor.

O Vale de Maceira dá-nos acesso ao Curral de Maceira. O vale prolonga-se mais para dentro da serra, mas aí já há muito que os caminhos estão esquecidos pelo Homem. Seguiu-se a «longa» subida até às Tábuas e a passagem pelo Curral de Carris de Maceira. Daqui, existem duas opções para chegar à Messe, tendo decidido optar pela estreita passagem pelo Pé de Medela que me levou quase até ap flanco Sul das Albas e posterior descida para os Prados da Messe. Por esta altura, e após muitos dias, fiquei feliz por sentir o frio da montanha. Os dias de calor entorpecem-me os sentidos e estas paisagens merecem aquela contemplação transcendental para a qual não temos disposição no pico do Verão.




A paisagem estava coberta pelas nuvens baixas que tapavam o espigão do Pé de Cabril e lambiam os píncaros da Serra Amarela. Imperceptível, uma língua de nevoeiro percorria o Vale de Vilarinho da Furna, vindo a invadir a Mata de Palheiros e a Mata de Albergaria até chegar à Portela de Leonte. De igual modo, o Vale do Rio Gerês encontrava-se encoberto por um nevoeiro que ora tapava a paisagem, ora mostrava os ombros dos gigantes de granito.

No bordo do Curral da Pedra decidi deixar para dias menos nublados a tão ansiada visita àqueles currais longínquos e rumei ao Ribeiro do Porto das Vacas. O calor destes dias secou muitos ribeiros da Serra do Gerês e em dias de calor a procura por água pode-se tornar um pouco árdua.

Passando o charco a que fora reduzido o Ribeiro do Porto das Vacas, rumei ao Curral do Conho, abrigo da vezeira de Vilar da Veiga. No pasto amarelado, várias dezenas de animais descansavam abrigados do Sol encoberto. Uma das vacas não gostou muito da minha presença, uma novidade nestas caminhadas, mas o brandir do bastão foi o suficiente para assustar o pobre animal.

Seguindo o habitual percurso em direcção à Lomba de Pau, passei ao largo do curral de mesmo nome e logo de seguida fui envolto por um nevoeiro que me tapou por momentos a vista para a antena do Borrageiro. Lá no fundo via-se que os vales estavam cobertos pelas nuvens e por momentos um escasso orvalho humedeceu a pele. De novo atravessando ribeiros secos, cheguei à Chã da Gralheira e logo a seguir desci para a Chã da Fonte, passando depois pela Preza, recentemente limpa do matagal que durante anos a cobriu, e desci para o Vidoal, na hora do merecido descanso. O final da jornada fez-se descendo para a Portela de Leonte passando pelo Mourô e Chã do Carvalho.

Uma nota interessante... tendo iniciado a caminhada por volta das 8:00 e terminado perto das 14:30, somente no final da jornada me cruzei com outras pessoas. O dia estava ameno para caminhar, apesar do nevoeiro, mas não deixa de ser estranho que em tantas horas não tenha cruzado com ninguém em percursos que são muito usuais na Serra do Gerês.

Ficam as fotografias do dia...














































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

CHEIRO DA MONTANHA disse...

Excelente descrição. Ao ler senti que estava lá. Abraço.