domingo, 28 de dezembro de 2014

Cruz do Touro na toponímia geresiana


A minha recente passagem pela Cruz do Touro pôs-me a pensar sobre este topónimo (orónimo) da Serra do Gerês.

A questão surge mais uma vez devido à diferença existente entre a folha 30 da Carta Militar de Portugal com trabalhos de campo de 1949 e a folha 30 da Carta Militar de Portugal com trabalhos de campo de 1993.

Assim, a Carta 30 de 1949 parece-nos indicar o orónimo 'Cruz do louro', enquanto que a Carta 30 de 1993 nos indica 'Cruz do Touro'. Esta pode parecer uma questão de menor importância, porém ao olharmos novamente para as duas cartas reparamos que a encosta a Norte da Cruz do Touro é designada por 'Louro'. Levanta-se assim a questão: 'Será que o orónimo que surge na Carta 30 de 1949 está certo?'



De facto, tem-se verificado que a Carta 30 de 1993 apresenta vários erros na localização de vários orónimos, o que nos torna um pouco cépticos em relação à sua qualidade. De salientar que em 1949 muitos dos trabalhos de consolidação da informação existente na Carta Militar de Portugal beneficiou de facto de trabalhos de campo, coisa que provavelmente não aconteceu com a carta mais recente, baseada em imagens de satélite e na interpretação (ou cópia) da informação existente nos documentos de 1949, o que por si só poderá ser um elemento de introdução de erro.

Então de que forma atestar o verdadeiro nome daquele ponto geográfico? Tal como foi feito para o orónimo 'Carris', a melhor maneira será consultar informação mais antiga que possa referir o verdadeiro nome.

Sabendo que aquele ponto foi utilizado como ponto de delimitação da área do Gerês Florestal em finais do séc. XIX, a minha primeira referência foi a utilização de um mapa de Tude de Sousa existente no livro "Serra do Gerez - Estudos, Aspectos, Paizagens" editado em 1909. Infelizmente, tal mapa não foi de grande ajuda pois somente surge o Alto das Eiras como ponto limítrofe naquela zona. Teria então de optar por outra fonte.

Interessava-me saber ali a delimitação da área florestal. No livro "Vilarinho da Furna - Memórias do passado e do futuro" (2005), Manuel de Azevedo Antunes dá-nos a delimitação completa do Gerês Florestal. A sua informação é baseada na "nota cadastral" anexa ao Decreto de 9 de Setembro de 1904 e este refere o 'Marco triangulado da Cruz do Touro'. 

Esta informação parece então confirmar a veracidade deste orónimo e o facto de na Carta 30 de 1949 surgir 'Cruz do louro' poderá dever-se simplesmente ao facto da parte superior do 'T' ter sido sobreposta pela delimitação da fronteira na carta topográfica; curiosamente, na Carta 30 de 1949 o texto surge ligeiramente deslocado para a esquerda para evitar o mesmo problema.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Extractos das Folhas 30 de 1949 e 1993: Instituto Geográfico do Exército

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