domingo, 14 de dezembro de 2014

218... Celebrar o 1º aniversário do livro que conta a história das Minas dos Carris (I)


Minas dos Carris. 13 de Dezembro de 2014

Preciso de alguma razão especial para ir às Minas dos Carris? Não, mas desta vez havia uma razão especial para lá ir. Comemorava o 1º aniversário da edição do meu livro sobre a história daquele complexo mineiro. Esta caminhada comemorativa só faria sentido se fosse através do Vale do Homem e assim foi, tomando para isso os devidos cuidados há já muitas semanas.

A noite fora terrível em termos meteorológicos para os lados do Gerês. Frio, chuva e já sabia que seria garantida a queda e a presença de neve. A questão seria a partir de onde. As previsões irrealistas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera colocavam o limite da cota de neve nos 600 metros. Isto implicava neve em quase todo o Gerês o que se fosse verdade, tornaria complicada a passagem pela Portela de Leonte. Porém, cedo verifiquei que as previsões não estavam certas. A viagem entre as Caldas do Gerês e a Portela do Homem fez-se sem qualquer problema e sem qualquer vestígio (longínquo que fosse) de neve.

O dia mal tinha começado na Portela do Homem e saia em direcção às Minas dos Carris. Esperavam-nos os usuais martirizantes 9,5 km até ao complexo mineiro e por várias vezes a chuva fez-se sentir de forma moderada.

Ao longo do vale sucediam-se as paisagens cobertas de nuvens que não deixavam vislumbrar os cumes da Encosta do Sol. Mal conseguimos ver o fundo do vale para lá do Modorno, chegou a confirmação de que os picos serranos mais elevados estavam cobertos por um manto branco, coisa que é sempre um novo alento numa caminhada que por vezes se torna monótona principalmente quando o chão se torna inclemente com as botas e traiçoeiro com as distracções. Em muitas partes, parecia que o Rio Homem havia mudado de leito tal a quantidade de água que desce pelo velho estradão mineiro. A passagem pela Abilheirinha serviu para o primeiro abastecimento de líquidos e caminhando ligeiros rapidamente chegávamos à Água da Pala. Do outro lado da margem, a Encosta do Sol continuava encoberta pelas nuvens que não deixavam ver as paredes da Bela Ruiva. O mesmo acontecia para os lados da Serra Amarela coberta por denso nevoeiro.

Desta vez a subida (e depois a descida) foi de certa forma facilitada pela recente limpeza que o Parque Nacional da Peneda-Gerês levou a cabo em todo o percurso entre a Portela do Homem e o Modorno. A limpeza das bermas facilita e de que maneira a progressão e evita em muitas partes a penosa caminhada sobre as pedras soltas. Passando o Cagarouço, estava expectante relativamente à limpeza do caminho e foi uma agradável surpresa verificar que daqui para cima (a parte mais penosa em termos de vegetação) todo o caminho foi limpo. De facto, foi muito agradável ver as Curvas do Febra totalmente limpas de vegetação o que me fez recordar de certa forma as primeiras caminhadas aos Carris.


Por esta altura já havíamos notado por vezes que, misturada com a chuva, a neve começava a cair e a primeira queda de neve mais intensa a que assistimos ocorreu por alturas da passagem do Modorno onde parámos por alguns momentos para saborear uma bebida quente e prepararmos o restante caminho. Neste local tem-se uma das paisagens mais icónicas da Serra do Gerês e desta caminhada em particular. Se as minas são representadas pelas suas ruínas, o Vale do Homem é representado pela paisagem que se observa a partir do Modorno. É uma paisagem única em Portugal!

A Água da Lage do Sino fazia-se notar ruidosamente à medida que se despenhava pela encosta em direcção ao jovem Rio Homem. Em cima, a cumeada estava já bem pintada de branco e o «virar a curva» no vale saudou-nos com uma paisagem alpina nas encostas nuas de vegetação. A partir daqui a neve cobria já o caminho e por vezes caia com mais ou menos intensidade à passagem ao Teixo. Daqui, facilmente se observava que nesta altitude a serra estava toda pintada de branco. Assim acontecia com o Outeiro Redondo, com a Corga dos Salgueiros da Amoreira e com o Altas dos Cabrões, bem como com o Outeiro da Meda.

Caminhando já numa paisagem invernal e coberta de neve, passamos pelas Águas Chocas e em pouco chegávamos às Abrótegas. O branco a perder de vista cobria os currais e estendia-se a todo o horizonte para lá do Outeiro do Pássaro e pelas Lamas de Homem. Depois das Abrótegas surge-nos uma larga chã na qual os visitantes são, nestas alturas, fustigados por um vento gélido que nesta ocasião não se fez sentir com muita intensidade e em pouco tempo chegávamos ao troço final antes das minas, subindo a Corga da Carvoeirinha.

Abandonado nos píncaros geresianos, o complexo mineiro dos Carris encontrava-se silencioso e misticamente coberto com um manto branco. A paisagem parecia que não se tinha modificado desde a última vez que ali havia estado a 4 de Novembro, mas desta vez a quantidade de neve era mais pequena. Mesmo assim, e batida pelo vento, a neve moldava as portas e janelas do antigo edifício para os casais e parecia que aumentada a miserável ruína do bairro mineiro, que agora cada vez mais decrépito é a fácil vítima dos rigores dos dias serranos de Outono e Inverno.

Passando os limites da aldeia mineira, era aqui onde a neve mais se havia acumulado. Procurando o último abrigo disponível, dirigimo-nos para lá para um merecido almoço quente antes de completar a usual volta pelas ruínas.

PS - Começo o texto por perguntar se precisava de alguma razão especial para visitar mais uma vez as Minas dos Carris e respondi que não, mas a caminhada aos Carris por si só, é já uma razão espacial.

Algumas fotos do dia...




































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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