quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um aspecto particular da evolução da degradação do complexo mineiro dos Carris


Por várias vezes tenho solicitado o envio de fotografias antigas das Minas dos Carris. Isto terá dois objectivos: o primeiro, como é óbvio, conseguir o maior número possível de fotografias na concretização de uma base de dados fotográfica que permita testemunhar todas as fases das Minas dos Carris; e segundo, concretizar de forma visual os aspectos da evolução do complexo mineiro durante a sua construção, utilização (nas diferentes fases de exploração) e posterior evolução das ruínas nos píncaros geresianos.

Já por várias vezes aqui publiquei exemplos (quase um 'antes e depois') da evolução destas ruínas e no livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês' são várias as fotografias a partir das quais se podem estabelecer essa comparação.

No entanto, existem zonas no complexo mineiro dos Carris que devido à sua pouca importância não são alvo de um registo fotográfico que nos permita uma comparação. Isto é normal, pois se a zona não nos chama a atenção não a iremos fotografar. Se esta premissa é actual no nosso mundo de imagem digital, mais verdadeira seria numa altura em que se contava as fotografias disponíveis num rolo fotográfico. Neste tempo, só uma perspectiva feliz, um jogo de luzes ou um acontecimento no imediato nos faria «gastar» essa fotografia, ficando assim registado para a posteridade possível uma paisagem que de outra forma não mereceria a nossa atenção.

Estes momentos felizes de há dezenas de anos são agora ferramentas úteis na avaliação da evolução daquelas ruínas (como certamente aconteceria noutro lugar qualquer) e do complexo mineiro em geral não só à superfície, mas também ajudar-nos a compreender o que se passa na profundidade e na escuridão das galerias mineiras que não são percorridas há 40, 50 ou mesmo 60 anos!

A fotografia que encabeça esta publicação é paradigmática em relação a tudo o que escrevi aqui. No essencial, a fotografia não nos apresenta aspectos de peculiar importância naquele momento de Setembro de 1984, altura que foi obtida por João Paulo Costa. O fotógrafo pretendeu registar o caminhar dos seus companheiros naquela rampa em direcção às ruínas que jazem ao lado do Penedo da Saudade. Assim, o quadro e a paisagem em si não são transcendentais em termos de registo de uma acção. Porém, João Paulo Costa não imaginava certamente a importância que este testemunho fotográfico teria passados 30 anos.

Mas qual a razão disto? Comparemos então esta fotografia com outras obtidas a 15 de Abril de 1993, 14 de Agosto de 1994, 28 de Fevereiro de 2006, 28 de Janeiro de 2007 e a 2 de Outubro de 2014.

Minas dos Carris, Setembro de 1984 (João Paulo Costa)
Minas dos Carris, Abril de 1993 (Rui C. Barbosa)
Minas dos Carris, Agosto de 1994 (Rui C. Barbosa)
Minas dos Carris, Fevereiro de 2006 (Rui C. Barbosa)
Minas dos Carris, Janeiro de 2007 (Diogo Manso)
Minas dos Carris, Outubro de 2014 (Rui C. Barbosa)

As fotografias são obtidas quase exactamente do mesmo ponto (curiosamente, a fotografia mais recente foi obtida sem haver qualquer intenção de se fazer uma comparação entre as duas imagens) e as diferenças são óbvias.

O local do abatimento, não perceptível, na fotografia de Setembro de 1984, foi onde se procedeu à abertura de um dos primeiros poços mineiros, tal como atesta a fotografia seguinte...
Minas dos Carris, 1943/1944 (José Rodrigues de Sousa; Rui C. Barbosa)

Este poço mineiro foi utilizado em 1943/1944 e dava acesso ao Piso n.º 1, tendo uma secção rectangular de 3,20 por 1,80 metros. Este poço funcionou até à entrada em funcionamento do poço-mestre interior, tendo sido posteriormente perfeitamente entulhado.

O abatimento terá ocorrido entre finais de 2006 e Janeiro de 2007. A evolução deste abatimento tem sido lenta, mas constante ao longo dos anos o que implica que em profundidade as galerias têm vindo a colapsar.

Assim, mais uma vez saliento a importância dos «antigos» registos fotográficos das Minas dos Carris. Existem épocas daquele complexo mineiro que estão mal documentadas em termos fotográficos, tais como são os anos 60 e 70 do século XX. Porém, todos os registos fotográficos são importantes para que a história daquele lugar seja documentada como merece!

Fotografia © João Paulo Costa (Todos os direitos reservados)
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Fotografia © Diogo Manso (Todos os direitos reservados)
Fotografias © José Rodrigues de Sousa / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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