sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O abrigo do contrabando na Serra do Gerês


Impõe-se a questão: 'como é que ele sabe que os abrigos eram usados para o contrabando?' Bom, de facto não sei, mas sendo a Serra do Gerês pejada de relatos históricos da época onde o contrabando era forçosamente uma forma de vida para muitas das populações serranas, é natural que muitos dos abrigos que existem espalhados pela Serra do Gerês, e nomeadamente aqueles que se situam próximos da raia, tenha sido criados e utilizados tanto pelos contrabandistas como pelos elementos da Guarda Fiscal que patrulhavam a serra.

No livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês' faz-se uma breve análise sobre a existência de dezenas de abrigos na área do complexo mineiro. Ora, falo de abrigos de pedra muitas vezes semelhantes aos fornos dos pastores. Porém, muitos existem que se afastam por completo da estrutura usualmente utilizada para a sua construção, tendo uma estruturam quadrangular ou mesmo tirando partido das características do terreno. Se a maior parte destes abrigos toscos terão sido contemporâneos da mineração (Carris, Borrageiro, Cidadelhe, Arrocela, etc.) ou mesmo carvoaria (Teixo, Carris, etc.), outros há que pela sua localização não se enquadram nesta utilização. É certo que haverá abrigos que podem ter sido utilizados pelos pastores, porém muitos estão localizados em zonas onde certamente o pastoreio não ocorria de forma a justificar o dispêndio de energia na sua construção.

Por enquanto não pretendo fazer um registo destas estruturas em determinada zona da Serra do Gerês (sendo este no entanto um trabalho muito interessante que nos permitiria estudar os principais trajectos de contrabando na serra), mas indico aqui alguns abrigos que pela sua localização não deixam de se interessantes.


As três fotografias anteriores mostram uma série de abrigos que estão situados entre os Carris e a Amoreira. Duas estruturas são construídas em pedra solta com perfil quadrangular. Um outro abrigo tira partido dos grandes rochedos para formar parte das paredes e tecto, sendo complementado com outras pedra soltas.

Estas estruturas que terão formado dois abrigos quadrangulares, estão situadas mesmo junto à linha de fronteira que em tempos era um local muito apreciado pelos guardas fiscais para «esperar» os contrabandistas na sua passagem entre Portugal e Espanha. Não muito longe, do lado galego, existe também um abrigo quadrangular.
As ruínas deste abrigo estão localizadas perto do Outeiro da Meda. Pela sua localização, um pouco acima de um pequeno prado a Nascente do promontório granítico, poderá ter sido um abrigo de pastores (forno). No entanto está localizado relativamente próximo do Curral de Amoreira onde existe um forno de grandes dimensões e em bom estado de conservação. 



Não terei muitas dúvidas sobre a utilidade deste abrigo que tira partido de uma grande laje sendo um dos lados salvaguardado por uma parede de pedra solta. No chão ainda são visíveis torgos utilizados para a fogueira. Localizado em zona inóspita na Encosta do Sol, certamente terá sido um ponto de abrigo de contrabandistas ou carvoeiros.

Fotografias: © Rui C. Barbosa

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