terça-feira, 12 de agosto de 2014

Trilhos seculares - De Vilarinho a Garfe


Um dia, bastou um pequeno arco a mostrar a localização de uma ponte num mapa para despertar a vontade de explorar uma zona da Serra Amarela para a qual muitas vezes olhamos mas que em geral fica fora dos circuitos de caminhada que usualmente percorremos por aquela montanha.

Os meses e as estações foram passando fazendo alterar a paisagem e por vezes mostrando o que pareciam ser velhos carreiros que serpenteiam pelas encostas abandonadas da Serra Amarela. Por vezes, somos nós que na ânsia do conhecimento acabamos por imaginar caminhos onde na verdade eles não existem, o que por um lado nos deve fazer soar um alarme de prudência e cuidado ao visitar locais que pouco conhecemos.

De qualquer das formas, e mesmo com a interminável e imutável passagem do tempo, foi ficando a vontade de um dia conhecer o lugar. As distâncias não são grandes, ao contrário do motivo, e assim neste dia chegou a oportunidade de conhecer um pouco mais da Serra Amarela. O objectivo final seria encontrar aquele velha ponte, mas tendo a plena consciência que as águas da albufeira de Vilarinho à muito já a poderiam ter engolido para um esquecimento da memória dos Homens.

Aquelas são paragens quase abandonadas desde que Vilarinho da Furna desapareceu da paisagem no início dos anos 70 do século XX. Restaram os velhos caminhos de pastoreio e à passagem dos dias resistiram também as velhas mariolas. Pois seriam estes os primeiros sinais de que algo poderia resistir naquelas encostas esquecidas e de facto lá estavam elas por alturas das Toutas. Tal como no Gerês, a Amarela presenteia-nos com uma rede de caminhos que atravessam a paisagem e nos levam a cruzar antigos currais abandonados. Muitos deles apenas apresentam os velhos muros de pedra solta que delimitam áreas sem fornos, desnecessários devido à custa distância de Vilarinho.

Saindo de Toutas e vencendo a pequena crista que nos limita a paisagem, descemos para a chã de Varziela. Perante nós, do outro lado da albufeira, abre-se a Quelha Direita até à Portela do Confurco. A silhueta do Pé de Cabril surge a Sul e a Este a paisagem é limitada pelo extremo Poente do Vale do Homem, pelo Cantarelo, e pelos altos serranos das Albas, Pé de Medela e Carris de Maceira. Um pequeno ponto no céu marca o posto de vigia de Calvos em frente à Costa de Varziela na Serra do Gerês e a Pena Longa destaca-se por entre a vegetação na Mata de Albergaria.

Nesta encosta da Serra Amarela o carreiro vai descendo ora mais íngreme, ora mais suave até chegar à parte superior de Garfe que nos assinala como que um limite antes de um possível descida final até à margem. Nesta zona deveria começar um carreiro que levaria a descer a Costa de Garfe e em tempos descer até à margem do Rio Homem, prosseguindo para o Malhão no sopé da Costa do Altar até Barbeiro e prosseguindo para Palheiros. Como é óbvio, toda a extensão deste caminho encontra-se submersa na albufeira de Vilarinho, aguardando um dia a possibilidade de ser uma vez mais calcorreado quando as águas baixarem por capricho dos homens.

Na extremidade do nosso percurso observamos a magnificência do vale no fundo do qual serpenteia o Rio Cabra (ou Rio Parrade / Parrado). A altivez daquelas paredes é agora impenetrável com décadas de arvoredo e vegetação a tomar posse dos velhos carreiros que em tempos percorriam aquele vale até Porto Covo subindo o Esporão. Aqui e ali as mariolas vão assinalando o caminho que timidamente vai surgindo no chão, mas que acaba por desaparecer por entre o verde do esquecimento.

Algumas imagens do dia...





































Fotografias © Rui C. Barbosa 

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