sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A inevitabilidade


Este é daqueles temas tão gastos, tão gastos, tão gastos, que por vezes custa à racionalidade escrever algo que não leve a um insulto fácil a quem nos governa. Irei tentar não o fazer!

Portugal, mais uma vez, está a viver o flagelo dos fogos florestais. Parece inevitável que em qualquer Verão de um qualquer ano, as notícias na silly season acabem por cair nos fogos florestais, mas simplesmente porque eles estão lá... é inevitável não negar. As causas são sempre as do costume: temperaturas altas, os ventos fortes, a humidade baixa, os maus acessos, os declives, etc... A verdade é que a época de fogos (sim, temos uma época de fogos que é um período no qual toda a gente começa a pegar fogo às florestas... tipo um campeonato para o incendiário que consegue mais área ardida) é uma inevitabilidade em Portugal.

No entanto, não deixa de ser estranho o facto de já ter assistido a várias entrevistas onde os responsáveis da Protecção Civil fazem questão de sublinhar que os «trabalhos de casa» não são feitos, isto é, que os donos dos terrenos não os limpam de forma conveniente. Isto também me parece uma inevitabilidade e todos os anos este facto é também apontado como um factor potenciador dos fogos florestais.

Porém, até ao momento, não tenho escutado nada sobre o eterno problema português neste aspecto. Este ano os bombeiros têm sido severamente castigados em termos de baixas no combate aos fogos. Sejam eles voluntários ou sapadores, a verdade é que estes homens e mulheres se sacrificam para que as nossas florestas e áreas verdes não sejam demasiado castigadas pelos incêndios, porque o serem é uma inevitabilidade.

Assim, 2013 junta-se, como não podia deixar de ser, à lista dos annus horribilis dos fogos florestais. A pergunta impõe-se, 'Está Portugal preparado para combater este flagelo?' A resposta é óbvia e inevitável: 'É claro que não!' Outra simples questão impõe-se: 'Porquê?' A resposta poderia ser mais longa, mas pode-se reduzir aos interesses comerciais e às negociatas que envolvem todo este combate.

Ao longo de décadas desperdiçaram-se recursos que poderiam ser investidos na prevenção e acima de tudo na criação de uma força que fosse um novo ramo das Forças Armadas destinado única e exclusivamente ao combate aos fogos florestais. Este deveria ser equipado com bons meios aéreos (helicópteros, aviões leves e pesados) e com meios sapadores cuja formação fosse exclusiva nesta área, libertando assim os bombeiros para o combate aos fogos em meios urbanos e ao socorro noutras situações de emergência.

Por outro lado, são urgentes meios de prevenção, fiscalização e vigilância profissionalizados, além de regras que se devem impor aos proprietários que teriam de arcar com pesadas multas caso os terrenos não fossem limpos.

Acima de tudo isto, a criação de uma disciplina de Acção Cívica nas escolas onde estes e outros temas fossem abordados desde cedo para assim formar cidadãos e cidadãs conscientes dos seus deveres e direitos. Certamente que teríamos uma sociedade muito mais responsável em poucos anos.

É inevitável que assim seja!

PS - Inicialmente o artigo iria ter como tema 'A inevitabilidade da estupidez' como alusão às palavras do ministro Miguel Macedo.

Fotografia: Público

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