terça-feira, 29 de abril de 2008

Arqueoexpedição (VI)

Carris, 27 de Abril de 2008

O último dia da nossa estadia nas Minas dos Carris estava reservado para o reconhecimento do interior do 1º piso da concessão do Salto do Lobo. O objectivo desta incursão era o de tentar encontrar algum vestígio que nos ajudasse a escrever um pouco da vida no interior da mina.

Com uma entrada cautelosa a equipa percorreu lentamente a galeria de acesso à mina devido à grande quantidade de água. Após vários metros esta galeria divide-se em três galerias de igual largura. A galeria central leva-nos ao elevador principal da mina, enquanto que a galeria do lado direito nos leva a uma nova galeria e um pouco mais à frente à entrada do elevador. Esta nova galeria conduziria à exploração inicial e encontra-se selada, sendo no entanto possível observar a sua continuação para lá da parede de pedra com o olhar a alcançar uma derrocada que acabou por selar a galeria de forma definitiva. Esta conduzia ao poço inicial que se encontra a céu aberto e que é facilmente visível pelo visitante. A galeria esquerda leva-nos a uma nova galeria que tem no seu início a base de um vagão de minério abandonado e mais uma vez ao elevador. É impossível a progressão por esta galeria devido a várias derrocadas mas ainda é visível uma parede em betão que retém uma enorme quantidade de água.
Após a visita ao primeiro piso da concessão do Salto do Lobo decidimos entrar numa galeria que dá acesso ao poço inicial. Este acesso é possível devido a um desmoronamento que acabando por selar a ligação entre os dois poços, criou um acesso à exploração mais antiga. A progressão foi feita com extremo cuidado e no seu interior foi possível observar três níveis de extracção. No entanto foi também possível constatar o alto nível de perigosidade que se encontra naquela área. Com o granito muito alterado a estabilidade do local é mínima. O acesso à mina permite entrar numa galeria com uma altura considerável. Em resultado de várias derrocadas foram criadas uma série de rampas que permitem uma fácil progressão no seu interior. Após alguns metros chegamos a uma zona onde a luz do dia nos permite visualizar uma catástrofe à espera de acontecer: vários blocos de pedra estão suspensos ao longo de vários metros desde a superfície criando um poço e uma verdadeira armadilha a quem de forma descuidada caminhe no exterior onde o poço se encontra encoberto por intensa vegetação. No interior a rampa leva-nos a uma plataforma que dá acesso ao velho poço uns metros mais à frente. Porém, caminhar nesta zona é extremamente perigoso pois parece que todo o chão está assente em velhas barras de madeira que sustentam muito peso e que podem colapsar a qualquer momento. Após esta constatação e a obtenção de algumas fotografias do interior, decidimos abandonar o local rapidamente...
Fotografias: © Rui C. Barbosa

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom trabalho!!!!

SMedeiros

PS: Cheio de inveja!!!

Anónimo disse...

Olá:
Excelente esta ideia de uma verdadeira exploração exaustiva aos Carris. Este blog, que semanalmente consulto, lendo com cuidado e atenção toda a informação aqui disponibilizada por si, de forma apaixonada e minuciosa, é de grande qualidade e pertinencia.
Gostaria que me esclarecesse uma dúvida que já me acompanha há muito tempo e estou muito curioso: nas fotos que mostra o interior das galerias, com o elevador e outras estruturas, não sei qual a entrada de acesso a esse local. Será através da entrada principal que fica sensivelmente a norte do grande poço e que é antecedida por uma estrutura de cimento e blocos??? Ou será outra entrada? Se for possível gostaria que me descrevesse em pormenor o local dessa entrada. Desde já o meu obrigado e parabéns pelo seu trabalho.

Rui C. Barbosa disse...

Muito obrigado pelas suas palavras em relação a este blogue!!

O poço localizado junto das duas colunas e da plataforma de cimento é um dos poços mais antigos da concessão do Salto do Lobo das Minas dos Carris (outros poços encontram-se já entulhados). O poço no qual ainda se pode observar as estruturas metálicas e o próprio elevador encontra-se no final da uma galeria que se inicia na parte posterior de um edifício em ruínas isolado e ligeiramente a Sul deste primeiro poço.

Agostinho Costa disse...

Olá Rui,

Aproveito para dar-lhe os parabéns por esta expedição na qual sondaram mais a fundo os Carris. Já deu para ver que os Carris encerram problemas que estão por resolver. Problemas que podem custar vidas. De facto, foi muito boa essa opção de descrever os perigos e armadilhas que vão aumentando ano após ano nas minas. É lamentável tal situação em pleno Parque Nacional. Enfim, é a crónica e triste mania que temos de sugar a Natureza até ao tutano, desfigurando a paisagem, considerando apenas o rápido enriquecimento, para depois deixarmos o lixinho a céu aberto, oferencendo perigos indescritíveis.
Caro Rui, já que fez esta averiguação das várias concessões, aproveito para lhe revelar um pormenor que não lhe tinha dado aquando da minha "expedição" pelo lado sul(Corga de Sabrosa)em Novembro último. Já quase a chegar ao Planalto da Sesta de Lamlonga, ainda na penosa subida pelo imenso declive de Sabrosa, avistei do meu lado direito, numa escarpa, o que me pareceu ser uma espécie de entrada (gruta) de dimensões razoáveis. Será algo natural ou humano? Isso não sei. Na altura, já estávamos exaustos para nos aproximarmos do local. Também tínhamos objectivos traçados e não podíamos perder muito tempo. Pretendo num futuro próximo repetir a "façanha" para tirar estas e outras dúvidas que surgiram durante essa fantástica e extenuante aventura rio acima.
Um abraço. Agostinho Costa
P.S.: Venha de lá esse livro histórico sobre as minas. Já reparou que o seu blog dava um bom livro?

Jorge Nogueira disse...

Olá Rui,

Parabéns pela expedição!
Fotos e relatos fantásticos...
Sou um candidato a participar na próxima se me aceitares ;)

Abraço