Depois da verdadeira inoperância e incompetência na gestão da catástrofe que atingiu parte da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e talvez numa desesperada tentativa de gestão de danos onde o dinheiro fará esquecer o «mato» que ardeu, a Ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, foi dar um passeio ao PNPG para se inteirar do ocorrido.
Como sempre acontece nesta visitas «de Estado», as notícias sobre a visita da ministra do ambiente do homem que mais trabalha neste país, foram escassas. As razões são óbvias: apesar de nos dias do incêndio haver muita contestação e berraria, os ânimos lá se vão acalmando - ou não, porém, haverá sempre quem queira «borrar a pintura» que se gosta de ter nestas visitas onde parece que está tudo bem e bem alinhado com as boas intenções do (des)governo.
Pela manhã, lá se viram as movimentações dos militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Barragem de Vilarinho das Furnas estava guardada de forma a tudo correr bem. No início do acesso à aldeia afundada, uma máquina retroescavadora ia fazendo cócegas à encosta, ensaiando os movimentos que seriam feitos na consolidação do solo quando a ministra viesse.
Ora, o incêndio terminou há três semanas e desde então, milhares de pessoas passaram naquela estrada de terra batida, porém só agora com a visita da ministra é que se fazem trabalhos de consolidação da encosta. Se isto não é puro show-off para a imprensa e pura propaganda política, não sei o que será!
Antes da chegada da ministra, ainda se viram umas bandeiras do PSD pelo chão e brandiram-se umas hastes, mas acabariam por ficar dentro do carro. Entretanto, lá chegava a «entourage» numa caravana devidamente organizada. À frente, o habitual batedor da GNR assinalando a chegada da dignitária, seguindo-se um veículo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, daqueles novinhos que aparecem por estas ocasiões, com dois Vigilantes da Natureza recém-chegados ao Parque Nacional. Seguiam-se mais umas viaturas com elementos do ICNF e então o carro da ministra. Saudada à chegada pelos representantes do concelho de Terras de Bouro, lá se constituiu o cortejo com pessoas de fato e gravata (alguns, pois não houve tempo de se trocar de roupa na Casa de Junceda) mãos em posição de submissão e ouvidos atentos para as palavras de circunstância. Por entre os discursos e declarações de intenções, oferece-se dois boiões de mel (talvez numa representação simbólica das colmeias perdidas nas encostas de Vilarinho).
O cortejo continua, agora fora da sombra, para se observar o trabalho com afinco na «consolidação da encosta». Os trabalhos da retroescavadora são sucintamente explicados e ao fim de alguns minutos, o cortejo regressa ao ponto de partida, escutando-se um ligeiro aplauso de autobajulação.
As bandeiras laranja continuaram no carro e não se brandiram mais as hastes.
O cortejo ministerial voltou a formar-se e acabaria, eventualmente, por abandonar o local depois dos devidos registos de imagem.
A gestão de danos, na esperança de que para o ano a coisa corra melhor e de que o Luís não se mantenha de férias com o país a arder, é feita com dinheiro. Ora, este dinheiro terá como objectivo, segundo refere a agência Lusa, “a reconstrução de habitações, a retoma da atividade económica, o auxílio dos agricultores, a reparação de infraestruturas e de equipamentos, a recuperação dos ecossistemas e da biodiversidade, a reflorestação e recuperação de florestas e a contenção de impactos ambientais, entre outros.”
Segundo noticia O Minho, estão também "em causa estão apoios aos agricultores para bens imediatos e inadiáveis, de alimentação ou outros e, no caso dos apoios até 10 mil euros, mesmo sem documentos, dependem de vistoria conjunta de técnicos dos municípios e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), para danos referentes a animais, culturas anuais, plantações plurianuais, máquinas, equipamentos e espaços de apoio à atividade agrícola."
Vindo agora distribuir fundos, recorde-se que este governo cortou 114 milhões de euros para as florestas em 2024, com as medidas de apoio ao investimento em floresta a sofrer uma redução de 44% na globalidade, ou seja, os cerca de 275 milhões de euros foram reduzidos a 153 milhões.
Para terminar, uma pequena nota sobre o cortejo ministerial. Como referi, o cortejo era aberto pelo batedor da GNR assinalando a eminência do que vinha. seguindo-se viaturas do ICNF e viaturas oficiais. Tristemente, e este cortejo de verdadeira vassalagem, era encerrado por quatro viaturas dos Sapadores Florestais que transportavam os homens que, no topo da Serra Amarela, e na escuridão da noite por entre vales e corgas, impediram o incêndio de se propagar às zonas mais sensíveis do Parque Nacional. Estes homens deveriam ser homenageados pelo trabalho que fizeram na contenção do incêndio e não colocados como elemento decorativo no final do cortejo, quais bombeiros de enfeite no final de uma procissão.
Não aprendemos nada com o desastre de 2017 e não vamos aprender nada com o que se passou no PNPG e noutras zonas do país em 2025. Entretanto, o dirigente do Partido Fascista Chega encena apagar incêndios com um raminho em mangas de camisa depois de sujar as mãos com a cinza que apanha no chão, fazendo a posse heróico-parola para a câmara que o filma, sendo depois renegado por um canídeo. Encena o apoio aos bombeiros e encena que partilha a sua comida em forma de fardos de palha. Os incautos vão na conversa.
Para o ano há mais...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
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