Ultimamente, deparamo-nos com frequência com notícias sobre acidentes na montanha. Mas será que sabemos distinguir os acidentes de montanha, atividades técnicas — como o montanhismo, escalada ou alpinismo — dos acidentes com turistas ou “passeantes” ocasionais?
É importante refletir: não é tudo a mesma coisa.
Agrupar todos os incidentes sob o rótulo de “estatísticas de montanha”, sem distinguir o contexto, é problemático. Porquê?
Desvaloriza o conhecimento, a preparação e a experiência dos praticantes regulares.
Estigmatiza o montanhismo como uma atividade “perigosa” por natureza.
Não contribui para a prevenção, nem para a educação de quem está agora a dar os primeiros passos na montanha.
Nos últimos anos, o número de pessoas a visitar zonas de montanha cresceu exponencialmente. Redes sociais, fotos deslumbrantes, locais “secretos”, desafios que parecem acessíveis a todos... Mas nem sempre se vê o que está por detrás da lente do telemóvel ou da câmara: o risco, o imprevisto, a preparação necessária.
Hoje, a facilidade com que se pode chamar ajuda é, por um lado, positiva. Mas pode tornar-se perigosa se for usada como plano A — o único plano — para colmatar a falta de consciência, preparação física ou de formação.
A montanha não é um parque temático. Não é uma ida ao centro comercial. É um espaço natural exigente, que exige respeito, conhecimento e humildade.
Mesmo com experiência, todos estamos sujeitos a imprevistos. Mas, com informação, formação e responsabilidade, muitos acidentes podem ser evitados.
Com isto não pretendo denegrir o turismo de montanha, nem sugerir que certos públicos não devem lá estar, pelo contrário.
É, antes de tudo, um convite à consciencialização.
Todos têm direito à montanha.
Visita, sim! Mas aprende, prepara-te e respeita o ambiente — e os teus próprios limites.
A montanha pede-nos isso.
As equipas de socorro agradecem.
E tu desfrutas mais...
Boas atividades!
Texto: António Afonso
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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