Caminhada pela bela Serra do Gerês percorrendo um total de 30,8 km entre a aldeia do Campo do Gerês e a aldeia de Fafião. O percurso abrangeu as etapas 12, 13 e 14 da Grande Rota da Peneda-Gerês.
A primeira parte da caminhada ligou o Campo do Gerês à Vila do Gerês, por caminhos e trilhos ancestrais que as comunidades locais utilizavam para aceder aos recursos da serra. O percurso enquadra-se em ambiente de montanha, percorrendo uma das elevações da serra do Gerês, assinalada pelo marco de Lamas, a 958 metros de altitude. É uma zona de interflúvio, o que significa que uma parte do percurso, mais propriamente até Junceda, é realizada de forma ascendente e outra parte de forma descendente.
Deixando para trás a Porta de Campo do Gerês, seguiu-se a estrada municipal por cerca de 400 metros, na direção da aldeia, desviando à direita, no sítio identificado por um Miliário (marco romano, em granito) para um caminho secundário que acompanham um pequeno ribeiro. Continuamos até encontrar a ponte que nos permite fazer a passagem do ribeiro. A partir daqui, fez-se a progressão até Junceda, seguindo sempre por trilho, na direção Ponte-Nascente. Nos primeiros quilómetros o trilho segue pela vertente da Corga do Coval, um vale profundo, de vegetação abundante, formado pelas nascentes do Cabeço do Pinheiro, onde chegaremos em breve, depois de passar uma vedação de arame de contenção do gado que pastoreia livremente na serra.
Na zona do Cabeço do Pinheiro o trilho atravessa uma zona relativamente húmida, que pode alagar em períodos de forte pluviosidade. Como é uma zona bastante plana, se necessário, devemos escolher uma alternativa, um pouco mais ao lado, para evitar a água. O tipo de vegetação que aqui ocorre enquadra-se no habitat “urzais-tojais mediterrânicos não litorais”, considerado uma das comunidades de conservação prioritária no Parque Nacional. Ao longo do caminho, no período da floração, observam-se várias espécies da flora natural da região, destacando-se os tapetes de tormentelo e as orquídeas selvagens, como o satirão-macho. Admire os valores naturais e proteja-os.
Depois de quase 4 quilómetros percorridos, cheguei a Junceda. O local é marcado pela presença de uma antiga casa de Guarda Florestal, atualmente abandonada, em volta da qual se dispõe uma área florestal, com uma grande diversidade de espécies, entre os quais pinheiro-silvestre, bétulas, carvalhos e cedros. Se o dia estiver quente, este é o sítio ideal para descansar um pouco, aproveitando a sombra do bosque. Segue-se um troço considerável sem grandes sombras.
Saí de Junceda percorrendo cerca de 300 metros do estradão, onde virei à esquerda para o Miradouro de Junceda, onde se pode apreciar o vale de falha do Gerês e o modelado granítico da serra do Gerês. A descida até à vila é marcada pela presença constante de miradouros, alguns dos quais equipados. Tem-se, ainda, oportunidade de apreciar a paisagem através dos miradouros da Boneca e da Fraga Negra, este último mais próximo da vila do Gerês. Esta encosta foi particularmente atingida pela invasão da mimosa, uma espécie exótica invasora que compete com as espécies autóctones, de crescimento muito rápido e desordenado, situação que provocado grandes constrangimentos ao nível da gestão e da conservação da natureza. Se detetar algum rebento de mimosa, poderá arrancá-lo e, assim, contribuir para a contensão da sua propagação.
Já perto do final do percurso, cruza-se a estrada asfaltada, passar o campo de futebol da Pereira, continuando por um caminho florestal até encontrar novamente o asfalto. Segue-se à esquerda, cerca de 200 metros, para depois entrar num caminho em terra, ladeado por vedação, que dá acesso ao Penedo da Freira, um local altaneiro, de bela vista, que terá sido palco da história de amor de uma freira do Porto. Deixa-se o morro pelo trilhado e descemos pelos arruamentos até ao centro da Vila do Gerês. Na continuação da passadeira que encontramos na Av. 20 de Junho, descemos os degraus e passamos o acesso à avenida principal da vila, onde termina a Etapa 12 da GR50.
A Etapa 13 faz a ligação das Caldas do Gerês à aldeia da Ermida, pelo interior da Serra do Gerês, percorrendo os antigos trilhos que os pastores utilizavam para subir o gado até aos prados de montanha. Ao longo de pouco mais de nove quilómetros, o percurso proporciona paisagens e vivências muito distintas, revelando alguns testemunhos da realidade contada por Tude Martins de Sousa e também da narrada por Miguel Torga, dois ilustres que se apaixonaram pela Serra do Gerês.
A etapa tem início em pleno centro das Caldas do Gerês, na avenida principal, junto à Praceta Prof. Dr. Emídio José Ribeiro. Deixando a avenida, segue-se para Este, tomando a rua Augusto Sérgio Almeida Maia para, cerca de 100 metros depois, desviar na primeira derivação à esquerda, subindo uns 300 metros pela rua do Lugar Carona, até encontrar sinalização que obriga a deixar a rua asfaltada e a continuar, à esquerda, por um carreiro aberto entre a vegetação. Depois de caminhar cerca de 1 km, atingimos a estrada florestal da Pedra Bela, em asfalto. Continuamos à direita pela estrada asfaltada e, escassos metros depois, encontramos a Fonte do Azeral, onde a sinalização nos orienta para o trilho que passa por detrás da fonte. Este trilho leva-nos ao estradão que nos conduzirá, pelo Trilho dos Currais (percurso de pequena rota sinalizado), ao Curral da Lomba do Vidoeiro, onde podem ser observadas várias mariolas que se impõem na paisagem.
Continua-se pelo velho caminho de pastores, de acesso aos prados da serra. Cerca de 700 metros depois da Lomba do Vidoeiro, passamos o Curral da Carvalha das Éguas, de maior dimensão que o anterior e com abrigo mais sofisticado, onde o percurso atinge o seu ponto mais elevado, aproximadamente 940 metros de altitude.
Continua-se para sul, na direção do Varejeiro. Depois de atravessar a linha de água, quase sempre seca no período de Verão, passamos a caminhar sobre um caminho mais largo e regular, até que se chega a um cruzamento de caminhos, numa zona aberta e plana, onde o percurso da GR50 se separa do Trilho dos Currais, para encurtar caminho para a Ermida. Tomando a direção da Ermida, atinge-se o entroncamento da Cascata do Arado daqui a 1 km. Aqui, entra-se no trilho de acesso ao Miradouro das Rocas, contornando o conjunto granítico que sustenta o miradouro. Um pouco mais adiante apanha-se um caminho florestal que conduz à Ermida, cruzando, já muito próximo da aldeia, a estrada municipal asfaltada.
A aldeia comunitária da Ermida é uma comunidade de montanha com fortes ligações à serra e aos seus recursos. Para além do património rural e infraestruturas turísticas que as entidades e a comunidade local têm vindo a criar, poderá usufruir dos serviços existentes, nomeadamente restaurante, mercearia, café, alojamento e atividades turísticas.
Após um já merecido descanso na Ermida, inicia-se então a Etapa 14 que me levou a Fafião (Montalegre), ligando as duas aldeias serranas por antigos trilhos de pastores, completando uma extensão de 9,4 km. O percurso revela aspetos muito peculiares desta zona da Serra do Gerês, das suas comunidades, culturas e património, mas destaca-se sobretudo pela admirável paisagem e pela intimidade que nos proporciona com a montanha. Tem como momentos mais marcantes a passagem dos rios Arado (Ponte e Cascata da Rajada), do Conho (Ponte de Servas) e Fafião (Ponte da Pigarreira), os miradouros das Cilhas, o carreiro pelas fragas graníticas, o bosque de floresta mista na Tribela e a inesperada “Casa do Médico”, a chegada ao Curral de Pinhô e, já no final da etapa, o belo Fojo do Lobo de Fafião.
O percurso enquadra-se em ambiente de serra, sem qualquer serviço de apoio intermédio e a etapa inicia-se junto ao miradouro da Ermida, seguindo pelos arruamentos da aldeia, em direção ao caminho agrícola que ladeia a zona da veiga e que conduz à ponte da Rajada, onde se atravessa o Rio Arado. Segue-se uma subida algo íngreme, por um velho carreiro marcado na vertente granítica, que define o caminho até às Fragas de Viseu, onde surgirá o caminho florestal que devemos seguir até à denominada “Casa do Médico”, na Tribela. Continua-se na mesma direção, contornando o muro da propriedade. Escassos metros depois entra-se no trilho de acesso à ponte de Servas, onde se atravessa o Rio do Conho. Deixando o fundo do Vale do Conho, continuamos para Este e rapidamente chegamos ao Curral de Pinhô, onde o percurso atinge o ponto mais elevado (784 m). A partir daqui, iniciamos a descida para o rio Fafião, maioritariamente ao longo de um caminho florestal. O troço final da descida é muito acentuado e é efetuado por trilho, com partes em escadaria granítica. Atravessamos o rio Fafião na Ponte da Pigarreira, continuando cerca de 500 metros pela estrada asfaltada, até apanhar o carreiro que nos levará à aldeia de Fafião, passando ao lado do magnífico Fojo do Lobo.
Em Fafião não deixar de visitar o Pólo do Ecomuseu de Barroso, dedicado ao tema da “Vezeira e a Serra”, através do qual a comunidade tem vindo a divulgar a sua cultura e património, iniciativa que muito tem contribuído para a preservação da identidade local.
O texto foi retirado da página da Grande Rota da Peneda-Gerês, sendo editado quando necessário.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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