domingo, 14 de maio de 2023

Inconsciência ou Prémio Darwin? (II)

 


Recentemente, a Serra do Gerês foi notícia, mais uma vez, pelas piores razões. A morte de um turista francês na Fecha de Barjas, veio de novo mostrar que todo o cuidado é pouco e que, acima de tudo, se deve ter a consciência dos locais onde nos encontramos. Um pequeno descuido pode ser, e é, fatal.

Os acidentes acontecem aos mais preparados, mas estes, tendo a noção dos riscos que correm e sabendo-os gerir, terão uma probabilidade menor de sofrer um acidente. Este, pode acontecer no início de um percurso, na zona mais afastada da montanha ou quando já estamos relaxados a metros do final. Ninguém está livre.

No entanto, quando de forma propositada e conscientemente ignoramos os sinais e avisos de perigo, e nos expomos a este, a probabilidade de algo acontecer é muito elevada e o «elemento sorte», seja lá o que isso for, começa a entrar na equação.

Recentemente, numa visita guiada às Minas dos Carris, expliquei ao grupo que guiei os perigos que por ali espreitam. Estes surgem na Represa das Minas dos Carris, que em 1992 foi palco de um acidente mortal, e nas bocas de mina ou poços mineiros a céu aberto.

Há cerca de um ano, escrevi ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) acerca do perigo que representa o velho poço mineiro com 150 metros de profundidade cujo acesso é fácil a quem visita aquelas paragens. No texto enviado ao ICNF e com conhecimento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), apontava os perigos que representa aquele poço mineiro, bem como as colunas do antigo guincho de extracção que ali existiu. O local, vedado com uma miserável rede que qualquer pessoa ultrapassa, foi então assinalado com dois sinais de perigo por parte dos serviços do PNPG.

Ora, na explicação que dei ao mais recente grupo que visitou as Minas dos Carris, indiquei o perigo iminente de colapso das colunas existentes junto do poço mineiro e o perigo que elas representam caso alguém decidisse subir essas colunas para as usuais selfies muito em voga no Instagram ou Facebook.

As imagens que ilustram esta publicação mostram o que aconteceu com um grupo que passou junto daquele poço uns 20 minutos mais tarde. Ignorando a sinalética ali existente, as pessoas passam a rede e abeiram-se do poço, com uma delas a subir para uma das colunas.

Confesso que durante o tempo que decorreu o «espectáculo» fiquei de coração nas mãos na expectativa da queda da coluna. Felizmente, não aconteceu qualquer desastre! Perante o cenário, questiono as responsabilidades e as repercussões de um acidente que tivesse resultado daquelas atitudes totalmente irresponsáveis!? Seria do Estado, do ICNF e do PNPG? Ou seria de um bando de irresponsáveis que não respeita o ambiente onde se encontra e ignora os sinais e avisos de perigo?

Cada vez se vê mais lixo, cada vez se vêem mais atitudes que merecem o Prémio Darwin e cada vez se vê menos respeito pelo que representa o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Recentemente, foi recomendado ao Governo um maior investimento no Parque Nacional da Peneda-Gerês e este deve surgir em todos os aspectos, sendo um destes o aumento do número de Vigilantes da Natureza e da vigilância das áreas mais interiores da serra. Não se pode permitir que grupos vandalizem a Natureza, o património e que se divirtam a arremessar pedras pelas encostas. Não se podem admitir comportamentos que interfiram com a forma de vida das populações, incomodando os animais pela serra e tornando as aldeias como locais onde tudo se pode fazer. Não se pode admitir que uma área protegida seja local de comportamentos que perturbem a Natureza e o Ambiente, e isto acontece porque de facto não existe uma vigilância eficaz, pois o número de efectivos de Vigilantes da Natureza é manifestamente reduzido para uma área protegida do tamanho do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Quer-se respeito pelo PNPG e pelas pessoas que por cá vivem!

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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