terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Trilhos seculares - Pelos altos da Serra do Gerês

 


Nem todas as caminhadas pelo Vale do Alto Homem nos levam às Minas dos Carris. Atrevo-me a dizer que os destinos são infinitos, dependendo da forma como os abordamos.

Neste dias apetecia-me caminhar pelos altos da Serra do Gerês. Não os seus píncaros mais elevados lá para os lados da Nevosa, mas através de três pontos que nos permitem uma visão única sobre esta magnífica serra e sobre o Parque Nacional.

Assim, manhã cedo, num dia de céu limpo, rumei Vale do Alto Homem acima até chegar às Abrotegas e daqui tomei as velhas mariolas em direcção ao marco triangulado das Lamas de Homem. Esta é uma pequena subida, mas que nos põem à prova após a jornada já feita. À medida que vamos ganhando altitude até atingir aquele alto, a perspectiva sobre a Chã das Abrótegas vai-se alterando e complementando com outras paisagens. Eventualmente, o cenário de fundo serão os picos dos Cornos da Fonte Fria, a silhueta da Serra do Larouco e, naquele dia, as montanhas espanholas cobertas de neve distinguíveis no horizonte longínquo. Mais perto, o Curral das Abrótegas e o Curral de Cabanas Novas plantavam-se em lados opostos do velho caminho para as Minas dos Carris e já lá em cima, aos 1.456 metros de altitude, surgia a visão plena dos Currais de Lamas de Homem.



Após uma curta pausa, segui o caminho na direcção do Outeiro do Pássaro (1.482 metros de altitude) / Chã da Fonte (1.481 metros de altitude) e cheguei-me ao bordo dos Cocões do Concelinho (Couçolinho), seguindo depois para os restos do velho posto meteorológico e continuando para o Curral do (Outeiro do) Pássaro. Atravessando o curral e a chã que se lhe segue, lembrei-me de há muitos anos por ali haver um carreiro que leva ao alto de Cidadelha, em vez de seguir para os Currais de Cidadelha. Assim, demandei as marcas do carreiro e as velhas mariolas lá estavam. Atravessando uma pequena elevação, surgiu a mariola que assinala o alto de Cidadelha, com os seus 1.467 metros de altitude.

Nestas zonas, os velhos carreiros vão desaparecendo e apenas aqui ou ali, vão surgindo as mariolas que nos orientam pela melhor passagem. Chegando ao alto de Cidadelha, a paisagem mostra-nos os currais e a forma como a serra se retalha por entre corgas e vales, subindo em abruptos picos ou borrageiros dantescos que vigiam o silêncio. Por vezes, quebrando o silêncio, o vento vai fazendo a urze dançar ou então criar uma sinfonia de sons por entre as reentrâncias do granito.



Iniciando a descida do alto de Cidadelha, segui um caminho ligeiramente diferente para chegar até ao próximo ponto. São estes desvios que por vezes nos presenteiam com alguma «descoberta», pois naquela zona, acabei por atravessar alguma sanjas mineiras que desconhecia, pois encontram-se separadas dos trabalhos mineiros de Cidadelha. A serra tem sempre algo para nos oferecer, quer sejam paisagens magníficas, quer sejam restos de História!

Deixando para trás o passado rasgado nas rochas, prossegui então na direcção da Torrinheira, seguindo agora o velho carreiro e passando na velha mina do Cabeço da Cova da Porca. Esta é uma pequena exploração a poucas dezenas de metros do alto da Torrinheira (com os seus 1.456 metros de altitude) a partir do qual se vislumbra o Curral de Premoim e parte da imensa Corga de Valongo, além dos altos de Porta Roivas que parecem terminar uma sucessão de picos bem identificáveis. Mais uma vez, ao descer da Torrinheira, acabaria por seguir um caminho diferente do que é habitual e mais uma vez era presenteado por restos mineiros que haviam sido explorados por altura da Mina de Borrageiros.



Com a ideia de almoçar nos Prados da Messe, segui o carreiro que me levou à Chã do Cimo da Água da Pala onde procurei ter um vislumbre para a gigantesca corga que se despenha no Vale do Alto Homem. Depois, ladeando a Lomba do Cantarelo, iniciei a descida para os Prados da Messe onde tranquilamente se encontrava uma grande manada de cavalos.

Depois do descanso, subi em direcção à Lomba de Burro e, passando no topo da Água dos Vidros, encaminhei-me para a Lameira das Ruivas, sendo então surpreendido por um pequeno rebanho de cabras-selvagens antes de iniciar a descida pela Costa de Sabrosa. A parte final do percurso fez-se pela Mata de Albergaria, percorrendo a milenar Geira até à Portela do Homem.

Ficam algumas fotografias do dia...
















































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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