sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Serra do Gerês - Devesa, Barbeito e a Costa do Altar

 


Existem lugares na Serra do Gerês que são verdadeiros tesouros de História escondidos e abandonados. A descida das águas da albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas colocou a descoberto muitas estruturas e ruínas que ficam submersas durante anos a fio e que acabam por somente ver a luz do dia nos anos mais secos.

O ano de 2022 segue a linha dos anos que seca que infelizmente Portugal tem vindo a registar e não são as chuvas que acabam por cair que demonstram o contrário. Os sinais estão todos aí e apesar de haver quem os negue (como os negacionistas do Covid), a verdade é que todos os anos os extremos da seca «se extremam».

O abandono das vezeiras de Vilarinho da Furna devido ao desaparecimento da milenar aldeia, transformou partes da Serra Amarela e da Serra do Gerês em verdadeiros testemunhos abandonados do passado. A floresta e os espaços florestais sempre foram aproveitados pelas populações serranas que, de uma forma ou de outra, dali tiravam algum sustento.

A entrada dos Serviços Florestais em 1888 veio tentar ordenar, de certa forma, uma utilização centenária dos espaços. Surgiram as primeiras construções, mais tarde os primeiros edifícios onde guardas e trabalhadores tinham o seu abrigo, e mais tarde as Casas Florestais - agora abandonadas e testemunhos de uma decisão de lesa-pátria criminosa dos tempos do Cavaquismo saloio.

Há muito abandonados, quiçá ainda muito antes do monstro de betão aprisionar as águas do Rio Homem, a chegada da albufeira veio criar uma barreira ainda mais intransponível para determinadas zonas, tornando-as em verdadeiros santuários da Natureza que por ali encontra um refúgio mais ou menos seguro - a não ser quando os caçadores do outro lado da fronteira por ali soltam os cães para espantar a caça para o outro lado.

Assim, por entre a tranquilidade da folhagem de uma floresta que se vai tornando virgem, encontram.-se esses testemunhos, tais como são o Colmeal do Caixeiro, o abrigo que se abriga acima de Barbeito ou várias estruturas espalhadas pela Costa do Altar. Nas imediações, um «grande» edifício esconde-se por entre o coberto de musgos e perde-se nas memórias das telhas deixadas encostadas nas paredes há já muitos (demasiados) anos sem que haja uma referência histórica em lugar algum.

Um estudo atento dos mapas e das fotografias como tem sido feito pelo Ricardo Guimarães (e partilhado no excelente Grupo de Montanhismo PNPG), revela ainda inúmeros pormenores que em tempos constituíram parte da vida destas serranias, mas que hoje são testemunhos esquecidos (e para muitos 'para esquecer e deixar esquecidos') do que foi a ocupação deste território. O mesmo aconteceu com o património edificado das Minas dos Carris e o resultado está à vista de quem visita o lugar: abandono e vandalismo patrocinado em páginas na Internet.

Ficam aqui algumas fotografias de um património (mais um) perdido no Parque Nacional da Peneda-Gerês.





























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

5 comentários:

Francisco Ascensão disse...

O Rui sabia da existência desse grande edifício ou foi por acaso que o encontrou?

Francisco Ascensão disse...

A cabana está em bom estado de conservação, pelas fotos que vi aqui e no Facebook do grupo de montanhismo do PNPG. Agora tal como disse o Ricardo Guimarães, é saber o nome da cabana que provavelmente deve pertencer a Vilarinho da Furna.
Estive a olhar para uma lista dos antigos currais de Vilarinho que são ainda uma incógnita na sua localização e saltou-me à vista o curral de corga das cabanas. Ora olhando para mapas, vista de satélite e conhecimento do terreno sabemos que várias são as corgas que nesta encosta existem (sendo a que desce desde o azevinheiro a mais extensa e "profunda"). Dado que a localização de muitos currais ainda é desconhecida e que a costa do altar pode guardar outros segredos porque cada vez mais eles se perdem, acho que esta pode ser uma opção e que até pode vir a ser confirmada caso se encontrem mais abrigos em zonas próximas Estou apenas a especular uma hipótese porque pelo que eu sei a costa do altar tem várias pequenas corgas que abrigam vários ribeiros e que possivelmente até outras construções que permanecem desconhecidas.

A propósito, não será o chão da devesa um local de antigo curral de ovinos de Vilarinho da Furna? Lembro-me de ler no livro de Jorge dias que os ovinos de Vilarinho da Furna como eram poucos, iam pastar para terrenos da serra do Gerês, ou que fossem perto do rio homem, porque como o número de animais era reduzido, o tamanho da pastagem não era necessariamente tão grande como o das outras vezeiras, nem tão longe porque geralmente apenas levava um pastor. Hoje em dia, caso este local tenha tido essa função acredito que devem existir poucos ou nenhuns vestígios.
Cumprimentos!

Rui C. Barbosa disse...

O edifício foi confirmado pela primeira vez pelo Ricardo Guimarães.

Francisco Ascensão disse...

Na deveza vê-se algum sinal possível de ter existido um curral?
O Rui acha que corga das cabanas seria uma hipótese?

Rui C. Barbosa disse...

Sim, na Deveza certamente existiria algo.

A Corga das Cabanas fica paralela à Corga de Calvos e mais perto da fronteira.