segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Memória descritiva e justificativa da Mina “Corga das Negras 1”

 


As Minas dos Carris eram compostas por múltiplas concessões mineiras, algumas das quais, porém, sem interesse prático no que diz respeito à rentabilização dos trabalhos que lá pudessem ser realizados.

Assim, as três concessões que acabariam por ser exploradas foram a concessão do Salto do Lobo, a Lamalonga I e a Corga das Negras 1.



Os restos da exploração mineira são ainda visíveis na Corga das Negras.

Em finais dos anos 80, e havendo na altura a intenção de se reiniciar a exploração mineira nas Minas dos Carris, a concessão da Corga das Negras 1 encontrava-se no centro de um plano para a rentabilização do velho complexo mineiro. Este plano previa a abertura de um acesso para a Corga das Negras e a instalação de uma lavaria para processamento do minério. Felizmente, este plano nunca foi concretizado. 

Havendo a necessidade de se rentabilizar ao máximo os trabalhos e a potencialidade mineira da zona, a Sociedade Mineira dos Castelos Lda., que em 1943 adquire as concessões mineiras naquela área, demonstra interesse em obter outras concessões localizadas na vizinhança do Salto do Lobo. Uma dessas concessões é a Corga das Negras n.º 1 cujos direitos são endossados a Artur Gonçalves Pereira a 3 de Junho de 1943, que por sua vez endossa os direitos à Sociedade Mineira dos Castelos Lda. a 8 de Junho.

A 5 de Julho é então solicitado o alvará de concessão para a mina da Corga das Negras n.º 1 e no mesmo dia é proposto o Eng. de Minas Francisco da Silva Pinto como Director Técnico. Outras empresas ambicionam o volfrâmio daquela zona e com esse intuito a Sociedade Mineira de Cadeiró, Lda. vai requerer a concessão da mina de volfrâmio denominada 'Carris de Cima' tendo por base o registo mineiro n.º 302 feito na Câmara Municipal de Montalegre a 21 de Junho de 1941. Este registo seria mais tarde anulado. Da mesma forma, Aníbal Pereira da Silva endossa todos os direitos da concessão Lamalonga n.º 1 à Sociedade Mineira dos Castelos Lda. a 8 de Junho. De facto, a Serra do Gerês é literalmente passada a pente fino em busca dos minérios que a indústria de guerra mais ambicionava, o volfrâmio e o molibdénio. Numa verdadeira campanha em busca desses minérios, a Sociedade Mineira dos Castelos Lda. irá requerer dezenas de concessões mineiras com a apresentação de um igual número de manifestos mineiros com 27 registos a 23 de Março, 54 registos a 24 de Março e 51 registos a 5 de Abril.

O Eng. de Minas Francisco da Silva Pinto é proposto como Director Técnico da concessão mineira da Corga das Negras n.º 1 a 5 de Julho de 1943 e dois dias mais tarde é apresentada a memória descritiva e justificativa bem como o seu Plano de Lavra, Francisco da Silva Pinto.

MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA

Freguesia de Cabril

Concelho de Montalegre

Distrito de Vila Real

Mina de Wolframite “Corga das Negras 1”

PLANO DE LAVRA

PROPRIEDADE – Pertence esta mina à firma “Sociedade Mineira dos Castelos, Limitada”, com sede no Porto à Rua Fernandes Tomas, 749 – 1º.

SITUAÇÃO – Fica a mina no sítio denominado “CORGA DAS NEGRAS”, freguesia de Cabril, concelho de Montalegre.

O ponto de partida é definido pelas coordenadas seguintes, referidas ao castelo de S. Jorge M= -91.200,00 e P= -344.650,00.

O ponto de partida está devidamente ligado à rede de triangulação do País, por intermédio das pirâmides geodésicas.

CARRIS.- M= -90.055,1 e P= -344.768,2.

LAMELAS.- M= -91.578,5 e P= -346.280,1.

MATANÇA.- M= -91.620,4 e P= -343.432,1.

TOPOGRAFIA E CULTURAS – A topografia da região é bastante acidentada. Os terrenos compreendidos na área do manifesto são baldios e não existem culturas.

GEOLOGIA – Não apresenta a região nada extraordinário sobre o ponto de vista geológico, sendo exclusivamente uma região granítica.

JAZIGO – O jazigo para o qual se apresenta o plano de lavra, é constituído por aluviões de wolframite e nos quais também aparecem disseminados outros minerais que de um modo geral acompanham a sua formação. Pelas pesquisas realizadas, verificou-se que a média de altura dos depósitos aluvionares é de 1,5 metros sendo 0,80 a montante da linha de água e 2,50 para jusante. Os depósitos superficiais têm uma espessura de uns 0,20; segue-se-lhe inferiormente uma zona com, aproximadamente, 0,60 de estéril.

Junto da rocha encontram-se aluviões mais ricos, com uma espessura de uns 0,30 seguindo-se-lhe superiormente uma zona com uns 0,40 cm de espessura que apresenta muito pouco minério.

PESQUISAS – As pesquisas constaram na abertura de vários poços, que se afundaram até entrar uns 0,10 na rocha-leito;

PLANO DE LAVRA – A exploração do jazigo consiste na abertura de valas distanciadas cerca de 25 metros umas das outras e que serão abertas de modo a atingir a profundidade da Rocha-base. Estas valas vão avançando normalmente à sua direcção e sempre à medida que se retira a camada mineralizada.

Ao mesmo tempo que se faz o avanço a parte estéril é removida à pá para trás entulhando assim a parte desmontada. Logo que se começam os trabalhos de desmonte retira-se primeiramente a camada de terra arável, colocando-a de parte para que, tendo terminado o desmonte de uma faixa, se possa recobrir o terreno com ela. As terras mineralizadas são, por agora, sujeitas a uma lavagem em caleiras de modo a obter-se uma concentração suficiente. As terras são transportadas até às caleiras em carrinhos de mão que de volta aos desmontes transportam o estéril proveniente da lavagem, indo entulhar os vazios ainda existentes. Os concentrados obtidos serão transportados em muares até ao local denominado Albergaria e daqui por viaturas automóveis à oficina de tratamento que esta Sociedade possui na cidade do Porto.

Abrange o aluvião uma área de 550 x 250 metros o que com a profundidade média de 1,5 dá um volume de 206.250 m3 de material a trabalhar com um teor médio de 2%.

Tem esta Sociedade, em construção, um caminho que ligará Albergaria à sua concessão “SALTO DO LOBO”, pensa-se montar uma lavaria mecânica para tratar diariamente 60 a 100 toneladas, cujo projecto será apresentado, oportunamente.

Todo o transporte de tout-venant e estéril que inicialmente é feito em carros de mão, serão feitos o mais rapidamente possível, por material Decauville.

ESGOTO – Não é o terreno muito alagadiço, mas se no inverno tal viesse a acontecer, fácil seria drenar o terreno pelo afundamento da linha de água.

MÂO D’OBRA – O pessoal será recrutado nas povoações mais próximas.

INSTALAÇÕES – Possui esta Sociedade, nesta zona, várias minas cujos processos de concessão estão correndo os devidos tramites e que mais tarde serão objecto de um couto mineiro. Entre estas minas figura a concessão “SALTO DO LOBO” onde por agora se têm concentrado todas as edificações.

Dada a proximidade da concessão “SALTO DO LOBO” serão utilizados os recursos de que esta Sociedade ali dispõe, em ferramental e demais acessórios.

Assim prevê-se o seguinte orçamento:

Mão de obra - - - - - - - - - 20.000$00

Ferramentas - - - - - - - - - 5.000$00

Diversos e imprevistos - - 3.000$00

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             28.000$00

Porto, 7 de Julho de 1943

A concessão provisória da mina da Corga das Negras n.º 1 só seria atribuída a 11 de Fevereiro de 1948 sendo nessa data publicada no Diário do Governo.

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Baseado em "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" Rui C. Barbosa (Dezembro de 2013)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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