Na grande diversidade toponímica da Serra do Gerês, muitos dos topónimos sofrem alterações com o passar dos anos quer seja pela má interpretação dos nomes nos contactos iniciais entre os agentes do estado e as populações locais, pela má transcrição dos topónimos em zonas muito isoladas ou pela falha na transmissão oral dos topónimos.
É meu entender que a maior parte da Serra do Gerês, e em espacial as zonas que eram utilizadas para as actividades tradicionais (pastorícia ou carvoaria) seriam massivamente designadas por uma utilidade prática de identificação as zonas.
Com a chegada dos Serviços Florestais em 1888, alguns topónimos terão sofrido alterações. É nessa altura que surgem os mapas mais detalhados da Serra do Gerês, por exemplo, e um caso peculiar de uma possível alteração toponímica poderá ter ocorrido na Pedra Bela, a Pedra de Velar utilizada no pastoreio para a vigilância dos animais (o acto de velar ou zelar) no Vale do Rio Gerês e que, poderá ter visto a alteração toponímica devido ao denominado 'betacismo', isto é a troca dos 'v' pelo 'b'. Este fenómeno fonético acontecer de forma mais marcada apenas na região norte de Portugal e nos dialectos galegos, não acontecendo, no entanto, na maior parte do país e, portanto, no português padrão actual.
Um aspecto interessante de outra alteração toponímica ocorre, por vezes, com os 'Prados Caveiros'. A expressão "Cabeiro" refere-se ao que está ao final e "cimeiro", isto é, o que está na parte mais alta. Estas expressões são de uso comum nos Ancares, Galiza, e ajuda-nos a explicar a designação Prados Coveiros versus Prados Caveiros, na Serra do Gerês. Assim se explica uma toponímia na Serra do Gerês, onde existem uns prados denominados 'Prados Caveiros' que eu sempre pensei ser uma deturpação de 'Prados Coveiros'. Estando numa zona extrema de uma das vezeiras, isto é, no final, faz assim todo o sentido chamar-se 'Prados Caveiros.' De facto, sempre achei estranho o topónimo 'Prado Caveiros' que nos leva ao termo 'caveira', o que de certa forma nada indicava em relação ao local que se encontra numa 'cova' em relação à orografia envolvente.
Não vou referir aqui a deturpação de topónimos e a troca por aquilo que se convencionou denominar 'topónimos comerciais'. Uma verdadeira palermice!
Os Serviços Florestais criaram um mapeamento do território que viria a ser ocupado pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês e nele imprimiram alguns topónimos que acabariam por não surgir em mapas militares posteriores. Uma designação curiosa está relacionada com aquilo a que denomino como 'marcos alfaféticos' e que estão situados próximos do marco geodésico dos Carris. Possivelmente, a atribuição destas designações ficou a dever-se ao facto de os locais não estarem designados da forma tradicional pelas populações serranas. Estes são o Marco F (a uma altitude de 1.443 metros), o Marco G (altitude de 1.435 metros) e o Marco K (1.270 metros de altitude).
O Marco G está situado no extremo da vertente esquerda da Corga de Lamalonga e encontra-se já destruído, sendo possível no local encontrar os seus restos.
O Marco K está situado perto da Matança a poucos metros de distância do carreiro entre estes currais e os Currais das Negras, na margem esquerda da Ribeira das Negras.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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