quarta-feira, 21 de novembro de 2018

263... Regresso ás Minas dos Carris


A minha última visita às Minas dos Carris tinha acontecido a 25 de Junho de 2018. Desde 2007 que havia mantido uma regularidade mensal nas minhas visitas ao complexo mineiro, permitindo-me assim manter um registo fotográfico da evolução das ruínas ao longo dos últimos 11 anos.

Este afastamento de cerca de quatro meses permitiu também verificar algumas alterações de monta em parte do caminho pelo Vale do Homem (uma derrocada à passagem do Modorno) e a degradação de um dos edifícios mineiros, nomeadamente a queda de parte da fachada do edifício de acesso ao interior das galerias da concessão do Salto do Lobo (entrada para o 2º Piso).

Esta visita foi inserida em mais uma actividade organizada pelo Parque de Campismo de Cerdeira na qual tive o prazer de servir como guia (juntamente com o Paulo Figueiredo) não só do complexo mineiro, mas também ao longo de todo o Vale do Alto Homem.



Como é usual nesta visitas, a jornada começou com uma pequena explicação do que iria decorrer durante o dia junto da cancela de acesso ao velho e degradado estradão mineiro. Ao longo do percurso fomos tendo várias paragens: junto à Fonte da Abelheirinha para uma curta explicação sobre as histórias do contrabando através daquela zona; junto à Água da Pala, referindo a existência do antigo caminho florestal no Vale do Homem, dos abrigos toscos na margem direita do Rio Homem e a história do resgate dos mineiros dos Carris junto ao pequeno edifício dos cantoneiros existentes ali; na Ponte do Cagarouço para a visualização dos fantásticos teixos existentes na Corga do Cagarouço; uma outra paragem pouco depois da Ponte do Modorno que serviu de curto descanso e permitiu apreciar o esplendor do Vale do Homem; e depois no Teixo (zona de fabrico e venda de carvão), Águas Chocas e Ponte das Abrótegas (com a visualização dos primeiros elementos associados à exploração mineira).

Chegados às ruínas mineiras, e após retemperar forças, os participantes na jornada tiveram oportunidade de saber um pouco mais sobre as diferentes fases de mineração naquele local e tomaram conhecimento sobre os propósitos dos diferentes edifícios mineiros, bem como uma resenha histórica sobre as diferentes fases de mineração associadas à Segunda Guerra Mundial, ao período da Guerra da Correia e à fase de exploração na primeira metade da década de 70 do século XX.

A visita incidiu sobre a zona habitacional, sobre a represa dos Carris, zona industrial e o Salto do Lobo. O regresso à Portela do Homem fez-se no sentido inverso pelo Vale do Alto Homem.








Para mim, voltar a subir o Vale do Homem, foi uma experiência de contemplação interior. Voltar a visitar e a passar por aqueles lugares, trouxe a harmonia e o realizar de um processo que preenche o ser.  

As ruínas das Minas dos Carris permanecem na Serra do Gerês repletas de um silêncio e de uma quase inexplicável nostalgia compartilhada por quem as visita. O local e a sua aura quase mística transformaram-no numa zona de visita quase obrigatória para aqueles que procuram nas montanhas o sossego que lhes escapa no rebuliço da vida cosmopolita. A principal razão pela qual me levou a aventurar neste trabalho, foi a total ausência de informação existente sobre o complexo mineiro dos Carris.

Cravado em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, as Minas dos Carris foram uma fonte de desequilíbrio ambiental devido à natureza dos trabalhos industriais ali levados a cabo. Porém, décadas passadas sobre o seu encerramento, o complexo mineiro poderia ser uma mais valia educacional para o nosso único Parque Nacional. Infelizmente, anos e anos de uma visão míope levaram ao seu abandono; anos e anos de opiniões formatadas por um proteccionismo ambiental extremista, levaram a uma má conotação nos corredores daquela instituição e o resultado está à vista de todos em plena Serra do Gerês.

Assim, tentando nesta obra remover o véu de parte da sua História, quero acreditar que haverá ainda muito mais para contar sobre as Minas dos Carris. Mesmo que a memória dos homens se torne cada vez mais turva com o passar dos dias, não deveremos deixar esquecer as Minas dos Carris na Serra do Gerês, onde se sente o silêncio e a calmaria do lento passar das eras.

O álbum de fotografias pode ser visto aqui.




















Fotografias ©Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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