Existem locais no Parque Nacional da Peneda-Gerês que estarão sempre envoltos numa aura de misticismo e mistério. Guardada pela distância, a aldeia de Pitões das Júnias tem resistido ao passar dos anos e guarda em si o mistério de outros tempos.
Toda aquela zona nos faz entrar num mundo diferente e as próprias aldeias daquele pedacinho da nacionalidade guardam o bater do coração da saudosa Galécia. Os bosques e as matas escondem histórias de fadas e duendes que apenas afloram nos dias mais escuros. Estes seres estão sempre lá, mas escondidos ao nosso olhar. Por vezes, a nossa atenção é atraída pelo remexer das folhas ou pelo quebrar dos galhos secos. A Natureza age em conjunto para se defender e logo que a folhagem abana, uma brisa de vento nos surge para nos enganar. É assim que funcionam os mundos mágicos que se escondem nas rochas da Mata do Beredo, por entre as ruínas da velha aldeia do Juriz ou nas curtas escarpas no antigo castelo.
Podemos visitar estes lugares tomando os trilhos seculares que se escondem por debaixo das folhas e que serpenteiam por entre as penedias cobertas de velho musgo. Naquelas matas de carvalhos somos assombrados por uma confortável presença, seja ela um duende que segue sentado no seu carros de duas rodas puxado por velozes javalis ou uma fada montada num corço que se oculta entre as ramadas.
O Verão mostra os seus últimos dias e estes, apesar de ainda quentes, escondem-se mais cedo, fazendo sair as sombras que lentamente vão compondo os recantos das paisagens e enchendo os cenários das peças teatrais que a noite irá trazer. Estamos perante uma prequela do Outono, que inevitavelmente há-de chegar. Os ribeiros, estes, percorrem os leitos pedregosos por vezes formando, aqui e ali, escuras lagoas onde o amor faz-se escutar na melodia do prazer de uma voz feminina. A presença do «pecado» é assinalada pela víbora cornuda e pela víbora negra que guardam o festim carnal de olhos mais atrevidos.
Iniciamos este percurso na aldeia de Parada de Outeiro. Fim de linha, a aldeia marca o início do Trilho do Fojo da Portela da Fairra que mais lá adiante nos levará a um velho fojo de cabrita, memórias de outrora onde o lobo era a representação do mal. Apesar dos tempos irem avançando, algumas memórias tendem a perdurar, mas outras não devem ser olvidadas. A parte inicial da nossa jornada seguiu este trilho até ao Fojo da Portela da Fairra e depois seguiu caminho bem definido, penetrando na Mata de Beredo que cobre o vale por onde corre do ribeiro de mesmo nome. O coberto de árvores protege-nos do Sol que se vai elevando por detrás de nós e à nossa frente, os píncaros característicos dos Cornos da Fonte Fria vão tomando forma e nitidez. O percurso é guardado por grandes mariolas e vai acompanhando o ribeiro até descer para o Ribeiro de Campesinho, o qual é atravessado por uma ponte de madeira. Daqui, é sempre a subir até encontrarmos um caminho empedrado que nos levará até à aldeia de Pitões das Júnias (havendo sempre a opção de tomar outra direcção e visitar o Mosteiro de Sta. Maria das Júnias e a Cascata de Pitões das Júnias antes de rumar à aldeia). Pelo caminho vai-se falando com os pastores que acompanham as manadas de vacas que pastam ou que se dirigem aos pastos, além de outros que guardam pequenos rebanhos de ovelhas. "O lobo já não nos preocupa; isso é mais o malvado do javali que nos dá cabo das hortas!"
Fruto da recuperação de muitas casas e dos esforços de animação da aldeia com vários eventos (Fiadeiros de Contos, etc.), a aldeia de Pitões das Júnias tem adquirido nos últimos anos uma importância cultural na preservação dos usos e costumes daquela região do Barroso.
Uma pequena paragem para recuperar forças na Taberna Celta e uma infrutífera visita à padaria local (não se fazem Bolas de Berlim pela manhã), compõe o resto da passagem pela aldeia. De seguida rumamos à aldeia velha de Juriz passando antes pelo Castelo e lutando contra a vegetação que teimosamente insiste em tapar os velhos caminhos.
A par de uma outra aldeia existente nas margens do Rio Pomba, Serra da Peneda, a aldeia de Juriz é um belo exemplo de uma aldeia medieval conquistada por um carvalhal espontâneo que ao longo de muitos anos foi transformando a paisagem. A história desta aldeia confunde-se no véu das lendas dos tempos. Luís Fontes faz a seguinte descrição de Juriz: "Povoado abandonado com arruamentos lajeados e vestígios de cerca de 40 casas, de planta geralmente quadrangular e paredes de blocos graníticos mais ou menos aparelhadas, muitas ainda com umbrais e soleiras das entradas. Poderá tratar-se da aldeia medieval de Sancti Vincencii de Gerez referida nas "Inquirições Afonsinas" de 1258, provavelmente abandonada no século XV, tempo de fomes, pestes e guerras. Nunca mais seria reocupada, podendo aceitar-se que tenha sido substituída pela aldeia de Pitões das Júnias. O lugar encontra-se actualmente coberto por um frondoso carvalhal espontâneo, com a vegetação a conferir às ruínas uma beleza pouco vulgar. No extremo setentrional do povoado, no topo de um pequeno outeiro coroado por caos de blocos graníticos, a que a população chama "castelo", identificam-se alguns rasgos que desenham uma planta quadrangular com cerca de 2 metros de lado, vestígios que poderão corresponder a uma pequena atalaia. Um pouco mais longe, cerca de 1,5 km para Sudeste, fica o mosteiro de Santa Maria das Júnias. Em termos arqueológicos conserva-se tudo em bom estado."
Assim, Juriz será um dos exemplos de uma antiga aldeia medieval situada dentro da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Ainda o próprio Luíz Fontes refere que: "Trata-se de um monumento de inegável significado histórico regional e excepcional valor científico e patrimonial, cujo estudo é fundamental para o conhecimento da evolução do povoamento medieval na vertente nascente do maciço geresiano. As ruínas desta aldeia abandonada enriquecem-se ainda com a paisagem envolvente, marcada por exuberante cobertura vegetal e relevos vigorosos. No Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês foi proposta a classificação do "Povoado de Juriz" como Monumento Nacional."
Estamos no regresso ao ponto de partida e nesta fase, após a passagem por Juriz, temos de encontrar o caminho para regressar a Parada de Outeiro. Seguindo o caminho que nos levaria a S. João da Fraga, vamos encontrar uma ponte que nos permite atravessar um curso de água que mais adiante se junta ao Ribeiro de Beredo. Aqui, voltamos à esquerda e vamos acompanhando o caminho que de forma geral está bem definido, mas que em muitas partes encontra-se tomado pela vegetação. Devemos manter sempre o mais possível perto do ribeiro, tomando aqui e ali as opções que nos permitam ultrapassar as manchas de vegetação que de tão densas nos façam perder de vista o nosso percurso. Pelo caminho vamos passando por velhos currais, muros e construções há muito abandonadas, com o caminho a levar-nos até um estradão no qual devemos seguir à esquerda, pois mais adiante voltamos a encontrar o trajecto do Trilho do Fojo da Portela da Fairra que nos levará de volta a Parada de Outeiro.
Distância folheto: Não disponível
Distância GPS: 17,5 km
Distância odómetro: 16,2 km
Distância GEarth: 17,5 km
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS: 1.112 m
Altitude máxima GEarth: 1.113 m
Altitude média GEarth: 884 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS: 740 m
Altitude mínima GEarth: 749 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 7h 7
Avaliação final (máx. 10): 8,0
Algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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