No início dos anos 70 do século XX, o silêncio da Serra do Gerês é interrompido pelo retomar dos trabalhos nas Minas dos Carris. Este texto é um excerto retirado do livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês".
"As Minas dos Carris são ponto de visita do jornalista Luís Humberto do jornal ‘O Comércio do Porto’ em Outubro de 1970 que na altura se encontrava a escrever uma série de artigos de tema geral “Gerês – Terra de Contrastes”. A edição n.º 6 desta série foi relacionada com a exploração mineira em Carris e é publicada a 20 de Outubro. No seu artigo, Luís Humberto faz uma descrição apaixonada e quase poética da sua caminhada até ao complexo mineiro. O cuidado com que escolhe as palavras reflectem o impacto que aquelas paisagens iam tendo à medida que percorre a sua caminhada silenciosa pela montanha acompanhada ao longe pelo Rio Homem. A certa altura a sua solidão é substituída pela visão da presença humana com os edifícios do complexo mineiro que vão recortando o horizonte e ganhando volume. Faz um relato de homens a caiar as paredes, com outros a instalarem canalizações e a remover a terra. O jornalista fala com o então responsável pelos trabalhos de levantamento do complexo mineiro, o Dr. Alexander Schneider-Scherbina, que lhe vai fazendo uma resenha histórica do complexo, “desde 1958 que tudo isto estava parado. Foram doze anos a suportar as intempéries. Doze anos de arruinamento, de destruição. Começamos em Junho a nova fase de renovação da mina e espero que, para fim do ano, estejamos já a extrair o minério – volframite.” O jornalista faz então um percurso pelas instalações mineiras juntamente com o Dr. Scherbina e com Alan Stewart, um consultor norte-americano que na altura também se encontrava lá. Foram exibidos alguns aspectos dos trabalhos realizados, passando pela central eléctrica onde se procedia à limpeza dos motores inoperacionais há já doze anos. Alan Stewart faz uma especial referência aos dois motores Blakstone, “estes dois motores estiveram no aeroporto de Londres na última guerra. Evidentemente que estavam lá a título preventivo. Interrompido o circuito geral e em caso de emergência, o aeródromo era iluminado pela energia que eles forneciam.”
"As Minas dos Carris são ponto de visita do jornalista Luís Humberto do jornal ‘O Comércio do Porto’ em Outubro de 1970 que na altura se encontrava a escrever uma série de artigos de tema geral “Gerês – Terra de Contrastes”. A edição n.º 6 desta série foi relacionada com a exploração mineira em Carris e é publicada a 20 de Outubro. No seu artigo, Luís Humberto faz uma descrição apaixonada e quase poética da sua caminhada até ao complexo mineiro. O cuidado com que escolhe as palavras reflectem o impacto que aquelas paisagens iam tendo à medida que percorre a sua caminhada silenciosa pela montanha acompanhada ao longe pelo Rio Homem. A certa altura a sua solidão é substituída pela visão da presença humana com os edifícios do complexo mineiro que vão recortando o horizonte e ganhando volume. Faz um relato de homens a caiar as paredes, com outros a instalarem canalizações e a remover a terra. O jornalista fala com o então responsável pelos trabalhos de levantamento do complexo mineiro, o Dr. Alexander Schneider-Scherbina, que lhe vai fazendo uma resenha histórica do complexo, “desde 1958 que tudo isto estava parado. Foram doze anos a suportar as intempéries. Doze anos de arruinamento, de destruição. Começamos em Junho a nova fase de renovação da mina e espero que, para fim do ano, estejamos já a extrair o minério – volframite.” O jornalista faz então um percurso pelas instalações mineiras juntamente com o Dr. Scherbina e com Alan Stewart, um consultor norte-americano que na altura também se encontrava lá. Foram exibidos alguns aspectos dos trabalhos realizados, passando pela central eléctrica onde se procedia à limpeza dos motores inoperacionais há já doze anos. Alan Stewart faz uma especial referência aos dois motores Blakstone, “estes dois motores estiveram no aeroporto de Londres na última guerra. Evidentemente que estavam lá a título preventivo. Interrompido o circuito geral e em caso de emergência, o aeródromo era iluminado pela energia que eles forneciam.”
Na altura não existia energia eléctrica no complexo mineiro. O Dr. Scherbina exibe ao jornalista uma pequena amostra de molibdénio apanhado do chão referindo que a paragénese do jazigo era ainda “constituída por estanho, bismuto e veios de quartzo.” O artigo dá-nos também uma descrição da mina, “a galeria é composta de sete pisos separadas por camadas intercalares de 20 metros, tem uma extensão de 2,5 quilómetros e praticamente mostra-se em bom estado de conservação. O quinto piso tem 500 metros e é o mais extenso. O jazigo – endógeno – é constituído por um filão hidrotermal, não compacto, que irrompera pela massa granítica e que se situa a 180 metros de profundidade.” O trabalho de Luís Humberto termina com uma descrição histórica do complexo mineiro, “aí por 1943 começou a exploração. Em Agosto do ano seguinte, porém, uma ordem do Governo português fez paralisar os trabalhos, ficando tudo isto ao abandono até 1950. Neste ano José R. de Sousa e José Inácio formaram a companhia de exploração do Gerês, tendo recebido um empréstimo de três mil contos. Em 1953, porém, venderam as cotas à firma inglesa Mason & Barry, ficando, entretanto, José Inácio com parte na sociedade. As explorações continuaram até 1958 (altura em que dada a crise de cotações quase todas as minas de minério de volfrâmio enfrentam a paralisação…) Em Maio passado, então, a companhia luxemburguesa – International Mining Corporation – comprou e estamos na fase de levantamento.”
Trabalhavam então no complexo mineiro cerca de 40 pessoas, mas eram boas as perspectivas de 100 novos postos de trabalhos quando se começasse a extracção de minério. Na altura o sistema de trabalho implementado, tal como foi então sublinhado, tinha um aspecto distinto do usualmente praticado naquela época. Apesar de os trabalhadores terem um horário de 48 horas semanais, o horário de trabalho estava estabelecido para que terminasse pelas 16h00 de Sexta-feira, permitindo assim aos operários gozar de um fim-de-semana mais alargado. Os trabalhadores operavam durante dez horas, trabalhando apenas oito horas à Sexta-feira. Isto permitia que a maior parte dos trabalhadores, que residiam nas aldeias limítrofes, pudessem descansar nas suas casas. Curiosa a referência do jornalista de Luís Humberto quando se pronuncia em relação ao horário de trabalho referindo que “será um sistema de trabalho de certo modo pró-proletário, mas…”, o que reflecte os princípios pelos quais se regiam as relações de trabalho de então. A finalizar o artigo é feita a questão do porquê de uma empresa estrangeira na exploração das minas?"
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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