sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Trilhos seculares - Para lá do Vale do Homem


Todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês é um imenso manancial de segredos à espera de serem descobertos e acima de tudo estudados. Par lá das belas paisagens, das sensações de provoca e dos momentos bem passados numa harmonia (tentada) com a Natureza, a cada recanto esconde-se um sinal do passado, sinal esse que nos pode ajudar a compreender o presença e, quiçá, ajudar a preparar um futuro melhor.

Em minha opinião, um Parque Nacional, e em especial uma área na qual congrega a milenar presença humana, não se deve limitar à preservação do meio ambiente e da Natureza. Isto em especial quando esse meio ambiente e essa Natureza criaram uma relação íntima, quase promiscua, com o Homem que nela habita. Foi este Homem que a moldou e dela tirou o seu sustento ao longo dos séculos. Em muitos casos, e por factor evolutivo, muitas foram as acções que foram desaparecendo, outras infelizmente mantendo-se escondidas pelo falso véu de uns 'direitos adquiridos' ou de um proclamado e doentio 'contacto com a Natureza'.

Pelas serras do Parque Nacional são infindáveis as marcas conhecidas do Homem antigo. Acredito que muitas destas marcas estejam por descobrir. Enfim, histórias por contar. Veja-se o exemplo do livro 'Minas dos Carris - Histórias mineiras na Serra do Gerês' que levanta o véu sobre a evolução daquele complexo mineiro desde os violentos anos do segundo conflito mundial até ao fim dos seus dias já nos anos 80 do século passado. É certo que foram muitos anos de dedicação a um objectivo: trazer à luz do dia factos e histórias pessoais que marcaram uma época na Serra do Gerês. Sendo uma obra exaustiva, acredito que muito fica por dizer e será à partida um livro incompleto no infindável sentido das palavras que o compõem, no olhar que as fotografias irão mostrar, e na sua interpretação e análise.

O mesmo tipo de trabalho pode ser feito com muitos outros elementos que fazem parte de um puzzle que aos poucos se vai construindo. Em tudo isto, o rearranjo de peças será inevitável o que torna em si apelativo todo este jogo.

Para mim, caminhar nas nossas montanhas é muito mais do que o registo fotográfico e do que as estatísticas da caminhada. Caminhar é, em si, um exercício de observação, de busca, de interpretação e principalmente de imaginação! É tudo isto que torna cada passo único, cada olhar uma visão analítica e a caminhada um exercício que sentimento em prol da nossa história como país e como povo.

Foi isto que aconteceu na caminhada de hoje onde o facto de ter «descoberto» uma simples pedra talhada, me fez despertar a vontade de explorar, conhecer e interpretar dentro dos meus limites. São estas pequenas coisas que se fazem em partilha com quem nos acompanha, que fazem valer um dia no nosso Parque Nacional. Sabendo que mais cedo ou mais tarde esta caminhada terá um fruto, sendo esse fruto o escrever, registar para quem depois virá, que naquele local, um dia, homens e mulheres moldaram algo que os transformou, transformou a paisagem que devastada por um incêndio colocou a descoberto uma memória...



























Fotografias: © Rui C. Barbosa

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