domingo, 20 de junho de 2010

Trilhos Seculares - Costa da Sabrosa / Carris / Portela do Homem

Foram quase 28 km de caminhada solitária pela Serra do Gerês. Uma viagem ao interior de mim mesmo através de trilhos seculares que percorreram misteriosos vales e as alturas serranas. Na calmaria do carvalhal encontrei o javali, no azul dos céus venerei as rapinas, na frescura dos ares senti as últimas brisas da Primavera que vivia os últimos dias. Escutar os regos de água que ainda resistem ao ardente calor do Sol, passar pelos ribeiros que ainda percorrem a serra e ajudam a dominar a sede.

Por entre a urze em busca de velhos trilhos o espreitar da cabra selvagem, escondidas em solitárias corgas estão restos de minas que ninguém via há já muitos anos, testemunhas silenciosas de um passado esquecido pelo Homem. Parar na cumeada e descansar o olhar no longínquo horizonte barrosão guardado pelo imponente Larouco.

Foi uma caminhada para ocupar o dia todo, com um início e sem destino definido... até onde o corpo quisesse ir. Depois de iniciar a caminhada na Portela do Homem os passos iniciais levaram-me pela Albergaria até quase junto do Centro de Recuperação de Animais Selvagens. Aqui, a subida da Costa da Sabrosa. Se o início do Trilho dos Currais é para trepadores, a Costa da Sabrosa é para os resistentes... Pelo caminho o rosnar do javali fez-me lembrar onde me encontrava, o Paraíso na Terra. Com o correr das águas do Ribeiro do Forno como música de fundo, vai-se ganhando altitude e caminhando num mundo Jurássico. As nuvens que lambiam os picos serranos iam desaparecendo com o passar das horas e se ao princípio a paisagem era ladeada pelo branco dos farrapos de cobriam os píncaros, chegado perto dos Prados Coveiros só o Cabeço do Cantarelo era encimado por uma coroa de algodão doce. Vieram-me à memória recordações de uma caminhada com os Escuteiros em Abril de 1993, as primeiras de muitas épicas incursões na Serra do Gerês.

Segundi para os Prados da Messe a passagem pelo Lombo do Burro já com a visão das Albas à minha direita. Do alto os prados e a vezeira sem pastor apascentava-se pelo pardo. Uma paragem para retemperar forças e pouco depois estava já no longo trilho em direcção ao Borrageiro. Passando o vale, a visão das Fichinhas. O trilho segue por encostas passando de corga em corga, de vale em vale. Rapidamente passava pela base da Torrinheira e de Cidadelhe, chegando à Corga da Arrocela e entrando na Corga das Mestras. Aqui era altura de decidir: a primeira opção era virar à esquerda e atingir o Outeiro do Pássaro, a segunda opção era seguir o trilho e passar perto das Minas do Borrageiro, descendo ao Couce para depois seguir para as Lamas de Homem. Decidi-me pela segunda opção, mas junto das Minas do Borrageiro acabei por encontrar um velho trilho que me levou directo aos Cocões do Concelinho. Com este ganho de tempo, decidi então desvendar o mistério do trilho que passa junto de Maceiras. Transpondo o Ribeiro do Couce e depois de passar pela vegetação, encontrei o trilho que me levou a um pequeno circulo glaciar. Não sendo já local de passagem, o trilho vai-se perdendo por entre a vegetação e as mariolas são escassas. A certa altura deparei-me com uma cabra selvagem que, aparentemente solitária, percorria as altas penedias.

Deixando de seguir o trilho passei para o Barroco de Trás da Pala e daqui segui ao largo das Lamas de Homem em direcção às Lamas da Carvoeira e passando pelo Salto do Lobo, vislumbrava ao fundo a Lamalonga. Era chegado às Minas dos Carris e faltava percorrer os quase 10 km do Vale do Alto Homem.

Algumas imagens do dia...












































Fotografia: © Rui C. Barbosa

1 comentário:

couvegalega disse...

Este blog faz-me suspirar e crescer em mim o desejo de voltar às origens. Obrigada por estes pequenos escapes no meu actual dia-a-dia citadino.