terça-feira, 29 de junho de 2010

Descrevendo as paisagens geresianas.

Carris, 20 de Novembro de 1951

O seguinte texto foi escrito por uma equipa da Circunscrição Mineira do Norte que em Novembro de 1951 fez um novo reconhecimento da concessão mineira da Corga das Negras n.º 1.

Para lá dos homens e da sua linearidade metemática e técnica, está uma descrição da Serra do Gerês que sem dúvida é familiar para muitos de nós:

"Está-se em plenas alturas geresianas, a altitudes entre 1250 e 1450 metros da nossa serra mais rude e áspera. Granitos em caprichosos e gigantescos afloramentos sucedem-se numa avalanche de múltiplas e variadíssimas feições topográficas, com ascendência característica da serra com profundas e íngremes ladeiras, encaixando tortuosos ribeirinhos, separados por altos picos. Por toda a parte uma vastidão de fantásticos blocos rochosos ora irregularmente distribuídos por altos e ladeiras, ora como que metodicamente sobrepostos simulando ciclópicos muros de insuperável protecção a baixios, por onde irrequietas e velozes águas se escapam a caminho de sossegadas regiões. Quando a erosão forçou à deposição de espessos depósitos nos baixios, constitui-se o que lá se chama “lamas” (extremamente frio, com neves mais ou menos duradouras). A este conjunto desolador acrescenta-se o imenso e profundo silêncio da inactividade, da quasi total esterilidade nestas alturas onde em extensas áreas não existe uma árvore nem se vê uma ave.


Paira o nada, mas numa leveza e subtilidade tais, que não nos suscita impressão de pequenez ou insignificância, pelo contrário, a paisagem é tão bela no seu conjunto, esbatido em profundas extensões, que nos dá a impressão de estarmos num maravilho (embora tosco) pedestal, denominado, em soberbo miradouro, este cantinho de Portugal."

Fotografia © Rui C. Barbosa

1 comentário:

Rodrigo Oliveira disse...

Excelente!
Mas que texto fantástico. Parabéns pelo trabalho de pesquisa.

"Paira o nada, mas numa leveza e subtilidade tais, que não nos suscita impressão de pequenez ou insignificância ..."

É precisamente este "nada" que constitui a verdadeira magnitude deste "... cantinho de Portugal"